'Perdi meus dentes aos 16': como implante mudou a vida e o sorriso de Luci
"Antigamente, não tínhamos o hábito de tratar os dentes. Com qualquer dor de dente, nós íamos ao dentista para retirá-los."
A declaração é da trabalhadora doméstica Luci Ferrari, 60, que vive em Porto Feliz, no interior de São Paulo. Desde os 16 anos, ela usava uma prótese (ou dentadura) para substituir os dentes —só restaram três na parte de baixo.
Na época, Luci recorda que era comum sentir alguma dor e já ir ao dentista para remover o dente —o que ainda é realidade para muitos brasileiros. Foram tantos anos de desconforto para mastigar e até sorrir que ela resolveu procurar ajuda de dentistas já mais velha.
"Sofri muito. Passei em vários lugares, mas ninguém dava uma luz. Diziam que eu nunca poderia fazer um implante por causa dos ossos da boca", conta.
Mas uma amiga dela deu uma ideia: havia um local na cidade que estava oferecendo o serviço de implante gratuitamente —para os alunos da faculdade aprenderem as técnicas com auxílio dos professores.
Foi neste momento, há cerca de 2 anos, que Luci iniciou o tão sonhado tratamento. Foram idas e vindas até o consultório, além de cirurgias, até ter o sorriso completo.
Mas todo o esforço teve sua recompensa. Quando o implante foi finalizado, a trabalhadora doméstica se sentiu " a mulher mais feliz do mundo". "Nem dor eu sentia, era o sonho da minha vida", lembra.
Entre outros benefícios, ela cita a melhora na autoestima e a facilidade para mastigar —a dentadura dificulta o movimento "ideal" dos ossos.
Hoje posso sorrir sem me preocupar se a prótese vai cair. Usava Corega [produto para fixação de dentaduras] e mesmo assim ela caía. Também posso comer tudo. Não tem nada mais maravilhoso do que poder fazer isso. Luci Ferrari
"Agora posso ir a restaurantes e sair, sem sentir vergonha. Com os dentes lindos, estou muito mais feliz", diz.
Como funciona o implante
Trata-se da colocação de um parafuso no local que abrigaria a raiz do dente.
Antes da cirurgia, há um planejamento realizado pelo dentista —parte fundamental do tratamento.
Nele, o especialista consegue alinhar com o paciente tanto questões estéticas (tamanho dos dentes) quanto as partes funcionais (mastigação, ossos).
Os "novos" dentes inseridos são próteses (como as coroas dentárias) e podem ter diversos materiais.
Alguns pacientes com problemas graves de saúde, como tumor ósseo, não podem passar pelo procedimento. Há medicamentos "fortes" que também podem impedir a cirurgia. A saúde precisa estar "em dia".
Hoje, há um apelo estético muito grande, mas o implante dentário é saúde e qualidade de vida. Saúde bucal não é só sobre estética, mas também sobre a função mastigatória. Isso é o mais importante. Sumaia Zoghbi, implantodontista e secretária da Câmara Técnica de Implantondontia do Crosp (Conselho Regional de Odontologia de São Paulo)
Enxerto, recuperação e cuidados
Enxerto: antes de fazer o implante dentário, os especialistas analisam a condição dos ossos da boca para saber se eles são suficientes para "aguentar" as novas "raízes" (parafusos). Luci, por exemplo, precisou do enxerto na parte posterior.
"Os ossos só ficam ativos quando têm uma função. Basta imaginar aquela pessoa que precisou engessar as pernas e, ao retirar o gesso, elas estão mais finas. O mesmo ocorre com os ossos. Em situações assim, a recuperação pode demorar mais", Zoghbi.
Recuperação: depende de quantos dentes são implantados. Atualmente, os dentistas garantem que o pós-operatório está melhor em relação aos últimos anos. Geralmente, o paciente volta às atividades diárias entre 3 e 7 dias.
Remédios: para auxiliar com as dores e inchaços na região, o paciente deve tomar anti-inflamatórios. Já os antibióticos são importantes para evitar infecções. A higienização dos dentes é fundamental durante a recuperação.
Luci também sabe que, agora, com o novo sorriso, os cuidados são para o resto da vida: "Tem que fazer uma escovação bem-feita, com fio dental e cuidar bastante."
SUS oferece serviço, mas depende de burocracia
De acordo com os médicos consultados por VivaBem, atualmente, os valores dos implantes são mais acessíveis, além de ter mais variação entre os profissionais. Os preços dependem de cada caso: quanto mais dentes, mais caro.
"O que costuma encarecer são os enxertos e quando a pessoa necessita de dentes na boca toda. Mesmo assim, é possível encontrar formas de parcelar, desde que seja com um profissional sério", fala a implantodontista.
Jamil Shibli, dentista e professor da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da USP, dá outras sugestões:
"Existem alguns projetos dentro de universidades que, mesmo sem ser totalmente gratuitos, oferecem tratamentos mais em conta. A ideia é treinar o profissional para que ele seja especialista", explica o também professor de pós-graduação das áreas de periodontia e implantodontia na UnG (Universidade Guarulhos), em SP, e fundador da Plenum.
Há ainda a possibilidade de procurar o serviço gratuito pelo SUS, por meio do programa "Brasil Sorridente" —o que, talvez, tenha uma fila de espera ou burocracia.
Segundo o Ministério da Saúde, os tratamentos são realizados nos CEOs (Centros de Especialidades Odontológicas) e, "para ofertar os serviços elencados, é necessário que o gestor municipal envie um ofício à Coordenação-Geral de Saúde Bucal, solicitando essa ação."
Quem não consegue mastigar, se alimenta de maneira errada, pois não mastiga e digere o alimento direito, principalmente os vegetais que têm textura mais 'forte'. Essa pessoa acaba optando por massas, carboidratos, que são substâncias mais calóricas, e as consequências são diversas. Jamil Shibli, dentista
Uso de dentaduras podem trazer consequências à saúde
Apesar de ser inacessível para muitos brasileiros, é importante salientar que o uso de próteses, a longo prazo, pode causar diversos problemas, como:
- Prejudicar a eficiência mastigatória
- Gerar ou agravar atrofia óssea
- Atrapalhar na alimentação
- Afetar autoestima.
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