O que é a flora intestinal e por que ela é importante para a saúde?
Ter um intestino que funciona bem é muito importante para a saúde —e os benefícios não se limitam apenas ao sistema digestório e são para o corpo todo.
O intestino é fundamental para modular as reações do sistema imunológico e participa da produção de neurotransmissores importantes para a nossa saúde mental, como a serotonina —que é produzida quase que exclusivamente no órgão e regula nosso humor, entre outras funções.
Não à toa, há alguns anos, após diversos estudos, o intestino passou a ser chamado de "segundo cérebro", tamanha sua importância para o equilíbrio e funcionamento do metabolismo como um todo.
E, para trabalhar corretamente, o órgão depende basicamente do equilíbrio dos trilhares de micro-organismos que vivem nele —são cerca de 39 trilhões, de acordo com um estudo.
Esse conjunto de seres vivos, a maior parte deles bactérias que ajudam a regular todas as funções do órgão, é a microbiota intestinal, anteriormente chamada de flora intestinal.
Flora intestinal e microbiota são a mesma coisa?
A questão dos nomes é basicamente técnica: até o século 19, as bactérias eram classificadas pela Biologia como plantas. Só ganharam um reino próprio a partir de 1866.
Antes disso, como "plantas" que eram, as bactérias foram comumente agrupadas em "floras". Embora tenha ficado popular e seja usado até hoje, o termo "flora intestinal" não é o mais adequado e os médicos e especialistas chamam o conjunto de micro-organismos que vivem em alguma parte do corpo (como no intestino) de microbiota.
Qual a função da microbiota intestinal?
Absorção de nutrientes
Basicamente, a microbiota intestinal trabalha para que o intestino desempenhe suas funções corretamente.
Isso inclui a absorção de nutrientes, como as vitaminas A, C, D e do complexo B, captadas justamente no intestino.
O minerais ferro, cálcio, zinco e magnésio são outros nutrientes importantes que também são absorvidos com o auxílio da microbiota.
Modulação da imunidade
Em um estudo publicado na Nature, os pesquisadores apontaram que o desequilíbrio de bactérias no intestino poderia provocar uma ativação errada das defesas do corpo, gerando uma resposta inflamatória que poderia predispor a doenças como obesidade, câncer e problemas cardiovasculares.
Outro ponto é que as vitamina D e C e o zinco, nutrientes importantes para fortalecer as células de defesa do corpo, são absorvidos no intestino.
Saúde mental
A ciência tem descoberto cada vez mais dados que ligam a qualidade da microbiota intestinal (ou seja, a quantidade de bactérias "do bem") ao equilíbrio mental.
É que o intestino produz mais de 90% da serotonina do corpo. Esse neurotransmissor está ligado às sensações de satisfação e bem-estar e ajuda a regular o nosso humor.
Outros neurotransmissores associados a essas mesmas funções são fabricados no intestino, como a noradrenalina e a dopamina.
Por isso, não é exagero dizer que uma microbiota intestinal saudável ajuda a reduzir o risco de problemas como ansiedade, depressão e compulsão alimentar, além de favorecer a cognição e a capacidade intelectual.
O que uma microbiota desregulada pode causar?
A desregulação da microbiota é chamada de disbiose e ocorre quando as bactérias "do mal", que aumentam o risco de inflamações crônicas e, em grande quantidade no organismo, têm potencial para causarem doenças, proliferam e ficam em maior quantidade do que as bactérias "do bem".
Em excesso, esses micro-organismos "ruins" podem aumentar a produção de substâncias tóxicas no corpo —o suficiente para alterar a microbiota de outras partes, como da pele e das mucosas.
Para se ter uma ideia, alguns estudos já relacionam a disbiose intestinal em mulheres aos casos de candidíase de repetição —já que a Candida, o fungo causador da doença, é um dos micro-organismos que acaba se reproduzindo demais no intestino quando existe um desequilíbrio na microbiota.
O que prejudica a microbiota intestinal?
O principal fator que estimula a disbiose é a má alimentação, ou seja, um cardápio rico em açúcares, gorduras, sódio e tantos outros aditivos químicos presentes especialmente em alimentos ultraprocessados.
Mas não é só isso. Em outras situações, a microbiota intestinal pode ser afetada por:
- Intoxicação alimentar ou virose com diarreia;
- Estresse crônico;
- Prisão de ventre;
- Uso de antibióticos com frequência;
- Doenças crônicas intestinais, como síndrome do intestino irritável, doença inflamatória intestinal e retocolite ulcerativa.
Por isso, a recomendação é buscar ajuda médica especializada ao sentir frequentemente qualquer desconforto digestivo ou problema intestinal (diarreia, prisão de ventre, excesso de gases).
Como manter a microbiota saudável
- Ter uma alimentação saudável, repleta de alimentos naturais (verduras, legumes, frutas, castanhas, carnes, ovo, laticínios);
- Caprichar na ingestão de fibras, que alimentam as tais "bactérias do bem";
- Consumir alimentos que oferecem bactérias boas para o intestino, como o iogurte, leite fermentado, kefir.
- Evitar o consumo de alimentos ultraprocessados;
- Reduzir a ingestão de álcool;
- Não fumar;
- Beber pelo menos dois litros de água por dia;
- Praticar atividade física de forma regular;
- Dormir bem e gerenciar o estresse.
Fontes: Antônio Gomes da Silva Filho, gastroenterologista da rede de clínicas AmorSaúde, associadas ao Cartão de Todos, na unidade de Paranamirim, Rio Grande do Norte; Maria de Lourdes Teixeira, médica coordenadora da Equipe Multiprofissional de Terapia Nutricional da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo; Zuleica Bortoli, médica gastroenterologista, coordenadora do Nedic (Núcleo Especializado em Doenças Intestinais Complexas) do Hospital Brasília, no Distrito Federal.
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