Grávida pode tomar paracetamol? O que dizem os estudos recentes

O paracetamol é um fármaco usado para tratar a febre e a dor leve e moderada, especialmente nos casos de resfriados, inflamações de garganta, dores de cabeça e até de dente. Apesar de ser visto como seguro durante a gestação, é comum haver dúvidas se a grávida pode usar paracetamol, conforme novos estudos são feitos no Brasil e no mundo alertando para supostos riscos do remédio.

Em 2021, por exemplo, pesquisadores dos EUA, Brasil e Europa divulgaram, no periódico Nature Reviews Endocrinology, uma revisão de estudos publicados nos últimos 25 anos, associando o paracetamol a eventos adversos.

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Ele foi associado ao aumento do risco de problemas no neurodesenvolvimento da criança, como TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), TEA (Transtorno do Espectro Autista), além de infertilidade, malformações genitais, problemas reprodutivos e outros.

Os estudos não são conclusivos. Mesmo assim, essas informações configuram um alerta importante.

Uso de paracetamol durante a gravidez

Toda e qualquer droga para ser usada durante a gestação deve ser prescrita após uma cautelosa avaliação. Ou seja, os médicos precisam entender os riscos e os benefícios da prescrição, assim como os riscos da doença, de que maneira tratar e se aquela medicação deve ser utilizada ou não.

A peculiaridade da gravidez, no entanto, é que essa é uma condição única, do ponto de vista de fisiologia humana, em que há não apenas os efeitos metabólicos na mãe, mas também na placenta e no feto. Dessa forma, para garantir a segurança do uso de um medicamento não basta que a grávida tome um comprimido e não tenha efeitos colaterais —mas também o feto.

No entanto, quando se trata do paracetamol, as respostas para essas questões são incertas, o que indica um uso cauteloso desse fármaco.

Em quais ocasiões a grávida pode usar o paracetamol?

O médico precisa se certificar que essa droga não vai passar pela placenta, saber sua dose de concentração na passagem do cordão umbilical e se o feto possui maturidade do seu sistema hepático para a metabolização da droga.

Por exemplo: imagine que o fígado do feto em desenvolvimento ainda não adquiriu a sua maturidade de funções hepáticas e é submetido a ações de um agente externo. Assim, além de fazer a síntese das suas funções fisiológicas normais, estará sobrecarregado sob a ação de uma droga.

Portanto, utilize medicações em caso de extrema necessidade, quando prescrito por médico, em doses baixas e ocasiões pontuais. Muitas gestantes pensam que o uso do paracetamol é totalmente inofensivo e o fazem sem prescrição, em altas dose, por tempo prolongado. Estima-se que, no mundo, cerca de 50% das mulheres desse grupo utilizam o remédio de forma indiscriminada.

Risco x benefício

O médico precisa considerar essa relação de risco e benefício. Ou seja, se existe uma infecção urinária, é necessário tratá-la. Mas isso significa que todos os seus efeitos colaterais estão anulados em decorrência disso? Na verdade, não, eles fazem parte do benefício do tratamento, visto que os riscos possíveis são inferiores ao de uma infecção generalizada.

Porém, não existe ausência de risco nas prescrições durante a gestação. Se a gestante tem dor de cabeça e recorre a um analgésico, ela vai acabar usando o paracetamol, mas todos os especialistas envolvidos precisam saber que os riscos existem e acompanhá-la, assim como o feto.

Algum remédio pode substituir o paracetamol?

Depende. A gestante pode fazer uso de dipirona e, em casos pontuais, ainda há prescrição de corticosteroides. No entanto, é importante sempre consultar o médico antes de utilizar qualquer medicamento, ou seja, não se automedicar.

Quais sintomas devem ligar um sinal de alerta, em caso do uso de paracetamol?

Reações alérgicas, intoxicações, dependências, cefaleia, náusea e vômitos. Nesses casos, avisar o obstetra imediatamente.

É possível listar medicamentos "proibidos" para gestantes?

Segundo as especialistas, seria impossível listar todos, pois os fármacos que podem ser utilizados são uma minoria. Elas explicam que é preciso considerar, na verdade, os graus e categorias de risco.

Por exemplo: na categoria A estariam os que praticamente não oferecem risco, com efeitos positivos e que os estudos demonstrariam como drogas seguras. Na categoria B, seriam os que oferecem riscos, mas que eles são muito pequenos, com estudos que não demonstram seu aumento durante a gestação. Em uma categoria C, já há o aumento desses riscos, que são importantes de se considerar durante a prescrição.

Por fim, em uma categoria X estão os 100% proibidos para grávidas —aqui entram, por exemplo, os remédios derivados de vitamina A. Além deles, é possível citar medicações que afetam o sistema nervoso central. Ele provoca alterações no metabolismo da estamina, que está relacionada ao vigor e à capacidade de resistência do corpo.

Fontes: Bruna Pitaluga, ginecologista e obstetra pela UnB (Universidade de Brasília), especialista em medicina funcional pelo Instituto de Medicina Funcional, nos Estados Unidos; Etiêne Galvão, médica ginecologista, obstetra e professora do curso de medicina do Centro Universitário de João Pessoa - Unipê; e Karen Rocha De Pauw, ginecologista e obstetra pela UFU (Universidade Federal de Uberlândia) e especialista em reprodução humana pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.