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Morfina pode causar confusão mental ou alucinação em uma pessoa?

O ex-presidente Jair Bolsonaro ao deixar a sede da Polícia Federal, em Brasília, onde prestou depoimento sobre os atos golpistas de 8/1 - Pedro Ladeira/Folhapress
O ex-presidente Jair Bolsonaro ao deixar a sede da Polícia Federal, em Brasília, onde prestou depoimento sobre os atos golpistas de 8/1 Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Do VivaBem, em São Paulo

26/04/2023 18h53

Em depoimento à Polícia Federal, Jair Bolsonaro disse que estava sob efeito de remédios quando postou um vídeo com fake news após os atos golpistas de 8 de janeiro.

De acordo com um dos advogados do ex-presidente, Paulo Cunha Bueno, o político ia compartilhar o conteúdo consigo mesmo no WhatsApp e, sem querer, publicou no Facebook.

Por acaso, justamente neste período, o presidente estava internado num hospital em Orlando, justamente no período do dia 8 ao 10 [de janeiro], quando ele teve uma crise de obstrução intestinal, isso está documentado, foi submetido a tratamento com morfina, ficou hospitalizado e só recebeu alta na tarde do dia 10. Paulo Cunha Bueno, advogado de Bolsonaro

A morfina pode causar confusão mental?

A princípio, a morfina não causa qualquer tipo de alteração mental, como confusão ou alucinação. Mas também não foi revelado quais outros remédios Bolsonaro estava usando além dessa substância.

Também não há relação com a euforia, mas efeitos como tontura e vertigem, segundo a médica Amelie Falconi, especialista em medicina da dor.

O anestesiologista Guilherme Barros explica que, por ser um inibidor do sistema nervoso central, a morfina está associada à sonolência. Esse é um dos principais efeitos relacionados ao uso agudo do remédio, para tratar dores pontuais.

Já quem precisa fazer uso crônico da morfina, em geral, desenvolve tolerância a ela. Com isso, os efeitos vão diminuindo —inclusive o sono após tomá-la. A principal queixa nesses casos acaba sendo a constipação intestinal.

A pessoa pode ter comportamentos de sonolência, ficar mais letárgico para responder ao meio, de acordo com a dose administrada. Mas não a ponto de falar coisas em desacordo com a realidade, ou ter mudanças na capacidade de raciocínio. O paciente sonolento não diz algo que não acredita, apenas fala de maneira lenta. Guilherme Barros, anestesiologista

Na explicação de Barros, também chefe do serviço de cuidados paliativos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu, ao tomar morfina, a pessoa fica como se estivesse próximo à hora de dormir após trabalhar um dia inteiro.

O que é a morfina?

Trata-se de um remédio analgésico da classe dos opioides utilizado para o tratamento da dor. A substância pode ser tomada via oral ou por injeção.

Falconi explica que os opioides são classificados em dois tipos:

Fracos: há dose máxima para se prescrever. "Acima da dose, não adianta aumentar, porque não tem benefício no controle da dor, só efeitos colaterais", afirma.

Forte: não existe dose máxima. Nesse caso, o que determina a dose máxima são os efeitos colaterais que, quando muito fortes, sinalizam que a quantidade deve ser reduzida. Aqui, entra a morfina.

Para que serve a morfina?

Ao contrário do que se possa pensar, a morfina não é usada apenas em casos extremos. Ela é indicada para dores intensas, como dor oncológica, diz Falconi, mas o medicamento também se aplica para dores neuropáticas. Em geral, é usada para dores agudas ou crônicas.

Quando bem administrada, com intervalo e dosagem corretos, a substância tem efeitos positivos e minimiza efeitos colaterais, segundo Falconi.

Como a morfina age?

Quando cortamos a mão, por exemplo, há um caminho longo de estímulos até o cérebro entender que estamos com dor. Há a ativação de receptores que mandam impulsos para o cérebro, que comunica o que está acontecendo.

A morfina age nesse caminho, bloqueando parte da passagem dos estímulos da dor para o cérebro, agindo em receptores cerebrais específicos.

Efeitos colaterais

Os efeitos colaterais mais comuns são:

  • Náuseas;
  • Vômitos;
  • Tontura;
  • Vertigem;
  • Constipação intestinal;
  • Sonolência;
  • Depressão respiratória, quando a dose é excessiva.

"Antes de o paciente apresentar sonolência ou depressão respiratória, vai apresentar os outros sintomas primeiro", explica a médica. O nível do efeito colateral é usado como sinal de alerta para a dosagem.

Ela destaca que, para avaliar os efeitos colaterais, é importante saber se a pessoa utiliza outra medicação ou drogas ilícitas.