Fotos de Marília Mendonça: por que pessoas vão atrás de imagens mórbidas?
Fotos da autópsia de Marília Mendonça vazaram em grupos de WhatsApp. As imagens são exclusivas do inquérito policial que investiga a morte da cantora, em novembro de 2021.
Em nota divulgada pela equipe da artista, o advogado da família manifestou indignação e disse que a mãe de Marília pede respeito e empatia.
Por que há interesse por imagens mórbidas?
Casos de acidentes, mortes, crimes e ataques violentos costumam despertar o interesse das pessoas. E mesmo incorrendo em crime —o vilipêndio de cadáver—, o compartilhamento de imagens de tragédias é comum.
A atitude independe do contexto: seja porque a vítima é uma personalidade e gera comoção nacional ou porque o fato ocorreu em ambiente rotineiro, como os recentes ataques em escolas.
Por vezes, há uma sensação de incredulidade e, num movimento de confirmar o ocorrido, surge a curiosidade. Em outros casos, há um sentimento de proximidade da vítima, mas a mobilização afetiva leva ao desejo negativo de ver e compartilhar imagens para "fazer parte" do acontecimento.
Interesse mórbido busca respostas
O psicanalista Leonardo Goldberg, doutor em psicologia pela USP, conta que o imaginário e a arte medieval representaram de forma bastante direta a faceta de uma curiosidade sobre a morte.
E como a morte é uma espécie de mistério —porque ninguém que a experimentou conseguiria dizer como foi—, só é possível ter indícios desse fato a partir da morte de outra pessoa.
"Quando a personalidade é nacional, há angústia diante de uma ideia que no cotidiano tentamos ignorar, a de que um dia iremos morrer", diz o especialista. Nesse sentido, há um esforço maior para encontrar uma razão para a morte: azar, saúde, contexto.
"E, entendendo essa razão, eu poderia me proteger da ideia da minha própria morte", expõe Goldberg.
Internet amplifica curiosidade
O psicanalista é autor do livro Das Tumbas às Redes Sociais - Um Estudo sobre a Morte e o Luto na Contemporaneidade. Em seus estudos sobre o tema, ele descobriu sites e páginas em redes sociais voltadas a imagens da morte, comportamento que chamou de voyeurismo da morte.
Segundo Goldberg, há um certo prazer nessa apreensão visual da morte, por meio de fotos e vídeos que permanecem por muito tempo e são facilmente acessíveis.
Esquadrinhar e racionalizar a morte de outro serve como anteparo para eu me angustiar menos com a possibilidade da minha própria morte. Há uma função nisso. Leonardo Goldberg, psicanalista e doutor em psicologia pela USP
O caso de Marília Mendonça ilustra esse comportamento desde o dia da morte da cantora. Imagens do corpo dela sendo retirado do avião se espalharam nas redes sociais antes mesmo da confirmação oficial da morte.
Goldberg lembra que, no digital, há um colapso entre o que é público e o que é privado, além de haver falhas de proteção de dados. Por isso, a internet torna-se um meio para esmiuçar a morte do outro ao mesmo tempo que simplifica e amplifica a curiosidade por imagens mórbidas.
Além de ser crime, essas atitudes trazem impactos imensuráveis. "Como não há vítima do crime, pois não há mais o sujeito, o bem lesado é a memória, a lembrança e o respeito", completa o especialista.
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