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'Cada um dorme a hora que quer': os casais que preferem camas separadas

Elba Oliveira e seu companheiro - Arquivo pessoal
Elba Oliveira e seu companheiro Imagem: Arquivo pessoal

Gabriele Maciel

Colaboração para o VivaBem

30/05/2023 04h00

A cama de casal ocupa um espaço importante no imaginário social e, para muitos, delimita o status quo de um relacionamento. Mais que servir ao sono, é lugar de intimidade e afetividade. Mas e quando casais optam conscientemente em dormir em camas separadas?

Essa foi a escolha feita em 2020 pela socióloga e escritora Elba Oliveira, 43. Ela e o marido, com quem é casada há 21 anos, decidiram em comum acordo que dormiriam em quartos separados.

"Mudamos de casa e sobrava um quarto no apartamento novo. Como estávamos passando muito tempo juntos devido à pandemia e o home office, achamos que seria uma boa. Além disso, outros detalhes que só fomos perceber depois também colaboram para que até hoje permaneçamos com essa decisão: eu gosto de dormir mais cedo, com a porta do quarto semiaberta e com um pouco de luz, e meu companheiro não", diz Oliveira.

Embora a escolha do casal não tenha relação com distúrbios do sono, a socióloga conta que os dois passaram a dormir melhor e que, inclusive, houve melhora em diversos aspectos da relação.

Cada um dorme e acorda na hora que quer e não atrapalha o outro. Além disso, resgatamos nossa individualidade e nos conectamos de uma outra forma. Elba Oliveira

No caso da aposentada Graciela Greblo, 68, o ronco do marido, com quem é casada há 44 anos, motivou a separação dos quartos.

"Passamos a dormir em quartos separados há 15 anos e foi um benefício enorme para o sono e para a nossa relação, porque antes ficávamos irritados um com o outro, já que dormíamos mal", relata.

Silvia Gonçalves Conway, especialista em psicologia do sono e mestre em ciências pela Unifesp, defende que a régua para medir um relacionamento não pode ser o fato de o casal dormir em camas separadas, afinal, cada um sabe o que funciona melhor para a relação.

"Ao longo da história e atualmente ainda em diversas culturas, o ato de dormir era coletivo, feito entre membros de um grupo familiar ou uma comunidade. Mas, hoje em dia, a escolha fica a cargo de critérios pessoais e da avaliação do próprio bem estar. Não há porque contestar casais que são felizes juntos, mesmo dormindo em camas separadas", explica.

Graciela Greblo e marido não dormem mais juntos há 15 anos - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Graciela Greblo e marido não dormem mais juntos há 15 anos
Imagem: Arquivo pessoal

Por que aplicar o "divórcio do sono"

Tirando o fato de que cada um tem as suas preferências na hora de dormir, há pessoas que apresentam distúrbios de sono, que são condições de saúde que afetam o descanso, como síndrome das pernas inquietas, bruxismo, apneia obstrutiva do sono, entre outras. E é bem possível que, em algum momento, a condição do parceiro atrapalhe não só o descanso dele, mas o seu também.

De acordo com especialistas, as principais queixas de casais que optam pelo divórcio do sono são:

insônia, que atinge 32% das mulheres;

ronco, que aflige 40% dos homens.

Apesar de não ser sugestão terapêutica, Emmanuelle Silva Tavares, especialista em psicologia do sono pela ABS (Sociedade Brasileira de Sono) e doutora em neurociência pela USP, afirma que, em alguns casos, fazer a separação de camas pode ser uma escolha positiva para o casal até o momento em que o tratamento melhore a questão reclamada.

"No transtorno comportamental do sono REM, por exemplo, o paciente se movimenta muito durante o sono. É como se ele estivesse vivenciando aquilo, então ele pode lutar, discutir, bater. E durante essa vivência, o paciente pode acabar machucando o companheiro", relata.

Para Mônica Andersen, diretora do Instituto do Sono e professora do Departamento de Psicobiologia da Unifesp, a opção também pode ser válida para casais que apresentam incompatibilidade de preferência cronotipo, ou seja, um é vespertino e o outro matutino.

Seja como for, Andersen diz que o sono deve ser valorizado. "Quando não se dorme bem, ocorre uma quebra do equilíbrio interno do corpo. Com isso, você tem riscos maiores de desenvolver diversas doenças, como diabetes, enxaqueca, dermatite de contato, entre outras", diz.

Por outro lado, uma pesquisa de 2010, publicada no periódico Psychosomatic Medicine, mostrou existir relação entre a interação interpessoal de casais e o sono. Na experiência, homens que tinham dormido bem, acabavam por se relacionar melhor com suas parceiras no dia seguinte. Já para mulheres, uma boa interação com o parceiro durante o dia acarretava em um sono reparador à noite.

"A gente sabe que a questão emocional, de estar ao lado de quem se ama, pode trazer segurança e isso levar ao relaxamento. Mas isso é de cada um. Não existe certo ou errado e o objetivo enquanto casal deve ser o de buscar uma qualidade do sono", diz Tavares.