Topo

Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


'Senti dor no dente, não abria a boca e descobri um AVC aos 18 anos'

Melany Ruzzene no hospital depois do AVC - Arquivo pessoal
Melany Ruzzene no hospital depois do AVC Imagem: Arquivo pessoal

Rebecca Vettore

Colaboração para VivaBem

24/05/2023 04h00

Melany Ruzzene, de 18 anos, foi encaminhada às pressas ao hospital mais próximo de sua casa depois de sentir dores fortes nos dentes, que resultaram em um travamento do maxilar.

A moradora de Taubaté, São Paulo, suspeitava que os nascimentos dos quatro dentes do siso eram a causa do problema no maxilar, mas, na verdade, a estudante estava sofrendo um AVC. Ao VivaBem, ela conta como tudo ocorreu.

"No dia 10 de fevereiro do ano passado, comecei a sentir fortes dores nos dentes. Achava que era por causa do nascimento dos meus sisos. A dor era tão forte que no terceiro dia não conseguia mais abrir o maxilar.

Fui para um hospital perto de casa, tomei medicação, não surtiu nenhum efeito. No dia seguinte, passei em um dentista buco-maxilo [especialista na região do maxilar], que deu outro medicamento e disse que, se não melhorasse, eu deveria retornar no dia seguinte. Ele deu o diagnóstico de trismo severo, que é um travamento na região do maxilar.

No dia 13, já não abria a boca ou falava e passei a sentir uma dor de cabeça insuportável. Era uma pressão do lado esquerdo, que ia da frente da cabeça até a nuca. Fui encaminhada para a emergência

Ao chegar tomei o mesmo medicamento do primeiro dia e não resolveu. Passei por um cirurgião de cabeça, infectologista, todos os médicos possíveis, fizeram diversos testes, como exame doppler [que analisa artérias e veias para diagnosticar doenças vasculares] e tomografia, e não sabiam o que eu tinha.

Foi a minha mãe, que é fisioterapeuta, que percebeu o AVC depois de pedir para eu sorrir, piscar, fazer cara de brava, para conferir se algum lado do meu rosto estava fraco.

Não conseguia fazer nada disso porque o lado esquerdo do meu corpo, rosto, braço e perna estavam moles. Quando tocaram no pé, eu sentia, porém não conseguia mexê-lo

Na sequência, os médicos foram avisados e entraram com medicação. A partir deste momento me internaram. Durante os 4 dias que passei no hospital, fiz fisioterapia com a minha mãe mesmo para voltar a abrir a boca e com uma fonoaudióloga do hospital.

Como demorou dois dias para eles colocarem uma sonda para me alimentar, acabou baixando a minha glicemia e eu quase entrei em coma. Além disso, diagnosticaram uma anemia, de antes do AVC, que tinha piorado, e foi necessário fazer uma transfusão de sangue.

Foto - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Melany Ruzzene no hospital
Imagem: Arquivo pessoal

No final, chegaram ao diagnóstico de acidente vascular cerebral não especificado: não souberam se era isquêmico [quando há obstrução de uma artéria] ou hemorrágico [quando há o rompimento de um vaso].

Eles não explicaram nada, inclusive solicitei o prontuário para saber mais do meu caso. Estou aguardando a chegada desse documento.

Pós-AVC

Quando voltei para casa, ainda estava arrastando a minha perna, não tinha força suficiente para levantá-la ou para dobrar o joelho. Para melhorar os movimentos, fiz terapia com choque todos os dias por 3 meses com a minha mãe. Eram 3 sessões por dia, com cada sessão durando uma hora.

Um mês depois do AVC, voltei no buco-maxilo para tratar o trismo e cuidar dos sisos. Precisei arrancar os quatro em uma cirurgia só.

Como tive um trismo severo e uma disfunção da articulação temporomandibular (uma lesão na ATM), por conta da pressão que fazia para abrir a boca, até hoje faço um acompanhamento com o dentista. A cada 6 meses faço radiografia e tomo medicação para dor.

Como ninguém sabe o que causou o AVC e ainda sinto uma pressão na ATM, fiz algumas mudanças na minha rotina. Comecei a fazer academia e passei a me alimentar melhor, tirando alimentos gordurosos e com muito sal da dieta, como batata frita."

O que é um AVC

O AVC acontece quando vasos que levam sangue ao cérebro entopem ou se rompem, provocando a paralisia da área cerebral que ficou sem circulação sanguínea.

Crianças e adolescentes também podem ter AVC, embora a incidência seja menor do que em adultos e idosos.

O principal motivo para a demora do diagnóstico de jovens é que médicos ainda não relacionam a doença a crianças e adolescentes, segundo o neurologista e especialista em AVC em jovens Ronan J. Vieira.

O AVC pode ocorrer em decorrência de uma doença no coração: forma-se um trombo e o coágulo sobe pela circulação e chega ao cérebro. Uma doença em que as artérias são obstruídas também pode causar o AVC. Ela causa uma inflamação ao redor do vaso, que depois gera um trombo dentro da parede do vaso ou o deixa mais estreito.

As doenças autoimunes, como lúpus, também podem ser motivadoras do acidente vascular cerebral em crianças.

Entre as outras causas menos frequentes estão uma má formação de artérias, que demora a se manifestar e gerar o AVC, e uma predisposição para a formação de coágulos.

E a dor de dente?

A dor de dente relatada por Melany pode ter sido uma possível causa para o AVC, segundo o especialista.

A artéria carótida passa longe dos dentes, mas pode ter sido atingida, se ela teve, na época, uma infecção tão grande na mandíbula que até fez surgir um abscesso (cavidade cheia de pus). Como consequência dessa infecção, pode ter gerado uma inflamação muito grande na área, chegando até a artéria carótida

Também pode ter havido uma confusão de dores, segundo o especialista. Como os sisos estavam incomodando, a jovem pode ter achado que a dor de cabeça foi causada por eles, mas na verdade era o AVC o causador do grande mal-estar e falta de movimentação na mandíbula.

Sintomas de um AVC

  • Travamento da face
  • Não conseguir falar ou abrir a boca
  • Ficar mais quieto
  • Falta de força em um lado do corpo