Topo

Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


'Estava só a casca, sem nada dentro': influenciadora fala sobre depressão

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Gabriele Maciel

Colaboração para o VivaBem

10/05/2023 04h00

A influenciadora digital Luísa Ferreira, 38, mais conhecida nas redes sociais como Chata de Galocha, revelou para seus seguidores que está se tratando de depressão. Em um vídeo no YouTube, ela compartilhou sobre seu diagnóstico e como está lidando com a doença.

"Em agosto do ano passado, eu fiz uma viagem para um lugar que eu amo e fiquei indiferente. Outras coisas que antes eu gostava, também deixaram de me dar prazer. Fiquei meio apática e fui percebendo que não estava conseguindo sentir nada. Não ficava nem muito triste e nem muito feliz. A sensação era que eu estava só a casca, sem nada por dentro", relata.

Depois de passar por algumas sessões com uma psicóloga e de comentar que as tarefas do dia a dia, como por roupa para lavar, estavam se tornando hercúleas, ela foi orientada a passar com um psiquiatra.

"Eu cheguei no consultório meio que já sabendo que estava com depressão porque sabia que passar um dia inteiro sentada na frente do sofá, ignorando qualquer coisa que precisasse ser feita, não representava o meu estado normal", conta Luísa, que deu início ao tratamento medicamentoso no final do ano passado.

Adepta de um estilo de vida saudável, a influenciadora afirma que praticar exercício físico e receber o sol da manhã enquanto caminha para a academia tem contribuído para a melhora de sua saúde mental. "Eu faço uma aula de bike indoor que é bem intensa e libera bastante endorfina. Depois, volto para casa caminhando, recebendo a luz do sol. Para mim, isso tem feito muita diferença", diz.

Depressão não tem cara

À primeira vista, a "influencer" é aquele tipo de pessoa que ninguém diria que tem depressão: ela trabalha, faz atividades físicas, viaja, tem uma vida "perfeita" mostrada nas redes sociais.

De acordo com Elisa Brietzke, professora do departamento de psiquiatria da Queen's University do Canadá, isso acontece com certa frequência. "Há pessoas que nem se imaginam com depressão porque, às custas muitas vezes de um esforço descomunal, continuam trabalhando, estudando, cuidando de casa etc. Toda energia é colocada naquilo que é socialmente mais visível", explica.

Para Luísa, o que funcionava era dividir as tarefas em blocos e fazer combinados com ela mesma. "Se eu tinha que responder um e-mail de trabalho, por exemplo, eu pensava: 'Você só precisa ligar o computador'. Depois: 'Tá, agora você só precisa ler os e-mails'. Eu ia de pouquinho em pouquinho", diz.

André Faro, com pós-doutorado em saúde mental e professor de psicologia da UFS (Universidade Federal de Sergipe), afirma ser importante desmistificar a depressão, já que nem sempre ela é incapacitante e ligada a uma tristeza profunda. "É importante dizermos que a depressão pode acometer qualquer um. Ela não tem cara e nem todos os sintomas se apresentam em todas as pessoas", diz.

Sintomas de depressão:

Tristeza

Falta ou excesso de sono

Falta ou excesso de apetite

Perda de interesse ou prazer nas coisas

Visão negativa da vida

Irritabilidade

Ansiedade

Dificuldade de concentração

Pensamentos de morte ou de suicídio

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico é feito por profissionais de saúde mental (psiquiatra e psicólogo), que através de entrevista com o paciente avaliam a presença de sintomas que caracterizam a doença. Também é levado em conta o impacto dessas ocorrências na vida da pessoa ao longo de um determinado período de tempo.

Os medicamentos mais utilizados para a depressão são os reguladores de humor, que atuam para aumentar a viabilidade química dos neurotransmissores, responsáveis pela sensação de bem-estar.

"Esses medicamentos geralmente demoram 15 dias para começar a fazer efeito e funcionam em aproximadamente 50% das pessoas", indica Dráulio Araújo, professor titular do Instituto do Cérebro da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte). No restante dos casos, chamados de depressão resistente, é possível fazer uso da neuromodulação, na qual se aplica um estímulo elétrico no cérebro.

Já a psicoterapia ajuda o paciente a desenvolver modos diferentes de avaliar as situações e os problemas. "Usualmente, as pessoas alcançam uma modificação das emoções porque o modo que a gente se sente depende de como a gente percebe as coisas", diz Faro.