Topo

Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Maconha pode viciar, mas depende de alguns fatores; veja sinais da adição

Getty Images
Imagem: Getty Images

Colaboração para o VivaBem

28/04/2023 04h00

O vício em maconha é um tema controverso e muitas vezes mal compreendido. Enquanto alguns argumentam que a maconha não é viciante, outros afirmam que o uso contínuo pode levar à dependência.

É verdade que o consumo da droga, ainda proibida no Brasil, não vai levar todos os usuários à dependência. Mas, para outras pessoas, a depender de alguns fatores e, claro, frequência de uso, o risco de vício é real.

Todas as substâncias que têm essa capacidade de mexer com com funcionamento da bioquímica cerebral e que envolvem o mecanismo de recompensa —no caso da maconha, uma ação euforizante— podem viciar. O álcool e a nicotina, por exemplo, também estão incluídos nisso. Álvaro Pulchinelli, toxicologista do Fleury Medicina e Saúde

Como identificar a dependência de maconha

Pulchinelli aponta que é necessário desmistificar o pensamento de que a pessoa pode se tornar viciada em maconha da noite para o dia. "Na maioria dos casos, o uso vai aumentando com o tempo."

A psiquiatra Olivia Pozzolo descreve que o vício surge quando há um padrão problemático de uso de maconha que leva a problemas clinicamente significativos ou prejuízos no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes de funcionamento.

Não há uma frequência específica que configure vício, pois isso pode variar de pessoa para pessoa e depender de uma série de fatores, como a quantidade e a potência da maconha consumida, a frequência de uso e a sensibilidade individual. Olivia Pozzolo, pesquisadora do IPq-HCFMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP)

De acordo com os especialistas entrevistados pelo VivaBem, alguns indícios e sintomas da dependência incluem:

Incapacidade de reduzir ou parar o uso de maconha;

Desejo forte e persistente de usar a droga, mesmo em situações em que isso pode ser prejudicial (como antes de dirigir ou no ambiente de trabalho);

Continuar a usar maconha apesar dos efeitos negativos na vida pessoal, profissional, social ou financeira;

Colocar-se em risco para conseguir a substância (como comprar em bocas de fumo, por exemplo);

Desenvolver tolerância à droga (que faz menos efeito com o passar do tempo);

Apresentar sintomas de abstinência quando não está usando, como insônia e irritação;

Passar muito tempo usando maconha ou pensando sobre seu uso.

Pulchinelli alerta, no entanto, que as descrições se referem ao ato de fumar maconha tradicional, não à maconha sintética, como K2 e K9, que contêm misturas de outras substâncias ilícitas e consideradas mais danosas à saúde, nem ao canabidiol, que tem uso medicinal.

Riscos do consumo excessivo de maconha

Embora os prejuízos associados ao uso de maconha possam ser menores do que outras drogas, que oferecem, por exemplo, risco de overdose e morte, o uso excessivo também pode acarretar em efeitos negativos na qualidade de vida de uma pessoa.

A maconha é um fumígeno, então pode prejudicar os pulmões e boca. Além disso, a dinâmica da vida da pessoa com a dependência tende a se voltar principalmente para o uso da droga, prejudicando as outras tarefas que a pessoa deve cumprir no dia a dia —como acontece com os vícios em geral. Jeferson Nunes Ferri, psiquiatra da AmorSaúde Unidade Teixeira de Freitas (BA), parceira do Cartão de TODOS

Pozzolo, pesquisadora do IPq, cita ainda a alteração da função cognitiva geral, e o risco de problemas legais, já que a droga é proibida no Brasil.

Risco aumentado para crianças e adolescentes

Durante a infância e parte da adolescência, o córtex pré-frontal, área cerebral responsável pelo juízo crítico e planejamento, ainda não está totalmente formado e seu desenvolvimento pode ser prejudicado com o uso da maconha.

"Quanto mais cedo a criança utilizar, maior o risco de levar isso para a vida adulta —o que também vale para outros tipos de substâncias", descreve o toxicologista do Fleury.

Os fatores podem levar uma pessoa a consumir maconha excessivamente

Há muitos fatores envolvidos na predisposição do uso abusivo ou da dependência de maconha.

Entre eles, os médicos citam fatores biológicos, como idade e genética, histórico de uso de outras substâncias, fatores psicológicos como ansiedade, depressão e outros transtornos psiquiátricos, influência de amigos e familiares e a disponibilidade de acesso.

"É importante compreender esses fatores para poder ajudar a desenvolver estratégias de prevenção e tratamento", comenta Pozzolo.

Usuários com quadros psiquiátricos têm mais riscos

Há uma forte correlação entre o uso de maconha e a piora dos quadros psiquiátricos. Por esse motivo, é importante quem tem o diagnóstico evitar qualquer tipo de substância psicoativa.

"O agravante pode ocorrer principalmente em quadros que há uma hiperatividade cerebral, como bipolaridade, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de déficit de atenção com hiperatividade e esquizofrenia", afirma Jeferson Nunes Ferri.

De acordo com o psiquiatra, o paciente faz uso da droga como uma tentativa inconsciente de diminuir a atividade cerebral e acalmar os sintomas da doença de base, mas o que ocorre é justamente o contrário.

No caso da maconha, quadros como depressão e ansiedade podem ainda contribuir para um risco maior de vício, já que a droga é muitas vezes usada para mascarar os sintomas ruins.

Em casos mais raros, podem ocorrer episódios de paranoia e psicose.

Existe tratamento para o vício em maconha?

Psicólogos com experiência em dependência, assim como psiquiatras, são profissionais indicados para ajudar nos casos em que as pessoas não conseguem manter uma rotina sem fumar maconha.

Não há, no entanto, um tratamento único focado nesse dependência. A frequência de sessões, assim como o eventual uso de remédios, especialmente para quem já sofre de algum caso psiquiátrico, depende muito das características de cada pessoa.