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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Pessoas com ansiedade dizem o que ajuda no momento de crise e como evitá-la

Sinomara Laronga encontrou no crochê um alívio - Arquivo pessoal
Sinomara Laronga encontrou no crochê um alívio Imagem: Arquivo pessoal

Ivy Garcia

Colaboração para o VivaBem

18/04/2023 04h00

Falta de ar, tonturas, palpitação e medo. A crise de ansiedade traz sintomas difíceis, mas que passam após um breve período. Como cada um lida com a crise e o que faz para aliviá-la são táticas muito pessoais, mas que podem ter uma explicação científica por trás.

A seguir, veja relatos de quem convive com crises de ansiedade e a explicação que especialistas dão para que essas táticas funcionem.

"Quando vou entrar em crise, começo um novo crochê"

Passei a conviver com as crises de ansiedade logo após o término de um relacionamento. Aos 28 anos, perdi completamente a visão, o que me deixou ainda pior. Comecei a fazer crochê e encontrei o alívio para a ansiedade, uma verdadeira terapia. Apesar de eu não enxergar absolutamente nada, eu tenho a sensibilidade dos dedos. Ficar concentrada para fazer ponto a ponto me traz uma sensação de paz. Fiz cursos e aprimorei as técnicas, hoje quando percebo que vou entrar em crise, ligo para um amigo, me distraio e começo um novo crochê. Sinomara Laronga, 43, operadora de telemarketing, de São Paulo (SP)

Segundo a psiquiatra Ana Paula Carvalho, atividades como pintura, dança e costura são algumas das coisas que proporcionam a sensação de bem-estar.

Abra espaço para um hobby. Todos os dias separe um momento para você fazer algo que realmente goste.

Mas escolha algo que não vá fazer mal. "Não adianta, por exemplo, maratonar filmes e séries, porque o sedentarismo também está associado ao aumento da ansiedade. Leia um livro, encontre com amigos, faça uma comida diferente, medite", explica Carvalho.

"Descobri que segurar gelo pode aliviar"

O gelo que me ajuda na hora da crise. Eu descobri, através de mídias sociais, que segurar gelo poderia aliviar. Eu consigo controlar os meus pensamentos e mudo completamente o foco para o gelo: me preocupo se está escorrendo a água, fico observando e com isso me acalmo. Milena Moreira, 36, administradora, de São Paulo (SP)

Durante a crise, é importante criar estratégias e ferramentas que ajudem a mudar o foco do pensamento e, com isso, aliviar a percepção de sofrimento que a ansiedade traz.

Para o psiquiatra Humberto Müller, neste caso, o gelo fará com que a pessoa desloque a atenção da crise, através da observação e da percepção tátil, o que pode ativar os receptores específicos que aliviam os sintomas ansiosos.

"A bebida era um gatilho"

Comecei a notar depois de algum tempo que bebida alcoólica não aliviava, pelo contrário, era um gatilho para as crises que surgiam na sequência. Conversei com meu terapeuta e ele me apresentou livros que me ajudaram na compreensão do que estava acontecendo com meu corpo. Comecei a cursar faculdade de psicologia e aceitei que 'sou normal' e que tenho uma condição, que talvez me acompanhe a vida inteira. Carl Hood, 38, estudante de psicologia, de Dublin, Irlanda

De acordo com a psicóloga Liliana Seger, é frequente que as pessoas que sofrem com o transtorno de ansiedade busquem atividades que proporcionem prazer imediato.

Entretanto, é crucial buscar apoio psicológico para tratar o problema de forma adequada, em vez de apenas aliviar sintomas momentâneos.

Geralmente, quem recorre ao consumo de álcool como forma de acalmar ou de relaxar adquire um problema ainda maior. Ou seja, é melhor evitar o álcool quando sentir que a crise está vindo.

Adriana Rocha - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Adriana Rocha diz que alimentação é importante no controle das crises
Imagem: Arquivo pessoal

"Fujo dos [alimentos] refinados"

Mesmo fazendo uso de medicação controlada, estou o tempo todo atenta a minha alimentação, porque consigo perceber o quanto ela interfere no meu bem-estar e pode ser gatilho para as crises. Fujo dos refinados e dou preferência para as saladas, os legumes e até mesmo os chás, que hoje fazem parte do meu cotidiano. Adriana Rocha, 38, psicóloga, de São José dos Campos (SP)

A alimentação tem relação com a ansiedade.

Existe comprovação científica de que modificar a microbiota intestinal aumenta a inflamação do nosso corpo e, consequentemente, os quadros de ansiedade e depressão.

É importante dar preferência para as "comidas de verdade", como arroz com feijão, legumes e verduras.

Guilherme Valenga - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Exercício físico ajuda Guilherme Valenga a driblar ansiedade
Imagem: Arquivo pessoal

"É uma terapia fazer musculação e aeróbico"

Comecei devagar, dando voltas em um parque. Percebi o quanto me fazia bem e aumentei o ritmo. A atividade física me trouxe muitos benefícios e me motivou a cursar educação física. Hoje, é uma terapia fazer musculação e aeróbico cinco vezes na semana e dar aulas. Foi a melhor maneira que encontrei para driblar as crises de ansiedade. Mas também busquei ajuda profissional e faço terapia. Guilherme Valenga, 25, DJ, de São Paulo (SP)

A prática da atividade física auxilia na prevenção e combate dos sintomas afetivos e ansiosos.

Estudos mostram que exercícios podem ser eleitos como monoterapia (tratamento único) em quadros ansiosos leves a moderados.

Faça caminhadas e se exponha ao sol nas primeiras horas do dia.

Desacelere

Quando a ansiedade sai do controle significa que o corpo está mandando um alerta. É hora de parar tudo e reorganizar. Observe e ouça o seu corpo para compreender quais mudanças no seu cotidiano irão trazer benefícios para a sua vida como um todo.

Cuide dos seus pensamentos;

Controle a respiração sempre;

Atente-se a sua alimentação diariamente;

Pratique atividade física;

Comece um processo terapêutico;

Escreva. Divida as listas em: o que é urgente, o que não é urgente, o que de fato importa e o que pode e deve esperar.

O que fazer quando um amigo tiver uma crise de ansiedade perto de você?

É preciso ter empatia, ou seja, colocar-se no lugar de quem está na crise.

O acompanhante pode ter papel fundamental, conseguindo ofertar conforto e cuidado a quem sofre.

Fontes: Ana Paula Carvalho, psiquiatra e mestre pela Escola Paulista de Medicina de São Paulo, Humberto Müller, psiquiatra e professor de psiquiatria na Uninassau, em Cacoal - RO; Liliana Seger, psicóloga e doutora pelo Instituto de Psicologia da USP.