Dá para engolir uma cápsula e emagrecer, mas não é para todo mundo; entenda
Aprovado em 2022 pela Anvisa, o balão intragástrico deglutível é mais um aliado para quem quer emagrecer. Semelhante ao já conhecido balão tradicional, ele consiste em ocupar um espaço do estômago com uma determinada quantidade de líquido para promover uma saciedade prolongada.
O grande diferencial entre as duas modalidades está na forma como balão é implantado e retirado: não é necessário endoscopia e nem anestesia, como ocorre no método tradicional.
No deglutível, o paciente engole uma cápsula ligada a um cateter e com o auxílio de um raio-X é possível visualizar e encher a prótese de silicone no estômago do indivíduo em poucos minutos. Após 16 semanas, o dispositivo desinfla e é eliminado naturalmente pelas fezes. Fábio Miranda Ribeiro, pós-graduado em cirurgia geral e endoscopia digestiva e diretor médico na Clinica Soul Rio (RJ).
Com peso máximo de 97 kg, a empresária Érica Seabra, 39, já experimentou as duas modalidades após diversas tentativas frustradas para emagrecer.
Primeira tentativa
"Tinha tentado de tudo: dietas, chás, inibidores de apetite, mas o resultado nunca era satisfatório. Em 2021, viajei para a casa da minha mãe, em Minas Gerais, e fiquei sabendo do balão intragástrico por meio de um casal de amigos. Lá mesmo marquei a consulta com um especialista, fiz alguns exames e ele implantou o balão tradicional através de uma endoscopia", conta.
Nas primeiras semanas pós-procedimento, Érica sentiu enjoos, náuseas e precisou de um tempo para se adaptar.
"A sensação era de estufamento, comia porque tinha que comer, mas não sentia fome", relembra ela, que eliminou 33 kg —e chegou a 64 kg— nos 12 meses em que permaneceu com o balão, associado a exercício físico regular, dietas e acompanhamento multidisciplinar com médico, nutricionista e psicólogo.
"Procedimento foi tranquilo"
Oito meses após retirar o primeiro balão, o tradicional, Érica engordou 10 kg —5 kg de um reganho que já era esperado, e mais 5 kg influenciados por alguns episódios de ansiedade e compulsão alimentar. Na luta contra a balança, a empresária optou pela modalidade deglutível, que consiste em engolir uma cápsula. "O procedimento foi supertranquilo, não senti nada."
Segundos estudos, o balão intragástrico deglutível é eficaz na comparação com outros métodos de emagrecimento e promove uma perda de peso de até 15%, de acordo com João Remí de Freitas Júnior, endoscopista pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e membro titular da Sociedade Brasileira de Endoscopia.
Tanto o balão tradicional como o deglutível são indicados para pacientes com sobrepeso, obesos e superobesos que necessitam emagrecer antes de realizar a cirurgia bariátrica para reduzir os riscos cirúrgicos. Entretanto, o método é contraindicado para gestantes e pessoas que já operaram o estômago.
Na avaliação de Epifânio Júnior, cirurgião geral, endoscopista e mestre em gastroenterologia, que atua no Rio Grande do Norte, o surgimento de alternativas menos invasivas, como o balão deglutível, são sempre bem-vindas.
"Em pacientes com risco anestésico aumentado, o método se destaca, uma vez que não necessita de anestesia/sedação para colocação e retirada.
Tratamento multifatorial
Embora o dispositivo seja seguro e eficaz, Epifânio ressalta que a obesidade envolve uma longa e complexa jornada na qual paciente e médico discutem as melhores estratégias para o sucesso do tratamento.
Para Ribeiro, o balão auxilia e estimula o paciente a fazer mudanças em seu estilo de vida. "O indivíduo continuará a realizar dietas e exercícios físicos só que com resultados mais ágeis no emagrecimento e sem passar fome."
Submetida ao procedimento em fevereiro deste ano, Érica já perdeu 7 kg 17 dias após ter ingerido a cápsula. Para ela, as maiores vantagens em relação ao método tradicional são o rápido emagrecimento, a sensação mais confortável dentro do estômago e o acompanhamento multidisciplinar que é instantâneo.
"Recebi um smart watch e uma balança de bioimpedância que são conectados a uma plataforma digital na qual os profissionais acessam e monitoram meu tratamento mais de perto."
Exemplo da importância desse monitoramento é uma pesquisa da Liti Saúde, empresa voltada à perda de peso e mudança de estilo de vida com tratamento multidisciplinar e tecnologia, que realizou uma análise com dados clínicos de 120 pacientes com obesidade ou sobrepeso e ao menos uma comorbidade que permaneceram sob acompanhamento multidisciplinar por, no mínimo, cinco meses.
A análise avaliou a perda de peso em indivíduos de dois grupos: um que usou semaglutida (Ozempic) e outro que não. Testes estatísticos compararam a pesagem inicial com a final dos pacientes, assim como a diferença entre grupos.
Todos eles tiveram uma perda de peso significativa após o período, mesmo aqueles que não utilizaram o medicamento. A análise apontou, ainda, que a diferença de perda de peso entre os que tomaram o medicamento e os que não tomaram não foi significante.
O objetivo é ressaltar a importância do seguimento multidisciplinar durante e após a perda de peso, e que a combinação do atendimento humano através da tecnologia (teleconsultas) é capaz de gerar resultados.
Ponto fundamental: a grande dificuldade na relação com o peso é a manutenção dos resultados no longo prazo, o que não é atingido sem mudanças duradouras no estilo de vida. "Os medicamentos à base da semaglutida acabam sendo um auxílio válido para este processo, uma vez que a substância age sobre a sensação de saciedade e saciação, fazendo com que o apetite diminua e a pessoa coma em menor quantidade. Porém, uma vez cessado o uso e sem a criação de novos hábitos alimentares, o corpo tende a voltar ao seu peso inicial.", diz Debora Terribilli, médica pela USP e líder da equipe médica da Liti.
Tem risco?
Como qualquer procedimento, o balão intragástrico deglutível possui riscos. De acordo com João Remí de Freitas Júnior, os eventos adversos leves são náuseas, vômitos e intolerância à permanência.
Complicações graves são raras, com incidência em menos de 1% dos pacientes, e incluem migração do dispositivo para o intestino, contaminação do balão e perfuração gástrica.
Satisfeita com o resultado que já conseguiu em pouco tempo, Érica divide sua rotina de "balonada" em seu instagram (@balaointragastrico.ericaseabra) e se conecta com pessoas que usam, usaram ou pretendem usar o balão intragástrico. "Balão não é milagre, mas uma muleta, um apoio para quem quer emagrecer com um estilo de vida mais saudável."
Os especialistas listam as vantagens e desvantagens do balão intragástrico deglutível em comparação ao tradicional:
No método tradicional é necessário fazer endoscopia e anestesia para colocar e retirar o balão no estômago;
No deglutível, o paciente engole uma cápsula ligada a um cateter;
A eliminação do balão deglutível ocorre através das fezes após 16 semanas no estômago. No entanto, o tratamento pode durar de 6 a 18 meses, de acordo com a necessidade de cada paciente que é definida na consulta de avaliação médica (aí o paciente vai engolir um novo balão);
A adaptação ao balão tradicional varia de 3 a 5 dias, já no deglutível a incidência de enjoos iniciais é quase nula;
O deglutível pode causar desconforto ou dificuldade na hora de ingerir a cápsula, que é um pouco mais calibrosa;
O tempo de permanência é menor, visto que os balões tradicionais podem ficar de 6 meses a 1 ano no estômago da pessoa, promovendo uma redução de peso mais duradoura e um maior tempo de acompanhamento do paciente pela equipe multidisciplinar.
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