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Efeitos duram? Proibido para todos? 7 mitos e verdades sobre anabolizantes

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Janaína Silva

Colaboração para VivaBem

03/05/2023 04h00

Ganhar massa muscular, ter um corpo mais definido, perder peso, sentir-se mais jovem, aumentar a libido e melhorar o desempenho esportivo foram as promessas que atraíram milhares de pessoas a buscarem os anabolizantes em altas doses, muitos sem se preocuparem com os malefícios no organismo.

"Se observa com muita frequência, nesse público que busca os efeitos estéticos, na faixa dos 20 aos 40 anos, aumento da pressão arterial. Fato incomum quando comparado aos que não utilizam os anabolizantes", afirma Marcelo Rodrigues dos Santos, profissional de educação física, doutor em ciências pela FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e coautor do livro "Anabolizantes, evidências científicas: riscos e benefícios".

De acordo com Marcelo Franken, cardiologista do Hospital Israelita Albert Einstein (SP) e diretor da Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo), também há maior incidência de infarto e AVC em pacientes jovens que usam os anabolizantes.

Assim, a proibição da prescrição médica de terapias hormonais com esteroides androgênicos e anabolizantes com finalidade estética e de performance pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) visa reduzir os riscos da prática indiscriminada, ou seja, para quando não for para corrigir a deficiência do hormônio.

Oxandrolona, chip da beleza, modulação ou suplementação hormonal são alguns termos que fizeram fama entre os anabolizantes, a partir da testosterona ou capazes de estimular a sua produção, tanto naturais quanto sintéticos, e que agora foram banidos.

A chamada terapia de reposição hormonal permanece indicada para casos de deficiência comprovada na produção de hormônios.

VivaBem consultou especialistas que esclarecem os principais mitos e verdades sobre essas substâncias e seus efeitos no organismo.

1. Prescrição de anabolizantes por questões estéticas foi proibida pelos malefícios irreparáveis ao organismo.

Verdade. Há uma série danos irreversíveis ao organismo:

  • aumento do risco de tumores como hepático e de próstata
  • problemas cardiovasculares, como hipertensão e insuficiência cardíaca
  • aumento do risco de trombose
  • transtornos mentais e de comportamento
  • infertilidade
  • disfunção erétil
  • diminuição de libido
  • entre outros.

2. Anabolizantes não geram efeitos colaterais nos homens, apenas nas mulheres por ter testosterona.

Anabolizante - ChesiireCat/iStock - ChesiireCat/iStock
Imagem: ChesiireCat/iStock

Mito. O anabolizante ou esteroide androgênico anabolizante é derivado do hormônio testosterona e provoca sérios problemas de saúde tanto nos homens quanto nas mulheres quando usado de forma indiscriminada.

Nas mulheres, o uso leva ao surgimento de características masculinas no corpo, como engrossamento e rouquidão da voz e surgimento de pelos, queda de cabelo, aumento do tamanho do clitóris, irregularidade ou interrupção da menstruação, diminuição dos seios e aumento de apetite, além do surgimento de acne.

Nos homens, o excesso de anabolizantes chega a causar aparecimento de mamas, calvície, redução dos testículos, diminuição da contagem dos espermatozoides e até infertilidade.

3. Uso de anabolizantes não é recomendado para melhorar performance esportiva.

Verdade. Segundo Marcelo Leitão, cardiologista, especialista em medicina do esporte e diretor científico da SBMEE (Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte), a medicina esportiva não prescreve o hormônio para indivíduos que fazem exercício ou mesmo para atletas de alta performance.

"A medicina esportiva não trabalha com hormônios. Se uma pessoa tem uma deficiência hormonal por uma produção diminuída, ele deve procurar médicos especializados nas áreas de competência, como endocrinologista, urologista e ginecologista. A medicina do exercício e do esporte não trabalha com anabolizantes."

4. O ganho de massa obtido com anabolizantes é permanente mesmo após suspender o uso.

Mito. Mesmo que a pessoa tenha ganho de 6 a 8 quilos de massa muscular com o uso em doses absurdas de anabolizante, ao interrompê-lo, essa massa muscular atrofia. Então, não faz sentido usar por um período, colocando a saúde em risco, pois todo o resultado retrocede, na explicação do diretor científico da SBMEE.

"Além de serem inapropriados para esse fim, os anabolizantes são ministrados em altas doses, potencializando os efeitos, muitas vezes desconhecidos. Afinal, não há estudos científicos aprovados para altas dosagens, mas a literatura indica a baixa segurança do uso dessas substâncias nessas condições."

5. Após essa decisão do CFM, ninguém mais poderá usar anabolizantes.

injeção, hormônio - iStock - iStock
Imagem: iStock

Mito. A recomendação médica não sofreu alteração aos pacientes que apresentam deficiência na produção de hormônio com consequente redução da atividade sexual, perda da libido e dificuldade de ereção, no caso dos homens, e nas mulheres, quando há o diagnóstico do transtorno do desejo sexual hipoativo.

"O uso se mantém, exclusivamente, para tratar sinais e sintomas da baixa produção de testosterona, com comprovação de exame laboratorial, avaliação e diagnóstico feito pelo médico com especialidade em endocrinologia", explica o coautor do livro "Anabolizantes, evidências científicas: riscos e benefícios".

Há outras situações mais específicas, como em idosos e no tratamento de doenças, em que há perda significativa de peso e massa muscular.

6. O uso de anabolizantes no processo de afirmação de gênero também foi proibido.

Mito. Os homens transexuais fazem uso da substância para adquirirem características masculinas, como o surgimento de pelos, barba e mudanças de voz. O processo chamado de hormonização faz com que alguns ossos fiquem mais proeminentes.

Sabe-se que a dosagem não chega às altas doses como as para os fins estéticos, mas ainda não há estudos de longo prazo dos efeitos adversos, porém, pode haver aumento de colesterol e possíveis alterações cardiovasculares.

Por isso, explica André Camara de Oliveira, endocrinologista e diretor da SBEM-SP (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia - regional São Paulo), é preciso acompanhamento médico para controle e ajuste das doses, bem como para diagnosticar se há algum comprometimento adverso. "Muitos acabam tomando por conta própria e aumentando a dose para ficarem mais fortes, por exemplo, caindo no mau uso da substância."

7. Não há estudos científicos que confirmem os malefícios.

Mito. De acordo com Santos, existem estudos observacionais de pequeno acompanhamento que mostram as consequências do uso crônico em altas doses. "Seria impossível aprovar um estudo, pensando nos termos éticos, sabendo-se que existem danos ao organismo."