Faz mal compartilhar itens pessoais com animais de estimação?
Muita gente não vê problema em dividir com amigos, colegas ou familiares objetos pessoais em uso, como copo, garrafinha de água e talheres. Entretanto, vários problemas de saúde podem ser favorecidos pelo costume do compartilhamento. É que se estiverem contaminados, esses itens podem ser causadores de doenças, como hepatite A, herpes, amigdalite, gripe e covid-19.
A partir dessa lógica, compartilhar objetos pessoais com animais de estimação não seria diferente, embora os riscos envolvidos possam ser outros.
Cães e gatos, sobretudo os não vacinados e que perambulam fora de casa, podem transmitir a humanos as chamadas zoonoses, doenças infecciosas pelo contato com suas secreções: saliva, sangue, urina e fezes.
E se o pet for limpo e saudável?
Mesmo que o animalzinho não saia do petshop e do veterinário, não é muito higiênico e 100% seguro dividir com ele pratos e talheres que você utiliza no dia a dia, além de toalhas de banho e rosto, escovas de pentear, alicates de unha ou aparelhos que furam ou cortam, por exemplo.
Você pode desenvolver:
- Alergias respiratórias e asma
- Micose e infecções de pele
- Gastroenterites
- Infecções do trato urinário
- Conjuntivites
Nos últimos anos, revistas científicas como British Medical Journal e European Journal of Case Reports in Internal Medicine têm relatado casos de pessoas que morreram ou quase morreram —incluindo saudáveis— após serem infectadas pela bactéria C. canimorsus. Presente mesmo em alguns cães e gatos bem cuidados, ela não necessariamente é contraída por mordidas ou arranhões.
Nova descoberta preocupante
Se você costuma alimentar seus bichinhos em potes, vasilhas ou pratos destinados para humanos e que volta e meia voltam para o armário da cozinha, eis mais outro motivo para rever seus hábitos.
Segundo um estudo americano de 2022 publicado na revista científica Plos One, esses objetos, se usados por animais de estimação, ficam extremamente contaminados.
Às vezes, as cargas bacterianas encontradas neles são comparadas às dos banheiros. Já foram reportados vários surtos de doenças entre pessoas envolvendo as bactérias Escherichia coli e Salmonella, causadoras de dor e ardor ao urinar, diarreia constante, vômitos, febre, mal-estar geral e cansaço. Pessoas imunocomprometidas, idosos e bebês são os grupos mais vulneráveis.
Além de ser arriscado para si e aos outros alimentar seus bichos dessa forma, é igualmente contraindicado para a saúde usar utensílios pessoais para coletar ou estocar comida animal e depois fazer uma higienização com água fria, sem sabão.
Ou ainda preparar alimentos para pets, como vísceras, ossos e carnes que não consumimos, em superfícies como tábuas e pias.
Cuidados básicos preventivos
Para evitar uma série de doenças por conta de deslizes na maneira como você cria e interage com seu animalzinho de estimação, é importante garantir que ele tenha seus próprios itens (brinquedos, camas, vasilhas, caixa de fezes) e frequente locais limpos com periodicidade.
Pets não vacinados e vermifugados e com acesso à rua não devem dormir com os tutores e muito menos lamber seus rostos. É necessário ainda ter cautela com mordidas e arranhaduras.
Em se tratando de recém-nascidos, não é recomendado colocá-los com animais, por terem um sistema imunológico muito precoce e por conta do risco de sufocamento. Crianças em geral também não devem ter acesso a locais onde cachorros e gatos fazem suas necessidades.
Para evitar o contato entre gestantes e pacientes imunodeprimidos com fezes, urina e partículas contaminadas, é prudente que encarreguem outras pessoas para limpar as sujidades de seus animais.
Em se tratando de bebedouros e comedouros usados, devem ser lavados com sabão, água acima de 70°C e por pelo menos 30 segundos, depois serem secados com papel. De acordo com o estudo americano citado, essa sanitização diminui significativamente a contaminação das vasilhas, matando entre 90% a 99% dos microrganismos nocivos a humanos.
Fontes: Gerson Oliveira, doutor em medicina tropical pela UnB (Universidade de Brasília), especializado em doenças infecciosas; Lauro Ferreira, infectologista da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia); Marcelo Cabral, geriatra do Hospital Esperança Recife, da Rede D'Or; e Nelson Douglas Ejzenbaum, pediatra e neonatologista da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria).
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