Atraso na vacinação infantil é motivado por falta de tempo e informação
A cobertura vacinal de todos os imunizantes vem caindo no Brasil desde 2015, mas quando se fala de crianças, o dado é mais preocupante. Em apenas três anos, a taxa de vacinação infantil caiu de 93,1% em 2019 para 71,49% em 2021, segundo o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância).
Isso representa três em cada dez crianças que não receberam a proteção necessária contra doenças potencialmente fatais e que podem ser prevenidas.
Entre os principais motivos para o cenário estão:
- Falta de informação da população
- Horário limitado dos postos de saúde
- Desinformação (notícias falsas)
O resultado é que 66% das mães brasileiras afirmam que já atrasaram a vacinação dos filhos ou deixaram de imunizá-los por essas razões, aponta uma pesquisa do Instituto Locomotiva a pedido da Pfizer, divulgada hoje.
Falta de tempo, distância entre a residência e o local da aplicação, perda da carteirinha ou dificuldades para se lembrar das datas das doses são outros fatores. A pesquisa ouviu 2.000 mães de crianças e adolescentes com idade até 15 anos.
Vacinas: falta de informação e desinformação
- Para 68% das entrevistadas, é confuso entender o calendário vacinal.
- 24% consideram elevado seu nível de conhecimento sobre vacinas.
Os dados indicam que há necessidade de fazer a informação chegar a mais pessoas.
No ano passado, o governo de Jair Bolsonaro cortou a verba destinada à propaganda da vacinação, o que reduziu a conscientização sobre a importância de se imunizar. Na gestão atual, o presidente Lula reforçou a figura nacional do Zé Gotinha e se vacinou publicamente contra a covid-19.
O crescente movimento antivacina, que ganhou destaque desde os primeiros estudos de imunizantes contra o coronavírus, também é um obstáculo para as famílias. Na pesquisa, 17% dizem que a falta de confiança nas vacinas atrapalha a vacinação infantil. Já 9% têm uma baixa percepção de risco das doenças e acabam dispensando a aplicação.
Barreiras ao acesso
O horário de funcionamento dos órgãos de saúde é apontado por 39% como um fator que desafia a vacinação, assim como a dificuldade para chegar aos locais de vacinação.
É que os estabelecimentos ficam abertos em horário comercial, no mesmo período em que os pais ou responsáveis da criança estão ausentes e não podem levá-las ao local.
E como a responsabilidade recai sobre as mulheres e mães na maioria das vezes, 56% delas confirmam que se esquecem das datas de vacinação devido à rotina atribulada.
As dificuldades de acesso ganham destaque entre mulheres negras, de baixa renda ou com filhos que estudam na rede pública de ensino. A região do país também determina a variação dos resultados.
No geral, 35% dizem que já atrasaram a vacinação dos filhos ou deixaram de imunizá-los por residirem longe do local de vacinação.
A taxa sobe para 41% entre aquelas das classes D e E, chegando a 51% na região Norte.
51% das mães residentes no Norte do país já deixaram de ir ao trabalho um dia para levar a criança para se vacinar, enquanto o percentual é de 45% na amostra geral.
Sobre as vacinas, 52% das mães das classes A e B consideram elevado seu conhecimento, enquanto 18% das mulheres de classes D e E têm a mesma percepção.
Caminhos para a mudança
O Ministério da Saúde preconiza uma taxa de cobertura vacinal de 95%. Entre as medidas que poderiam contribuir para esse patamar é a participação das escolas. Na pesquisa, 85% das mães acreditam que a taxa de vacinação infantil poderia ser maior se houvesse a possibilidade de vacinar as crianças na escola.
Ajuda para lembrar do calendário vacinal, praticidade e segurança são outros fatores que facilitariam o alcance da meta, caso os espaços escolares participassem.
No começo de fevereiro, o secretário de Saúde do estado de São Paulo disse que planeja fazer parcerias com municípios para levar a vacinação para dentro das escolas. O objetivo é combater a queda da cobertura vacinal.
"Estamos conversando com o secretário da Educação para aproveitar que as crianças estão voltando para utilizar a rede que a gente tem de professores, de associações de pais e mestres para levar essa informação para dentro das escolas. E convencer os municípios a não deixar só o posto", disse Eleuses Paiva.
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