Cetorolaco: o que é, para que serve, efeitos colaterais e contraindicações
O cetorolaco é um potente analgésico que é utilizado para o tratamento da dor aguda de intensidade moderada a severa.
Trata-se de um fármaco classificado como AINE (anti-inflamatório não esteroidal ou não hormonal), é derivado do ácido acético que possui ação analgésica e antitérmica (antipirética).
Dado o perfil de seus efeitos colaterais esse medicamento só deve ser utilizado sob prescrição de um médico ou dentista, e orientação de um farmacêutico.
Em quais situações a medicação é indicada?
O cetorolaco é utilizado na prática clínica há cerca de 30 anos e seus efeitos são bastante conhecidos. É importante que você faça o uso racional desse remédio, ou seja, utilize-o de forma apropriada, na dose certa e pelo tempo adequado.
O medicamento pode ser indicado isolado ou em conjunto com outros remédios para tratar a dor aguda, moderada a severa, como aquela que ocorre após uma cirurgia. De modo geral, ele não é utilizado na dor crônica. Veja outros quadros nos quais o cetorolaco pode ser útil:
- Doenças reumatológicas (artrite reumatoide, osteoartrite)
- Dor muscular
- Dor nas costas
- Dor de cabeça
- Dor associada ao câncer (neuropática ou nos ossos)
- Traumas (fratura após um acidente)
Além disso, o fármaco tem uso oftálmico e é indicado para tratar ou prevenir inflamações em pessoas submetidas a cirurgias oculares, como a extração de catarata. As informações são de Leonardo Coutinho Ribeiro, farmacêutico integrante da Unidade de Farmácia Clínica e Dispensação Farmacêutica do HUCAM/UFES.
Ainda pode ser utilizado para atenuar:
- Sinais e sintomas da conjuntivite alérgica
- Dor ocular
- Sensação de corpo estranho nos olhos
- Fotofobia
- Ardência
Entenda como ele funciona
O remédio inibe substâncias que levam ao processo inflamatório (síntese de prostaglandinas por meio da inibição do sistema de enzima ciclo-oxigenase). Ao diminuir a inflamação, ele reduz a dor e também a febre.
Quando administrado por via oral, é absorvido pelo fígado e espera-se que, entre 30-40 minutos, alcance seu efeito máximo. O medicamento é eliminado do corpo principalmente pela via renal.
Conheça as apresentações disponíveis
Toragesic®, Toradol® e Acular® são algumas marcas do cetorolaco. Existem versões de referência, genéricas e similares.
Confira exemplos de apresentações e doses disponíveis:
- Solução oftálmica (colírio) - 4 mg, 5 mg;
- Solução Injetável para uso intramuscular ou intravenoso ( ampolas) - 30 mg;
- Comprimido sublingual - 10 mg;
- Solução oral - 20 mg.
O presidente do CRF-SP, Marcelo Polocow, esclarece que a depender da apresentação, o tempo de espera para o efeito desejado pode variar.
"Para a solução oral, são cerca de 30 a 60 minutos; o colírio, imediatamente após; enquanto a injeção intramuscular são de 5 a 50 minutos."
Cuidados com a automedicação
Embora esse medicamento não exija retenção de receita, o ideal é evitar a automedicação, dado o perfil dos efeitos colaterais dos anti-inflamatórios em geral.
Quais são as vantagens e desvantagens desse medicamento?
De acordo com Josenília Maria Alves Gomes, coordenadora do Ambulatório da Dor do HUWC-UFC, a maior vantagem do cetorolaco é que ele tem ação potente contra a dor, que é comparável à dos opioides.
Além disso, possui várias formas de apresentação, o que facilita o tratamento, inclusive entre pacientes com dificuldade para engolir. "Ele também não requer várias dosagens ao dia", completa.
Por outro lado, como desvantagem, os especialistas consultados ressaltam que ele não deve ser utilizado por longos períodos de tempo, dado o risco do aparecimento de úlcera gástrica e danos renais.
Saiba quais são as contraindicações
De modo geral, o grupo de medicamentos ao qual o cetorolaco pertence é considerado eficaz e seguro, mas existem algumas contraindicações e cuidados relacionados ao perfil de seus efeitos colaterais.
O fármaco não deve ser usado por pessoas que sejam hipersensíveis (ou tenham conhecimento de que alguém da família tenha tido reação semelhante) ao seu princípio ativo ou a qualquer outro componente de sua fórmula.
Esteja atento à presença das seguintes condições, que nem sempre são contraindicações absolutas, mas exigem cuidado de quem prescreve e de quem irá tomar o medicamento.
- Histórico de asma
- Gravidez, trabalho de parto, parto e amamentação
- Doenças ou falência dos rins
- Úlcera péptica ativa
- Histórico de sangramento ou perfuração gastrointestinal
- Ter mais de 75 anos e menores de 16 anos
- Período anterior a cirurgias grandes
- Intolerância à galactose
- Doenças do fígado
- Riscos cardiovasculares
Crianças e idosos podem usá-lo?
Os AINEs não são usualmente utilizados para o tratamento de crianças porque não são considerados seguros para este grupo.
No entanto, o cetorolaco tem sido uma alternativa para aliviar a dor de alguns pacientes. Como esta indicação não consta da bula, ela é definida como off label. De modo geral, a solução e o comprimido só têm indicação para jovens com idade superior a 16 anos.
Pacientes idosos podem ser beneficiados, mas os de idade avançada estão mais expostos a efeitos colaterais, especialmente considerando o tempo de tratamento e as doses utilizadas.
Além de maior cuidado diante da presença de outras doenças e do uso contínuo de outros medicamentos, a população geriátrica deve ser monitorada para controle de eventual sangramento gastrointestinal, especialmente quando o paciente esteja desidratado ou tenha alguma doença renal.
Estou grávida e pretendo amamentar. Posso usar o cetorolaco?
O medicamento não tem segurança comprovada para indicação nesse grupo, e já foram relatadas anormalidades congênitas com o uso de AINE.
Embora as pesquisas científicas não tenham apresentado resultados consistentes, o uso dessa classe de medicamento é contraindicada no último trimestre da gestação. A razão para isso é que pode haver atraso no parto, além de possível sangramento na mãe e do bebê.
A ordem é que nos primeiros 2 trimestres da gravidez não sejam indicados AINEs para mulheres grávidas, exceto quando o médico considerar que os benefícios deles superam os riscos aos quais elas estariam expostas.
A medicação pode passar pelo leite materno. Assim, é desaconselhado utilizá-lo durante a amamentação.
Ele pode atrapalhar a fertilidade?
Sim. Caso esteja planejando engravidar e necessite usar esse medicamento, converse com seu médico para que ele possa orientá-la sobre as melhores estratégias a serem adotadas.
Qual é a melhor forma de tomar esse medicamento?
Administrá-lo junto às refeições pode reduzir sua absorção. No entanto, essa medida pode aliviar o desconforto estomacal.
Converse com seu médico sobre a melhor forma de usá-lo porque, muitas vezes, o cetorolaco requer a administração conjunta com algum protetor gástrico.
Existe uma melhor hora do dia para usar esse medicamento?
Não. O importante é que o cetorolaco seja utilizada na forma indicada pelo seu médico.
O que faço quando esquecer de usar o remédio?
Quando isso ocorrer, tome-a assim que for possível. Caso observe que o horário da dose posterior está próximo, espere a hora certa para a administração da dose, e reinicie o esquema de uso do medicamento. É desaconselhado tomar duas doses de uma vez para compensar a que foi esquecida.
Se você sempre se esquece a hora certa de usar remédios, acione algum tipo de alarme para lembrar-se.
Quais são os possíveis efeitos colaterais?
Este medicamento é considerado bem tolerado, seguro e eficaz quando usado na forma prescrita pelo médico e sob seu monitoramento.
Apesar disso, os efeitos colaterais podem aparecer quando as doses utilizadas são mais altas e quando o fármaco é utilizado por período prolongado de tempo, ou por pacientes com idade superior a 75 anos.
Os efeitos indesejados mais comuns são de natureza gastrointestinal, como náusea, vômito, diarreia, constipação, dor ou desconforto abdominal, estomatite, eructação, boca seca, entre outros.
Além disso, podem ser observadas outras reações, destacando-se:
- Dor de cabeça
- Tontura
- Edema
- Sede excessiva
- Perda de apetite
- Dor muscular
Caso observe a presença de outros sintomas mais intensos durante o tratamento com esse medicamento, o melhor a fazer é informar o seu médico o mais rápido possível.
Interações medicamentosas
O cetorolaco possui algumas interações com outros medicamentos. Quando isso ocorre, pode haver alteração ou redução de seu efeito.
Avise o médico, o farmacêutico ou dentista, caso esteja fazendo uso (ou tenha feito uso recentemente) das substâncias abaixo descritas, que são apenas alguns exemplos das possíveis:
- Outros AINEs (ácido acetilsalicílico, ibuprofeno, celecoxibe)
- Anticoagulantes (varfarina, rivaroxabana)
- Moduladores de humor (lítio)
- Medicamento para tratar gota (colchicina)
- Antibióticos, inclusive os derivados de quinolonas (cefamandole e cefotetan)
- Antivirais (tenofovir)
- Imunossupressores (tacrolimo, ciclosporina)
- Antidepressivos ISRS (fluoxetina)
- Diuréticos (furosemida)
- Corticoides sistêmicos (dexametasona, prednisona, prednisolona):
- Antidiabéticos orais (glipizida)
- Anti-hipertensivos (clorotiazida)
Caso esteja usando algum tipo de fitoterápico ou suplemento, informe ao médico para que ele possa avaliar se esses itens podem prejudicar o tratamento.
Interação com álcool
Bebidas alcoólicas podem potencializar um efeito adverso/tóxico de todos os medicamentos da classe dos AINEs: o risco de sangramento gastrointestinal, que pode aumentar com esta combinação.
Interação com exames laboratoriais
O uso desse medicamento pode levar a alterações nos resultados de exames que investigam a coagulação sanguínea, funções renais (ureia sérica, creatinina, potássio), além das funções do fígado.
Informe ao médico ou ao pessoal do laboratório o uso dessa medicação no momento da realização desses exames.
Em casa, coloque em prática as seguintes dicas:
Observe a validade do medicamento indicado no cartucho. Lembre-se: após a abertura, alguns fármacos têm tempo de validade menor, o que também é influenciado pela forma como você o armazena.
Leia atentamente a bula ou as instruções de consumo do medicamento.
Ingira os comprimidos inteiros. Evite esmagá-los ou cortá-los ao meio —eles podem ferir sua boca ou garganta.
Em caso de cápsulas, não abra-as para colocar o conteúdo em água, alimentos ou mesmo para descartar. Sempre use a cápsula íntegra.
No caso de suspensões orais, agite bem o frasco antes de usar. E sempre limpe o copo dosador antes e após o uso. E armazene junto ao frasco do medicamento, para evitar misturar com outros medicamentos.
Respeite o limite da dosagem indicada.
Escolha um local protegido da luz e da umidade para armazenamento. Cozinhas e banheiros não são a melhor opção. A temperatura ambiente deve estar entre 15°C e 30°C.
Guarde seus remédios em compartimentos altos. A ideia é dificultar o acesso às crianças.
Procure saber quais locais próximos da sua casa aceitam o descarte de remédios. Algumas farmácias e indústrias farmacêuticas já têm projetos de coleta.
Evite descarte no lixo caseiro ou no vaso sanitário. Várias farmácias dispõem de área de descarte de medicamentos. Frascos vazios de vidro e plástico, bem como caixas e cartelas vazias podem ir para a reciclagem comum.
O Ministério da Saúde mantém uma cartilha para o uso racional de medicamentos (em pdf), mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos, da Fiocruz. Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.
Fontes: Amouni Mourad, farmacêutica, coordenadora do curso de farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP) e assessora técnica do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia em São Paulo); Josenília Maria Alves Gomes, médica anestesiologista, professora da UFC (Universidade Federal do Ceará) e coordenadora do Ambulatório da Dor do Hospital Universitário Walter Cantídio, que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares); Leonardo Coutinho Ribeiro, farmacêutico, especialista em farmácia clínica e análises clínicas, é doutorando em assistência farmacêutica; integra a Unidade de Farmácia Clínica e Dispensação Farmacêutica do HUCAM/Ufes (Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes da Universidade Federal do Espírito Santo), que integra a rede Ebserh; e Marcelo Polacow, farmacêutico, mestre e doutor em farmacologia pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e presidente do CRF-SP. Revisão técnica: Amouni Mourad.
Referências:
- Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)
- Mahmoodi AN, Kim PY. Ketorolac. [Atualizado em 2022 Abr 9]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023 Jan-. Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK545172/.
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