Mulher de 95 anos com demência viraliza ao tocar piano com perfeição
Uma senhora de 95 anos viralizou no TikTok na última semana ao aparecer tocando piano perfeitamente, mesmo sendo diagnosticada com demência. Elaine Lebar é ex-pianista profissional, mas não se lembra do seu passado como musicista.
No vídeo, sua filha, Randi Lebar, aparece pedindo à mãe que toque a "Sonata ao Luar", de Beethoven. A princípio, Elaine se recusa e diz que não sabe tocar. Porém, ao se posicionar em frente ao instrumento, toca a música com perfeição.
Como ela toca mesmo tendo a memória afetada?
Segundo a filha de Elaine, em entrevista ao USA Today, sua mãe começou a tocar piano quando criança e se formou no Conservatório de Música do Brooklyn, tendo feito mestrado em pedagogia musical na Universidade do Missouri. "Ela tem uma fama agora que nunca teria em seus primeiros anos", brincou Randi.
A curiosidade sobre o vídeo repousa sobre o fato de Elaine ser diagnosticada com demência e dizer não saber tocar a música solicitada. Porém, mesmo assim, ela de repente toca o piano como se a sua memória não tivesse sido afetada.
Rachel Oliveira, médica especialista em saúde do idoso, fala que essa capacidade de se lembrar de habilidades aprendidas anteriormente é conhecida como "memória processual", diferente da "memória declarativa", relacionada a fatos específicos e mais comprometida em alguns tipos de demência, como o Alzheimer.
A memória não está localizada em um único lugar do cérebro. As diferentes memórias estão distribuídas por todo o córtex e o subcórtex, sendo o hipocampo a estrutura mais profunda que coordena o que deve ser guardado e qual a prioridade.
"Quando envelhecemos ou devido a doenças neurodegenerativas e a traumas, nossos neurônios vão perdendo a capacidade funcional ou morrem. Isso vai afetar áreas diferentes em cada pessoa", diz Diogo Christofolli, especialista em neurologia e medicina funcional integrativa.
Segundo ele, as memórias mais sólidas resistem mais tempo e a memória de curto prazo é mais afetada nos casos iniciais. Assim, é possível que pessoas com demência sejam capazes de acessar outras formas de memória. "De uma forma simplificada, as memórias que são de muito longa duração estão frequentemente relacionadas a uma forte emoção, ou seja, quando a experiência é captada por nossos sentidos na primeira vez", explica o coordenador do laboratório neurociência Unisul.
Por essa razão guardamos na memória, desde a infância, fatos bons ou ruins que nos comoveram. "Ela não perdeu a capacidade de tocar uma música que certamente a emocionou a vida toda. E são várias memórias envolvidas. A auditiva, a de trabalho, a de longa duração, além das emoções."
"Atividades mecânicas aprendidas anteriormente, como tricô, desenho, pintura ou coreografias podem ser acessadas através da memória procedimental, que está relacionada ao aprendizado de habilidades motoras", ensina a médica pós-graduada em geriatria e em neuropsicologia.
Além disso, atividades acompanhadas de emoções positivas, como passatempos que a pessoa gostava de realizar antes da demência, ajudam a ativar outras formas de memória, como a emocional. "Essas atividades ajudam a reduzir a ansiedade, a aumentar a autoestima e a proporcionar uma sensação de realização e bem-estar", completa a médica.
Mas ela salienta que cada pessoa com demência é única e pode desenvolver a doença em velocidade diferentes, comprometendo mais ou menos determinadas funções do cérebro.
O que é demência e como lidar?
Demência é um nome para diversas formas de perda da capacidade intelectual, cognitiva, de aprendizado e de memória. Elas são semelhantes e às vezes não é possível estabelecer o diagnóstico. As mais comuns são o Alzheimer, a senil, a frontotemporal e a demência por corpos de Lewy.
Segundo Álvaro Pereira, angiologista com doutorado em cirurgia vascular, alguns tratamentos são comuns nas diversas formas de demência ou na diminuição da cognição que surge com o envelhecimento. Isso inclui:
Cuidados gerais da saúde, como controle de diabetes e hipertensão;
Exercício físico;
Psicoterapia;
Fisioterapia;
Exercícios para memória, como jogos, rever fotos, filmes, revistas antigas;
A dieta também pode contribuir quando rica em colina (ovos, sardinha, cavala, abacate), cúrcuma, feijão, gergelim, amendoim, castanha-do-pará, couve, espinafre e cafeína;
O médico também sugere vantagens na reposição de vitaminas do complexo B, zinco, magnésio.
"Existem ainda alguns medicamentos denominados nootrópicos que melhoram a atividade dos neurônios e, portanto, a memória e a cognição. São frequentemente utilizados nos estágios leves e moderados", fala Pereira.
Ele ainda indica um tratamento para demência considerado promissor por ser passível de uso domiciliar, o brain photobiomodulation. São aparelhos de laser ou LED que irradiam baixa dose desse tipo de energia (fotobiomodulação).
"As mitocôndrias das células cerebrais (neurônios e gliócitos) passam a produzir mais energia na forma de ATP, aumentando a disponibilidade de neurotransmissores e acelerando a formação de novas células neurais", diz.
Fontes: Álvaro Pereira, angiologista formado pela FMUSP, com residência em cirurgia vascular no HCFMUSP, doutorado em cirurgia vascular na divisão de bioengenharia do Incor - HCFMUSP, pós-doutorado no B&H Hospital - Harvard; Diogo Christofolli, especialista em neurologia e medicina funcional integrativa, coordenador do laboratório neurociência Unisul; Rachel Oliveira, médica, especialista em medicina de família, pós-graduada em geriatria e pós-graduada em neuropsicologia, diretora científica da Abraz ES, autora do Instagram @alzheimer_vivencias.
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