Além da estética, ácido hialurônico tem benefícios para as articulações
O ácido hialurônico (AH) é geralmente associado a cuidados estéticos, sendo um dos itens mais buscados quando o assunto é rejuvenescimento do rosto. Ele pode ser aplicado sob a pele, está presente em xampus, cremes faciais e corporais. Mas o que talvez pouca gente saiba é que ele também pode ser usado para tratar problemas nas articulações.
A substância é naturalmente produzida pelo corpo humano e de animais, com a função de hidratar as células, preencher os espaços entre elas e sustentar os tecidos internos da pele.
Nas articulações, o ácido hialurônico está no líquido sinovial, responsável pela lubrificação e redução dos atritos entre um osso e outro.
Com o passar dos anos, o organismo reduz a produção de AH e, consequentemente, a hidratação e elasticidade da pele também decaem. Outro resultado é a diminuição da espessura da cartilagem, o que deixa a pessoa mais vulnerável a traumas articulares.
Para corrigir as consequências desse desgaste nas articulações, a depender do caso, o ácido hialurônico age para melhorar a qualidade do líquido sinovial, incrementar a lubrificação e reduzir a dor.
"O ácido hialurônico funciona como um suplemento nutricional da cartilagem", diz o ortopedista e médico do esporte André Pedrinelli, diretor da SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia). Segundo ele, a substância não recupera lesões anteriores, mas pode ter efeitos futuros, teoricamente.
"Teoricamente" porque a aplicação de ácido hialurônico —chamada infiltração ou viscossuplementação de AH— não é uma simples reposição. Precisa de indicação específica, dentro de um contexto que inclui outros tratamentos.
Além disso, não há consenso na literatura científica mundial sobre os efeitos do produto para tratamento das articulações.
O que diz a ciência
Alguns estudos indicam que pode funcionar, mas com ressalvas. Revisões publicadas pela Cochrane Library, que analisa pesquisas na área da saúde, suportam o uso do ácido hialurônico para osteoartrite de joelho, com benefícios na dor, função e avaliação geral do paciente.
Porém, os resultados variam conforme o tipo de produto utilizado e tempo de uso, por exemplo. Outro limitador é o tamanho da amostra dos estudos (número de participantes), que "impede qualquer comentário definitivo sobre a segurança da classe de produtos" —embora não tenham sido identificados problemas de segurança importantes.
Já uma revisão sobre a aplicação para osteoartrite de tornozelo fala na ausência de dados suficientes para criar uma "síntese das evidências". E como os estudos sobre as causas desse problema articular são diferentes, o que é recomendado para osteoartrite de quadril e joelho pode não funcionar para o tornozelo.
Estudos clínicos que comparam o ácido hialurônico com plasma rico em plaquetas e corticoides variam nos resultados, indicando melhor resposta de uma ou outra substância, mas sem conclusões firmes.
No Brasil, existem consensos do uso do AH para tratar artrose de quadril e de joelhos, de leve a moderado.
Nesses casos, o ácido hialurônico:
Não deve ser utilizado como tratamento isolado, mas em conjunto com outras medidas farmacológicas e de reabilitação.
Tem efeito analgésico, anti-inflamatório e condroprotetor (proteção da cartilagem).
É um procedimento custo-efetivo.
Os resultados também dependem do tipo de AH utilizado: se mais fluido —com frequência maior de aplicação— ou mais denso, que precisará de menos aplicações.
"São as propriedades profiláticas que determinam a frequência com que se deve aplicar em cada paciente e qual o melhor para cada pessoa", diz a pesquisadora Márcia Uchôa de Rezende, do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP).
Ácido hialurônico nas articulações: quando usar?
A indicação depende do tipo de lesão que a pessoa sofre, mas, de modo geral, a substância pode ser aplicada em casos leves, quando há pouco desgaste articular, explica Pedrinelli. As circunstâncias para uso do AH, segundo Rezende, são:
No início de lesões cartilaginosas, retardando a perda de cartilagem;
Na artrose um pouco mais séria;
Em alguns casos de artrose grave, quando a pessoa não quer ou não pode ser operada. Nesse caso, o AH age mais para melhorar a qualidade de vida, reduzindo as dores que comprometem o sono e a rotina do indivíduo. Aqui, não há efeito protetor da cartilagem.
Funciona em todas as articulações?
A princípio, o AH pode ser aplicado em qualquer articulação, mas demonstra melhor efeito nas regiões que recebem mais carga, como joelho, quadril e tornozelo. Nesse sentido, ele também pode ser usado na região temporomandibular.
"No deslocamento de disco, quando há estalidos ou a mandíbula trava e tem dor associada, tem indicação de ácido hialurônico", explica Hellíada Chaves, professora do curso de odontologia da UFC (Universidade Federal do Ceará), campus Sobral, e coordenadora do Nepdor (Núcleo de Estudos e Pesquisas em Dor Orofacial).
A pesquisadora ressalta que, antes da indicação de qualquer tratamento, é preciso fazer uma investigação muito bem detalhada para chegar a um diagnóstico preciso da DTM (disfunção temporomandibular). É necessário entender os hábitos de vida do paciente, tipo de dor e qualidade do sono, por exemplo.
A DTM envolve tanto problemas articulares quanto musculares, geralmente as duas em conjunto. Algumas situações que levam ao quadro são:
- Grandes traumas;
- Bruxismo;
- Alterações do sono;
- Doenças sistêmicas, como artrite reumatoide;
- Condições genéticas ou psicológicas (estresse, ansiedade, depressão).
Na DTM, o produto pode ser aplicado isoladamente ou em conjunto com outras terapias, que inclui conscientização do paciente sobre a dor, uso de placa oclusal (se houver bruxismo) e exercícios mandibulares.
Como é a aplicação?
Trata-se de uma injeção de ácido hialurônico na articulação;
No consultório, sob condições estéreis, é feita uma assepsia do local da aplicação;
É usada anestesia local para dar mais conforto ao procedimento;
Uma única aplicação é feita na articulação a ser tratada;
Todo o procedimento dura cerca de cinco minutos.
Depois do procedimento, a pessoa pode ficar com algum hematoma no local da injeção e inchaço temporários.
Há riscos no procedimento?
Rezende comenta que, em poucos casos, pode haver um processo inflamatório após a injeção, "quase uma reação imunoalérgica". A solução nesses casos é medicar com corticoide e antialérgico.
Há risco em qualquer articulação, mas com a técnica bem feita, estéril, a probabilidade é muito pequena. Márcia Uchôa de Rezende
Como proteger as articulações?
A infiltração de ácido hialurônico não é a primeira opção de tratamento articular nem é indicada isoladamente. Antes de partir para a substância, há outras formas de cuidar das articulações do corpo, como:
- Manter uma alimentação balanceada e saudável;
- Praticar atividades físicas, que melhoram a qualidade do líquido sinovial;
- Se hidratar bem para impedir a progressão da perda de água dos tecidos, comum ao processo biológico;
- Fazer fisioterapia;
- Usar palmilhas específicas.
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