Topo

Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


'Ao retirar útero, achei que me sentiria menos mulher, mas fiquei bem'

Vlad Bagacian/Pexels
Imagem: Vlad Bagacian/Pexels

Rebecca Vettore

Colaboração para VivaBem

24/04/2023 04h00

M., 55, nem desconfiava que iria entrar para a estatística de pacientes com câncer de endométrio em 2022. Considerado um dos tumores ginecológicos mais comuns, atinge principalmente mulheres após a menopausa —-como é o caso da paulistana— de acordo com o Instituto Vencer o Câncer.

A securitária, que trabalha com Previdência, diferentemente da maioria das pacientes que sofrem esse tipo de câncer, não teve sangramento vaginal pós-menopausa como principal sintoma, e nem mesmo sentiu dor pélvica.

O cansaço, o único sintoma que poderia apontar na direção da doença, não chegou a incomodá-la, que relata que tem uma rotina corrida trabalhando e cuidando da casa.

Além de não fumar ou beber, nem ter doença sistêmica, a paulistana só tinha tido um parto normal do único filho, antes de descobrir a presença inicial do tumor em uma das consultas de rotina com o ginecologista.

"Não era uma pessoa muito regular com retorno de consultas. Quando o ginecologista falava 'volta em três meses', eu retornava em um ano. Mas no primeiro semestre do ano passado, apareceu uma alteração no ultrassom transvaginal e o médico pediu para eu retornar em seis meses. Voltei e foi comprovado que o pólipo (projeção de um crescimento de tecido) no endométrio tinha crescido, por isso me indicaram outro especialista", conta.

Depois da consulta, o novo médico confirmou a presença do pólipo e no dia 20 de dezembro de 2022, M. foi submetida a uma biópsia com histeroscopia. O pólipo foi retirado e enviado para análise e, por segurança, o endométrio ainda foi raspado. Na semana seguinte, ela recebeu o diagnóstico que existia a presença do adenocarcinoma endometrioide, também conhecido como câncer do endométrio, no pólipo.

Em seguida, M. fez uma ressonância e uma tomografia que comprovaram que não tinha nenhuma disseminação da doença para outras áreas do corpo. Para complementar o tratamento, o médico indicou a histerectomia, com a retirada do útero, ovários e as tubas uterinas.

"O doutor me explicou tudo e disse para eu ficar tranquila, que ele não tinha enxergado mais nada, além do que tinha pólipo, mas achava conveniente fazer a histerectomia por precaução. Um mês depois da histeroscopia, fiz essa nova cirurgia, que durou 1h15", diz a paulistana.

Desde o começo quando apareceu a alteração do exame não fiquei assustada porque em mulher sempre aparece uma coisa ou outra. Porém, quando tive a comprovação do câncer, fiquei assustada, óbvio, porque nunca tive nenhum sintoma. M., paciente com câncer de endométrio

Apesar de viver uma situação preocupante, a paulistana ficou mais tranquila com a ideia de fazer a cirurgia. "Fiquei positiva pelo que me passaram e também porque o câncer foi descoberto no comecinho. Analisando o meu caso, o médico falou que eu havia ganhado sozinha na Mega-Sena de final de ano porque o câncer estava no pólipo e após a cirurgia foi detectado a presença de 4 mm no endométrio, mas com a retirada total, não precisei fazer nem radioterapia ou quimioterapia. Quando ouvi que estava curada, dei um grito e comecei a chorar de felicidade", recorda.

No pós-cirurgia, M. precisou repousar por 15 dias e não pegou peso por 30 dias. Como era esperado, teve a primeira infecção urinária da vida, e quando voltou a trabalhar sentiu incômodo e dor porque ficava sentada o dia todo. Entretanto, não chegou a ser nada tão grave que levantar um pouco e se mexer não resolvesse.

Recentemente, o médico indicou que ela começasse a fazer uma caminhada por 30 minutos na esteira e musculação para se manter em atividade. Com relação ao próprio corpo, nada mudou: "Imaginei que fosse me sentir menos mulher ou mutilada, porém não senti. Como entendi tudo o que ia acontecer, não pirei e minha cabeça ficou bem, me sinto normal".

Durante os próximos 12 meses, M. precisará fazer um acompanhamento trimestral para ver se o câncer não retorna em nenhuma área. Após esse período, o tempo de retorno aumenta para seis em seis meses, até completar cinco anos da cirurgia.

Entenda o câncer do endométrio

Representação de um útero e ovários - Alena - stock.adobe.com - Alena - stock.adobe.com
Imagem: Alena - stock.adobe.com

De acordo com Inca (Instituto Nacional do Câncer), o câncer do corpo do útero pode se iniciar em diferentes partes do órgão, mas o tipo mais comum começa no endométrio.

Menos frequente do que o câncer de mama, tem um índice de mortalidade, em casos de estágio inicial, baixo, porque é um tipo de tumor tratável, segundo Mauricio Abrão, médico responsável pelo Setor de Endometriose da Clínica Ginecológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).

"Ele começa espessando, engrossando a camada interna do útero, o endométrio, e através desse fenômeno ocorre o sangramento. Por isso, ele costuma 'mostrar a cara' cedo, a paciente sangra, faz um ultrassom pélvico que mostra se a camada está engrossada. Caso esteja, é feita uma biópsia com histeroscopia (visualização do interior do útero por meio de uma câmera introduzida pela vagina)", explica Altamiro Ribeiro Dias Júnior, ginecologista do Hospital Santa Paula (SP).

Abrão chama atenção para o tamanho que o endométrio fica com o tumor. "Em mulheres na menopausa, o endométrio tem menos de 5 mm de espessura, mas o tecido dessas mulheres com câncer têm em média 28 mm de espessura."

Segundo o Inca, entre os fatores de risco do câncer do endométrio estão:

  • Predisposição genética
  • Excesso de gordura corporal
  • Dietas com elevada carga glicêmica
  • Crescimento endometrial
  • Falta de ovulação crônica
  • Uso de radiação anterior para tratamento de tumores de ovário
  • Uso de estrogênio (hormônio feminino) para reposição hormonal após a entrada na menopausa
  • Primeira menstruação precoce
  • Menopausa tardia
  • Nunca ter engravidado ou ter tido filhos
  • Síndrome do ovário policístico

Além do sinal mais comum de câncer de endométrio, o sangramento vaginal depois da menopausa, os sangramentos entre os ciclos menstruais ou mais intenso que o habitual, estão entre os outros sintomas menos comuns.

Em casos mais avançados, a paciente pode relatar dor pélvica, cansaço, perda de peso e apetite, segundo Altamiro.

Existem alguns exames que permitem detectar e diagnosticar o câncer de endométrio, como o ultrassonografia transvaginal. Quando detectado, é feita uma biópsia com histeroscopia para retirar uma pequena amostra da camada interna do útero. Em casos eventuais, a curetagem pode ser escolhida como outra opção para coletar a amostra.

Exames de imagem, como radiografia, ultrassonografia, tomografia e/ou ressonância nuclear magnética, ajudam a avaliar se o tumor está restrito ao órgão de origem ou se há disseminação.