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O que acontece no seu corpo quando você vive estressado

Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

25/04/2023 04h00

As estatísticas podem até errar, mas quando a própria OMS declara que o Brasil está entre os países com maiores níveis de estresse, é difícil duvidar. E todo mundo sabe o porquê: a sensação geral é que a pressão só cresce no trabalho, nos estudos, na família e na vida pessoal, sem falar de problemas financeiros, entre outros.

Apesar do cansaço que dá equilibrar todos esses pratos ao mesmo tempo, sem prejuízo do bem-estar, os especialistas explicam que nem todo estresse é ruim. Afinal, ele é reconhecido como uma resposta natural do cérebro que nos leva à adaptação, ajustes e superação de desafios e ameaças, ou seja, é isso que nos ajuda a resolver os perrengues do dia a dia.

Todo estímulo que altera nosso equilíbrio resulta em uma resposta de estresse.

Definidos como estressores, esses estímulos podem ser internos ou externos e provocam mudanças fisiológicas, psicológicas e comportamentais.

Tais alterações promovem uma cascata hormonal que altera mecanismos nervosos, endócrinos e imunológicos.

72% dos brasileiros sofrem sequelas decorrentes do estresse; entre estes, 32% se relacionam ao burnout.

Como o lado negativo afeta seu corpo

Os níveis de estresse dependerão da forma como cada pessoa percebe a intensidade da exposição ao fator estressante.

Quando o problema se repete por semanas e até meses, o corpo começa a soar o alarme por meio de manifestações como alterações no sono, dor de cabeça constante, irritabilidade, dificuldades de concentração, tensão muscular, etc.

Se isso se prolonga, todos os sistemas do organismo ficam sobrecarregados e se observará a piora de doenças preexistentes, abusos do álcool, tabaco, entre outras substâncias.

Além disso, os cientistas têm reconhecido o estresse crônico como um gatilho para alterações em várias funções do organismo, entre as quais se desacam:

  • Problemas gastrointestinais
  • Alterações na saúde cardiovascular
  • Redução das defesas do corpo
  • Prejuízos cognitivos
  • Mudanças nas taxas de glicemia

Você vê a saúde gastrointestinal decair

Pesquisas que observam a interação entre nutrição e estresse já identificaram complicações gastrointestinais, consequência da ação de catecolaminas (um tipo de hormônio), além da ligação entre a saúde do cérebro e a do intestino.

As mudanças identificadas são a redução da absorção dos alimentos, alteração da permeabilidade intestinal (mudanças na barreira contra as toxinas locais), modificações na secreção de ácido estomacal, além de maior propensão a inflamações.

Um dos efeitos mais comuns é a alteração no apetite (comer mais ou menos).

A digestão fica difícil e ocorre a aceleração do movimento intestinal.

Colite prévia ou doença de Crohn podem ser reativadas.

A síndrome do cólon irritável pode aparecer, assim como alterações na microbiota.

Úlceras e sangramentos são outros quadros comuns.

Você percebe que seu coração fica abalado

Pouco importa se o estresse é agudo ou crônico. O fato é que ele tem efeito nas funções cardiovasculares, estimulando-as ou inibindo-as. A gravidade dessas manifestações dependerá das características individuais (resposta ao estresse e doenças preexistentes).

O sistema cardiovascular responde ao estresse com o aumento da pressão sanguínea e do batimento cardíaco. Quando o estresse é crônico, ele pode ter como consequência doenças cardiovasculares.

A doença arterial coronariana, o AVC (Acidente Vascular Cerebral), a hipertensão arterial e arritmias são doenças relaciondas.

Pode haver estímulo para maior agregação plaquetária, isto é, da formação de coágulos, o que pode resultar em trombose, por exemplo.

Você vira alvo de todo tipo de doença

Quem vive estressado fica mais suscetível a doenças porque o estresse prejudica o sistema imunológico.

Quando o estresse é grave e prolongado, ele pode reduzir ou suprimir as atividades dos linfócitos (citotoxinas T) que protegem o corpo de células causadoras de doenças, inclusive as relacionadas a tumores.

Hormônios como catecolaminas e opioides, naturalmente excretados em momentos de estresse, têm o mesmo efeito.

As substâncias mediadoras do estresse são capazes de atravessar a barreira hematoencefálica, encarregada de bloquear ou dificultar a passagem de agentes nocivos para o SNC (Sistema Nervoso Central).

Você percebe que seu cérebro não é mais o mesmo

A depender do tipo, do momento, da intensidade e duração do estresse, ele tem o poder de prejudicar a cognição.

Quando o estresse é moderado, ele até estimula a função cognitiva (memória virtual ou verbal).

Mas quando os limites de cada pessoa são ultrapassados, podem ser observados prejuízos cognitivos, especialmente os relacionados à memória e à capacidade de julgamento, resultado do estresse sobre as regiões do hipocampo e do córtex pré-frontal.

Essas ações sobre a memória dependem do tempo de exposição, podendo levar a alterações da memória tanto na sua formação, organização e armazenamento de novas lembranças, como as mais antigas.

Fatores como idade, sexo, podem ainda influenciar todos esses resultados.

Você observa que há algo de errado com seus hormônios

Os especialistas afirmam que é impossível dissociar a resposta ao estresse do funcionamento do sistema endócrino. É a partir dele que ocorre a excreção dos hormônios esteroides, principalmente o cortisol, que garantem a energia necessária para superar situações estressantes.

Inclui-se nesse processo a queda dos níveis de insulina, o aumento da adrenalina, e o estímulo do pâncreas para a secreção do glucagon, entre outros. Esses fatores, juntos, podem levar ao aumento dos níveis de glicemia (hiperglicemia).

Para além da aparecimento de sintomas como sede, problemas na visão, pessoas com diabetes podem ter maiores dificuldades para controle da taxa glicêmica.

Eu sou estressado ou ansioso?

Raiva, estresse no trabalho - iStock - iStock
Imagem: iStock

O estresse é uma resposta física ou mental a uma causa externa, como a expectativa de um evento como um exame ou estar doente, ou interna, como os pensamentos negativos. Esses fatores podem ser isolados, ter curta duração, mas também durar ou se repetir ao longo do tempo.

Ele também pode ser positivo (eustresse) —como quando você consegue atender a um prazo no trabalho ou durante o nascimento de um filho; ou negativo (distresse), quando um determinado problema tira o seu sono, por exemplo.

Já a ansiedade pode ser um sintoma do estresse e pode persistir, mesmo que não exista uma ameaça aparente. Caso esse estado seja permanente e comece a atrapalhar a vida, é preciso procurar por ajuda especializada.

Como lidar?

Os especialistas consultados afirmam que é possível adotar algumas medidas que ajudam a controlar os efeitos indesejados do estresse.

  • Adote uma rotina de exercícios e uma dieta equilibrada;
  • Experimente diferentes técnicas de relaxamento e escolha aquela com a qual se identifique mais;
  • Aposte na respiração diafragmática. O abdome deve subir ao inspirar e descer ao expirar;
  • Adote, no dia a dia, uma postura que o mantenha no aqui e agora;
  • Zele pela higiene de seu sono, organizando-se para dormir horas suficientes para você;
  • Evite o consumo de cafeína em excesso --seja por meio de bebidas energéticas, seja exagerando no cafezinho. O mesmo se aplica às bebidas alcoólicas;
  • Mantenha um diário para identificar fatores desencadeantes que podem ser prevenidos ou controlados;
  • Conecte-se com outras pessoas, não só por meio do celular;
  • Limite seu tempo de exposição às notícias na TV ou nas mídias sociais, caso observe que elas potencializam a sensação de estresse.

Fontes: Ana Maria Rossi, presidente da Isma-BR (International Stress Management Association) e diretora da Clínica de Stress e Biofeedback, em Porto Alegre; Sonir Roberto Rauber Antonini, médico endocrinologista e endocrinologista pediátrico do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, professor titular da mesma instituição, e presidente do Departamento de Endocrinologia Pediátrica da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia); Talísia Vianez, neurologista, chefe do Serviço de Neurologia do Hospital Universitário Getúlio Vargas da Universidade Federal do Amazonas, que integra a Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), sócia-proprietária do Instituto do Senescer. Revisão técnica: Ana Maria Rossi e Sonir Roberto Rauber Antonini.

Referências:

  • OMS (Organização Mundial da Saúde)
  • Chu B, Marwaha K, Sanvictores T, et al. Physiology, Stress Reaction. [Atualizado em 2022 Set 12]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK541120/
  • Yaribeygi H, Panahi Y, Sahraei H, Johnston TP, Sahebkar A. The impact of stress on body function: A review. EXCLI J. 2017 Jul 21;16:1057-1072. doi: 10.17179/excli2017-480. PMID: 28900385; PMCID: PMC5579396.