Estágios do Alzheimer: veja como a doença progride ao longo dos anos
Samantha Cerquetani
Colaboração para VivaBem
11/05/2023 04h00
Com o envelhecimento da população, os casos de Alzheimer aumentaram bastante nas últimas décadas. E por ser uma doença neurodegenerativa, os sintomas vão progredindo com o passar do tempo.
Apesar de ainda não ter cura, o diagnóstico nas fases iniciais é importante para aliviar os sintomas e aumentar a qualidade de vida. Mas os sinais de Alzheimer vão além da falha de memória e se manifestam inicialmente de uma forma mais sutil.
Geralmente, a doença se desenvolve lentamente e piora ao longo dos anos. De forma geral, afeta a maioria das áreas cerebrais: atrapalha a memória, a autocrítica, a linguagem, altera a personalidade e comportamentos, dificulta a resolução dos problemas e a capacidade de andar, realizar hábitos de higiene e se alimentar.
Há uma degeneração progressiva e/ou morte dos neurônios. A causa ainda permanece incerta, entretanto há indícios de que o acúmulo de algumas proteínas no cérebro desempenha um papel fundamental no surgimento da doença. Denise França, neurologista do Hospital Sírio-Libanês (SP)
A seguir, veja os principais estágios do Alzheimer e sintomas característicos de cada fase.
Estágio pré-clínico (ou pré-demência)
Antes do aparecimento dos sintomas, o cérebro já sofre alterações com a doença. Mas é bastante raro identificar mudanças nesta fase inicial. Isso porque os comportamentos e a rotina não são afetados. No entanto, alguns exames de imagens podem detectar algumas alterações cerebrais.
Comprometimento cognitivo leve
Nesta fase, a pessoa apresenta alterações leves, mas que já impactam a sua memória e capacidade de raciocínio. Porém, as mudanças ainda não atrapalham os relacionamentos e o trabalho.
Surgem pequenos lapsos de memória, como esquecer a chave várias vezes ou não ir a compromissos. Também há dificuldade para lembrar-se de conversas recentes, e podem demorar a concluir tarefas e tomar decisões.
É importante que os familiares e pessoas mais próximas fiquem atentos aos primeiros sintomas. Essa pessoa precisa ser avaliada por um especialista, realizar exames e ter um diagnóstico. A progressão entre os estágios costuma demorar alguns anos. Marco Túlio Aguiar Mourão Ribeiro, geriatra e professor da UFC (Universidade Federal do Ceará)
Demência leve
Neste estágio, os sintomas anteriores se intensificam e é comum que os familiares já percebam as mudanças nos comportamentos. Ocorrem alterações significativas de memória e pensamentos que afetam o funcionamento diário.
É comum que o indivíduo esqueça as conversas e faça perguntas repetidas, não consegue mais tomar decisões importantes, perde dinheiro e objetos, por exemplo.
Além disso, alguns também demonstram mudanças na personalidade: ficam mais irritados, sem paciência e até mais agressivos. Muitos não conseguem mais expressar seus sentimentos ou se comunicar como antes.
Demência moderada
Geralmente, conforme a doença avança, a pessoa fica ainda mais confusa e esquecida. E, nesta fase, é comum que precise de mais ajuda para realizar as atividades diárias. Podem necessitar de alguém para tomar banho e se alimentar.
Muitos perdem a noção do tempo (dias da semana e horário) e espaço (não sabem mais onde moram) e começam a confundir familiares ou amigos. Algumas pessoas também começam a usar fraldas, já que perdem a capacidade de reter a urina ou fezes.
Há ainda casos de indivíduos que "inventam" histórias, ficam agitados, começam a "ver ou ouvir coisas" e apresentam crises de agressividade.
Outras situações comuns:
- Dificuldade para lembrar-se de eventos e datas importantes;
- Negação dos sintomas;
- Falta de expressão e emoções;
- Evitam situações sociais.
Demência grave
Nesta fase, a função cerebral fica bastante comprometida e a doença tem um impacto significativo na rotina nas e habilidades diárias. Geralmente, quem tem Alzheimer com demência grave ou severa apresenta as seguintes características e necessidades:
- Dificuldade para falar e se comunicar adequadamente;
- Requer assistência 24h para cuidados pessoais, não consegue mais se alimentar, tomar banho ou ir ao banheiro;
- Muitos não conseguem mais andar e ficam acamados;
- Alguns perdem a capacidade de engolir e precisam de alimentação enteral, ou seja, dieta líquida por meio de uma sonda no nariz ou diretamente no estômago.
Expectativa de vida de uma pessoa com Alzheimer
Estima-se que no Brasil haja em torno de 1,2 milhão de pessoas com Alzheimer e cerca de 100 mil novos casos por ano.
Já no mundo, calcula-se que ocorra um caso novo diagnosticado a cada quatro segundos: até 2050 a expectativa é que a condição afete 139 milhões de pessoas.
Mesmo com os números assustadores, a progressão da doença varia de pessoa para pessoa. No entanto, quando ela se manifesta precocemente, antes dos 60 anos, é comum que os sintomas avancem mais rapidamente.
A expectativa de vida também varia de acordo com a idade do indivíduo: após o diagnóstico, alguns vivem de três a 11 anos, mas muitos sobrevivem por mais de 20 anos com a condição.
Quem está mais propenso a ter Alzheimer?
Entre os fatores que aumentam o risco de a doença aparecer estão:
- Idade avançada, mais comum após os 65 anos;
- Histórico familiar e questões genéticas;
- Pessoas sedentárias e com hábitos pouco saudáveis;
- Indivíduos com outras condições de saúde, como hipertensão, colesterol, triglicerídeos elevados, diabetes;
- Baixo nível educacional pela menor reserva cognitiva, ou seja, recursos mentais e intelectuais adquiridos ao longo da vida.
Tratamento indicado
Os tratamentos farmacológicos vêm avançando bastante nos últimos anos. Porém, a maioria age nos mecanismos de formação e depósito da proteína que se aglomeram entre os neurônios no cérebro. Portanto, o tratamento não visa a cura da doença, apenas que ela avance mais lentamente.
Além disso, há também fármacos que atuam em sistemas de neurotransmissores que ficam deficientes com a progressão do problema de saúde.
Mesmo com os medicamentos, a doença avança. O objetivo do tratamento é que a progressão seja mais lenta. Além disso, controlam os sintomas comportamentais, como agressividade, confusão mental, agitação, sonolência excessiva, por exemplo. Por isso o diagnóstico precoce é fundamental para melhorar a qualidade de vida dessas pessoas. Natan Chehter, geriatra e membro da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia)