Topo

Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Como saber se o tamanho do bebê é 'normal'? Percentil não é único parâmetro

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Do VivaBem, em São Paulo

21/04/2023 04h00

Quem gesta um bebê pode se preocupar em algum momento com o crescimento do feto: será que está muito pequeno? Será que está grande demais? Às vezes, o tamanho da barriga é usado como referência e frases como "sua barriga está grande/pequena para o tempo de gestação" são comuns.

Essa referência é até válida, mas precisa ser bem mensurada.

Antigamente, o que se fazia era medir o tamanho da barriga com fita métrica e relacionar com o tempo de gestação para ter ideia se o bebê estava com o tamanho adequado ou não.

A medida era tirada com a pessoa gestante deitada de costas, medindo a distância entre a borda superior da púbis e o topo do útero (parte de cima da barriga).

Porém, sem ultrassom precoce, ficava difícil estabelecer o tempo exato da gravidez, então nem sempre o que se achava ser um bebê pequeno ou grande para a idade gestacional era de fato.

Hoje em dia, a medida da barriga ainda é um dos métodos para rastrear bebês pequenos —desde que se saiba o tempo correto da gestação. A medição começa a ser feita entre a 16ª e 20ª semana.

A partir de estudos populacionais que definem as medidas mínimas, médias e máximas da barriga de acordo com a idade gestacional, é possível saber se aquele bebê está dentro do padrão ou não.

Outro parâmetro utilizado é o percentil fetal, que avalia o crescimento do feto a partir do peso dele em relação à idade gestacional. Numa escala de 0 a 100, espera-se que os bebês estejam no intervalo de 10 a 90, sendo 50 a média desejada; o que foge disso acende um sinal de alerta.

Bebês abaixo do percentil 10 são considerados PIG (pequenos para a idade gestacional).

Enquanto bebês acima do percentil 90 são GIG (grandes para a idade gestacional).

Mas nem tudo é escrito em pedra! Algumas considerações são importantes na hora de analisar o percentil fetal:

O percentil fetal é uma curva de crescimento baseada em estudos populacionais. Como há diversas populações com características diferentes, há variações em relação ao tamanho do neném e curvas variadas também. Não se poderia avaliar um bebê oriental, por exemplo, dentro de uma escala feita a partir da população americana.

Nem todo bebê "normal" tem percentil 50. Esse valor serve apenas para acompanhamento populacional. Quando se fala de fetos, cada um tem a própria velocidade de crescimento que deve ser considerada.

Estar dentro do percentil ideal pode ser arriscado em alguns casos. Pode ser grave se até as 16 semanas de gestação o bebê estiver no percentil 50 e cair para o percentil 20 na 24ª semana da gravidez. Mesmo estando no "padrão" (o intervalo entre 10 e 90), a queda brusca pode indicar um risco. O mesmo vale se houver um aumento do percentil 30 para o 80, por exemplo.

Outras medições precisam ser consideradas. A partir de 16 semanas, o crescimento do bebê é avaliado também pelas medidas da circunferência da cabeça, do abdome e do fêmur (osso da coxa), tiradas durante o exame de ultrassom.

"Às vezes, o peso do bebê não é tão grande, mas os ossos são longos e, por isso, ele está acima do percentil 90. Então, o bebê tem que ser proporcional aos pais", diz Gabriela Mattos Cabral de Souza, ginecologista e obstetra da Meu Doutor Novamed Recife.

O que é saudável e o que não é

"Estar abaixo do percentil 10 não necessariamente indica que o bebê esteja em perigo", diz a obstetra Bruna Pitaluga, de Brasília. Segundo ela, a estatura dos pais —se baixinhos ou muito altos— também influencia no tamanho do feto.

Cada feto tem um padrão de velocidade de crescimento. A partir de 16 semanas, esse nenê sofre poucas influências externas, e o crescimento dele é praticamente determinado pela genética. Bruna Pitaluga, obstetra

Um bebê que está abaixo do percentil 10 merece atenção especial, mas ele pode ser pequeno por dois fatores:

  • Ter potencial genético para ser pequeno, o que seria normal e classificado como pequeno constitucional.
  • Estar em déficit nutricional, o que é mais preocupante e caracteriza uma restrição de crescimento. Desnutrição materna é a causa mais comum nesses casos e independe de classe social da família.

"O mais perigoso é estar abaixo do percentil 3", alerta Souza. A médica explica que, para avaliar bem o que é saudável ou não, sempre se deve considerar a história da família, os exames e as consultas realizadas no pré-natal, além das ultrassonografias obstétricas.

Há risco, e agora?

Se o percentil abaixo de 10 ou acima de 90 representar um risco real, é preciso fazer acompanhamento semanal, orienta Wagner Rodrigues Hernandez, obstetra do Hospital e Maternidade Pro Matre Paulista.

Quando tem alteração placentária, vai precisar de atenção especial, às vezes internação ou o parto é necessário, porque o risco aumenta muito. Wagner Rodrigues Hernandez, obstetra

Ele explica que até o final do segundo trimestre de gestação, entre 26 e 28 semanas, os bebês tendem a ganhar peso de maneira padrão, independente do perfil dos pais e da etnia. "É a fase que o bebê engorda e nessas horas precisa ver como ele vai se comportar."

Alguns exames avaliam se o bebê tem risco de sofrimento fetal, como a cardiotocografia (que mede os batimentos cardíacos do bebê por 10 a 30 minutos) e a ultrassonografia obstétrica com doppler (avaliação da passagem de sangue da mãe para o bebê e da distribuição desse sangue no bebê).

Também é importante avaliar como está a mãe, pois ela pode ter pressão arterial alta, diabetes descompensado, doenças renais, entre outras condições. Gabriela Mattos Cabral de Souza, ginecologista e obstetra

A partir das 36 semanas de gestação, também se espera que o bebê ganhe mais peso, cerca de 300 gramas por semana. É o preparo final para nascer. Mas Pitaluga alerta que se esse não for o potencial do bebê, induzir o ganho de peso dele pode levar a alterações metabólicas.

O que fazer quando o bebê é muito pequeno ou muito grande?

Bebês com restrição de crescimento geralmente são desnutridos e ficam mais suscetíveis a:

  • Alterações metabólicas;
  • Ficarem internados após o nascimento;
  • Ter indicação de cesárea, procedimento com maiores taxas de morte materna, risco de hemorragia e internação hospitalar;
  • Ter parto prematuro, que é a principal causa de morte em crianças menores de 5 anos, segundo a OMS.

Nestes casos, quando há queda na velocidade de crescimento, é preciso fazer uma avaliação nutricional da pessoa gestante.

Ela deverá fazer uma dieta específica, com ajuste de nutrientes, e repousar para ter menor gasto calórico. Mas os cuidados não são diretamente proporcionais aos resultados, por isso há necessidade de acompanhamento.

Já os bebês considerados grandes demais, com percentil acima de 90, crescem por diferentes causas, sendo o diabetes gestacional a mais frequente. A exposição a altos níveis de glicose ainda na barriga deixa o feto maior.

Nesses casos, é preciso avaliar se há sofrimento fetal e, no final da gestação, se há risco de não ter espaço para nascer por parto normal. "Isso não quer dizer que todo bebê grande tem de nascer por cesariana", ressalva Souza. "O ideal sempre é tentar um parto normal."

Mas se não for possível, a cirurgia será indicada. Após o nascimento, novas avaliações vão dizer se o bebê é grande por fator familiar ou por diabetes materna. Sendo a última situação, é necessário medir a glicose do bebê nas primeiras horas de vida para garantir que ela não abaixe demais, afirma a médica.

Para evitar qualquer um dos cenários, o principal é a pessoa fazer acompanhamento antes e durante a gestação com obstetra, nutricionista e educador físico, por exemplo. "Dieta e atividade física são a chave para uma gravidez saudável para a mãe e para o bebê", completa Souza.