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Ozempic: como age? Quanto emagrece? Tem efeitos colaterais? Tire 13 dúvidas

Do VivaBem, em São Paulo

27/04/2023 04h00

O Ozempic é um remédio para tratar o diabetes tipo 2 que virou sensação entre quem quer perder peso. O medicamento passou a ser usada contra a obesidade de maneira off label —quando a recomendação de uso está fora da bula, o que é permitido pelo CFM (Conselho Federal de Medicina).

Não demorou para também virar aliado ao emagrecimento estético, principalmente pela facilidade de compra sem receita.

A seguir, tire 13 dúvidas sobre o remédio.

1. O que é o Ozempic?

Remédio que tem como princípio ativo a semaglutida. É produzido pela farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk.

Faz parte de um grupo de medicações consideradas revolucionárias para tratar o diabetes tipo 2 e a obesidade —apesar de o uso para esta última ainda não estar liberado no Brasil.

Ele é uma caneta, de aplicação semanal na pele, disponível em três doses: 0,25 mg, 0,50 mg e 1 mg.

2. Como o Ozempic funciona?

A semaglutida simula a ação do GLP-1, hormônio produzido no intestino que regula a glicemia (nível de açúcar no sangue) e as respostas da saciedade —daí o seu uso para o emagrecimento.

O que acontece no corpo? A substância liberada na corrente sanguínea é metabolizada por enzimas (peptidases) capazes de quebrar proteínas ou peptídeos e, depois, eliminada por via renal, principalmente pela urina.

3. Por que o Ozempic emagrece?

Emagrecer é um efeito natural, porque o remédio age em receptores do sistema nervoso central para controlar o apetite e retarda o esvaziamento gástrico (como se a pessoa ficasse mais tempo com a comida no estômago).

Basicamente, o paciente não sente muita fome ao longo do dia e acaba comendo menos do que o habitual.

4. Quanto custa o Ozempic?

Os preços das canetas de 0,25 mg + 0,50 mg e 1 mg variam entre R$ 994,03 a R$ 1.308,32. Os valores da tabela da CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos) são do mês de abril e variáveis conforme a alíquota do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) de cada estado.

5. Há outras medicações à base de semaglutida?

Sim. Há uma versão oral da semaglutida já à venda no Brasil para tratar o diabetes tipo 2: o Rybelsus.

Há também o Wegovy, outra caneta, mas com dosagem máxima de 2,4 mg de semaglutida, para tratar a obesidade. Ele já foi liberado pela Anvisa, mas ainda não está disponível nas farmácias do Brasil.

As duas medicações são da Novo Nordisk. Ao VivaBem, a farmacêutica disse que a expectativa é que o Wegovy esteja disponível para venda no 2º semestre deste ano. No momento, o fármaco passa por avaliação na CMED para fixar o seu preço.

6. O Ozempic pode ser prescrito para emagrecimento estético?

Por mais que não exista restrição em prescrever o Ozempic para fins estéticos, associações médicas e o próprio laboratório desencorajam esse uso:

A Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica) e a SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) divulgaram um comunicado conjunto no final de março.

O documento das associações diz que o uso indiscriminado aumenta o estigma do tratamento entre quem tem indicação médica ao remédio, além de "expor pessoas sem necessidade de uso aos riscos".

A Novo Nordisk afirma que o Ozempic precisa de prescrição médica e deve ser usado apenas para o diabetes tipo 2 (a sua indicação de bula).

7. Quantos quilos se perde usando Ozempic?

O principal estudo sobre a semaglutida indicou perda média de 14,9% do peso total em 17 meses em pessoas obesas. Mas os ensaios clínicos usaram a dose máxima do Wegovy (2,4 mg de semaglutida), e não a do Ozempic (1 mg).

Uma das fases da pesquisa comparou os resultados dos dois medicamentos apenas em pacientes com diabetes tipo 2, que naturalmente perdem menos peso. Quem aplicou 2,4 mg de semaglutida por semana perdeu, em média, 9,64% do peso total; enquanto aqueles que receberam 1 mg perderam 6,99%.

8. Quais os efeitos colaterais do Ozempic?

As principais queixas são gastrointestinais:

  • Náuseas acompanhadas ou não por vômitos;
  • Diarreia ou constipação;
  • Dor abdominal e gases;
  • Como a pessoa come menos, é normal ter fadiga e tonturas.

Reações incomuns são:

  • Pulso acelerado;
  • Alergias (erupções cutâneas);
  • Cálculo biliar;
  • Depressão;
  • Hematomas pela injeção;
  • Lesão nos vasos sanguíneos da retina (retinopatia diabética);
  • Problemas nos rins.

Conforme emagrece, a pessoa pode ter sinais clássicos da perda de peso, como a flacidez (é o caso do rosto de Ozempic, relatado por algumas pessoas que usaram o remédio).

9. Precisa fazer exercício enquanto toma o Ozempic?

Sim, o êxito do tratamento depende dos hábitos da pessoa. Nos estudos, inclusive, o tratamento medicamentoso é aliado à reeducação de hábitos.

É indicado ter boa alimentação, praticar exercício e manter uma rotina saudável (com sono de qualidade e controle de estresse, por exemplo).

10. Ozempic, Saxenda e Victoza são a mesma coisa?

Não. Saxenda e Victoza são medicamentos da Novo Nordisk para obesidade e diabetes tipo 2, respectivamente. Eles também funcionam à base de um receptor de GLP-1, a liraglutida. Mas os resultados diferem dos remédios com semaglutida: a redução na balança costuma ser de 10%. Além de terem aplicação diária, e não semanal.

11. Quem não pode usar o Ozempic?

  • Grávidas e lactantes;
  • Menores de 18 anos;
  • Quem tem problemas de fígado ou rins;
  • Histórico de retinopatia;
  • Quem tem diabetes tipo 1;
  • Quem tem cetoacidose diabética (descompensação da glicemia em que o açúcar no sangue está muito alto e as substâncias ácidas, chamadas cetonas, atingem níveis perigosos no organismo);
  • Quem tem pancreatite;
  • Quem já teve câncer medular de tireoide ou tem casos na família;
  • Pessoas alérgicas à semaglutida ou outros componentes do remédio.

12. Tem riscos de tomar semaglutida sem orientação médica?

Sim. O rótulo do medicamento indica a necessidade de prescrição médica. Sem orientação, a pessoa pode errar as doses, além de sofrer com mais efeitos colaterais.

Quem faz o uso estético sem indicação também pode perder massa magra e mascarar transtornos de imagem e/ou alimentares.

Segundo médicos consultados por VivaBem, há ainda o risco de se desenvolver uma dependência psicológica (não da medicação em si) e acreditar que não vá mais emagrecer sem o remédio.

13. O que acontece ao parar de tomar o remédio?

Sem a semaglutida, o impulso para diminuir a fome some e a pessoa volta a comer normalmente em semanas ou meses. Se ela não fizer uma reeducação alimentar durante o uso do medicamento, a tendência é voltar a engordar.

Esse reganho de peso é comum no tratamento da obesidade e ocorre pois a condição é uma doença crônica, que exige acompanhamento médico e cuidados (boa alimentação, atividade física, controle do estresse) a vida toda, e não somente até eliminar os quilos esperados.

Fontes: André Camara De Oliveira, diretor da SBEM - SP (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo); Bruno Halpern, endocrinologista e presidente da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica); Fábio Ferreira de Moura, diretor da SBEM e endocrinologista do Hospital Universitário Osvaldo Cruz, da Universidade de Pernambuco; Marcela Caselato, endocrinologista e gerente médica da Novo Nordisk no Brasil; Tarissa Petry, endocrinologista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP).