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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


O que é inflamação no pericárdio, que causou morte de narradora aos 24 anos

Cecília Moraes, a Clarity, morreu aos 24 anos - Reprodução/Instagram
Cecília Moraes, a Clarity, morreu aos 24 anos Imagem: Reprodução/Instagram

Do VivaBem, em São Paulo

17/04/2023 16h58

A narradora de e-sports Cecília Moraes, conhecida como Clarity, morreu na quinta-feira (13), aos 24 anos, após uma inflamação no pericárdio, membrana que envolve o coração.

Ao UOL Esporte, a mãe de Clarity, Rosi, contou que a filha começou a sentir dor no peito e nas costas. Ela fez raio-x, eletrocardiograma e exame de sangue em uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) na capital paulista, e os testes não acusaram alterações. Depois, voltou a Santa Catarina e teve sintomas de gripe: nariz congestionado e febre.

"Na quarta-feira (12), ela me chamou no quarto e falou que estava passando mal. Quando entrei, ela estava realmente se sentindo mal. Levei ela para o hospital da Unimed e lá ela foi atendida imediatamente. Nos exames, não tinha nenhuma alteração importante. As plaquetas estavam um pouco baixas e a glicose um pouco alta, mas nada alarmante. Ela fez soro e viemos para casa de tarde", contou Rosi.

Na quarta à noite, Clarity voltou a se sentir mal. Foi levada de novo ao hospital e, no caminho, vomitou, desmaiou e teve uma convulsão. A jovem foi diagnosticada com sepse (infecção generalizada) e morreu no dia seguinte. Ela precisou fazer uma cirurgia de emergência para drenar o líquido do coração.

Quando chegamos no hospital, por volta de 7h30 [do dia 13], o médico da UTI disse que ela ficou 16 minutos em parada cardíaca. Ela precisou passar por uma cirurgia de emergência porque tinha uma inflamação no pericárdio. É uma doença silenciosa que não é fácil de diagnosticar, principalmente por ela ser jovem e ser saudável. A Cecília nunca ficou doente: só tinha amigdalite e gripe. Rosi, mãe de Clarity, ao UOL Esporte

O que é a inflamação do pericárdio?

O coração tem três camadas: endocárdio (camada de dentro), miocárdio (músculo do coração) e pericárdio (membrana que envolve o órgão).

O pericárdio é composto por dois folhetos, como se fossem "pelinhas". As estruturas permitem a expansão e retração dos batimentos.

Essa membrana pode inchar e ficar irritada, causando inflamação (também chamada de pericardite).

O pericárdio inflama e isso acaba produzindo um líquido, que fica dentro do que chamamos de saco pericárdico. Essa quantidade de líquido dificulta o batimento correto do coração. Edmo Atique Gabriel, cardiologista e colunista de VivaBem

A inflamação pode acontecer:

Pós-infecção viral (uma das mais comuns);

Pós-infecção bacteriana;

Pós-infecção parasitária (menos frequente);

Pós-tratamento oncológico;

Pós-trauma na região;

Pós-infarto.

Há casos de infecções concomitantes, como viral e bacteriana. E ainda aquelas em que não é possível encontrar a causa da pericardite (são os quadros idiopáticos da doença).

As inflamações do pericárdio "não são raríssimas, mas são pouco frequentes", descreve a cardiologista Paola Emanuela Smanio, do Fleury Medicina e Saúde.

Quais são os sintomas?

Na fase mais inicial, os sintomas são brandos. Com o avanço, é comum ter:

  • Febre de origem indeterminada;
  • Tosse seca;
  • Dor torácica que pode ser confundida com infarto;
  • Dor que piora ao deitar e melhora ao sentar com o tórax projetado para frente;
  • Falta de ar;
  • Cansaço e falta de fôlego;
  • Dor no peito que irradia para o trapézio e ombro;
  • Falta de ânimo para fazer qualquer coisa.

Diagnóstico exige atenção aos sintomas

O médico precisa ouvir o coração do paciente para desconfiar da inflamação. É assim que se descobre o problema, na maioria das vezes.

Há um barulho chamado atrito pericárdico, como se estivessem duas folhas raspando. O médico vai perceber um abafamento, porque muito líquido impede o som normal dos batimentos de aparecer. Paola Emanuela Smanio, cardiologista

Também é possível fazer:

  • Raio-x de tórax: mostra o acúmulo de líquido envolvendo o pericárdio;
  • Ecocardiograma: funciona como um ultrassom do coração e mostra o acúmulo de líquido.

"O que precisa mesmo é o médico usar o estetoscópio para ouvir e pensar. Ver histórico viral daquele paciente e entender se fez repouso ou não, por exemplo", explica Smanio.

Tratamento e risco de complicações

Ao tratar, é preciso aliar analgésicos e anti-inflamatórios.

Dependendo da gravidade, há uso de corticoides.

Quando a causa é bacteriana, também inclui antibiótico.

Boa parte dos pacientes fica bem em um intervalo de até 15 dias. No entanto, é preciso seguir o repouso à risca para o corpo se fortalecer e combater o processo inflamatório por completo.

Risco de complicação existe. Sobretudo se o quadro avançar sem tratamento adequado, o acúmulo de líquido prejudica o funcionamento cardíaco, impedindo o coração de expandir e contrair.

Há risco de tamponamento, quando o volume pressiona o músculo, e de se formar uma "couraça", camada resistente que limita o espaço de contração do órgão. Complicações desse tipo exigem intervenções como a punção, para drenar líquido, e a retirada dessa capa fibrosa que se forma.

Mas isso é raro e acontece principalmente em pessoas com baixa imunidade, diz Smanio. "O tratamento clínico adequado é suficiente, se a pessoa está bem de saúde", afirma.

Sepse, como aconteceu com a narradora Clarity, é um risco possível em qualquer tipo de infecção bacteriana. O quadro generalizado é resposta ao avanço de uma bactéria mal tratada, ou resultado de infecção secundária pelo enfraquecimento do organismo.