Topo

Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Quando se preocupar com a diarreia, que mata mais de mil crianças por dia

Geralmente, o sinal de diarreia é a criança fazer cocô líquido ou pastoso, mais de cinco ou seis vezes por dia - iStock
Geralmente, o sinal de diarreia é a criança fazer cocô líquido ou pastoso, mais de cinco ou seis vezes por dia Imagem: iStock

Julia Moióli

Colaboração para VivaBem

30/05/2023 04h00

Quem, na infância, nunca ouviu frases como "Tire a mão da boca", "Lave as mãos antes de comer" ou "Só beba água filtrada"? Como qualquer conselho de mãe, vale mesmo levar essas orientações a sério: falta de higiene e água contaminada são as principais portas de entrada para vírus e bactérias causadores da diarreia.

Apesar de parecerem inofensivos, os desarranjos intestinais podem causar desidratação e, em casos mais sérios, até mesmo a morte. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), o problema é uma das cinco principais causas de morte de crianças menores de 5 anos no mundo, provocando mais de mil mortes por dia.

No Brasil, dados do Ministério da Saúde mostram que, em 2018, foram contabilizadas quase 80 mil internações, e as regiões com maiores taxas de mortalidade são Norte e Nordeste, de acordo com um estudo da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).

Não é difícil entender o perigo para as crianças: nessa fase, o sistema imunológico ainda está em desenvolvimento e, por isso, é afetado mais facilmente por infecções.

Some a isso dois agravantes de peso: crianças têm menos noção de higiene e o saneamento básico ainda é precário no país. De acordo com o ITB (Instituto Trata Brasil), 35 milhões de brasileiros não têm acesso à água tratada e cerca de 100 milhões não contam com rede de coleta de esgoto.

"Isso significa que dejetos são despejados a céu aberto, contaminando fontes de água com micro-organismos causadores da diarreia", explica a pediatra Rossiclei Pinheiro, professora da Faculdade de Medicina da Ufam (Universidade Federal do Amazonas).

bebê com diarreia - iStock - iStock
Em bebês, é importante ficar atento à presença de sangue e muco nas fezes, diminuição da urina e vômito excessivo
Imagem: iStock

Como identificar diarreia infantil

Os pais devem estar atentos a alterações na frequência, quantidade e consistência das fezes da criança, que se tornam mais líquidas ou pastosas.

Geralmente, o sinal é a criança fazer cocô mais de cinco ou seis vezes por dia.

No entanto, vale lembrar que bebês em regime exclusivo de aleitamento materno costumam fazer cocô após cada amamentação. Nesse caso, é importante observar outros sintomas de desidratação, como presença de sangue e muco nas fezes, diminuição da urina, boca seca, olho fundo e sede e vômito excessivos.

No Brasil, a maior parte dos casos sérios de diarreia aguda se dá pela contaminação por vírus, como adenovírus, norovírus e rotavírus. Apesar de ainda não haver vacina para os dois primeiros, o último já é contemplado desde 2006 pelo PNI (Programa Nacional de Imunização). Ou seja, está disponível gratuitamente no SUS.

Outros agentes causadores são bactérias, como Escherichia coli e Salmonella; e parasitas, como Entamoeba histolytica, Giardia lamblia e Ascaris lumbricoides.

Quando buscar atendimento médico?

Um quadro de diarreia aguda, causado por vírus e bactérias, pode durar até 14 dias. Caso persista por mais tempo, a recomendação dos especialistas é procurar um médico para investigar se há relação com outras doenças, intolerâncias alimentares e verminoses.

Também é necessário recorrer a uma unidade de saúde o mais rapidamente possível, para observação ou reposição intravenosa de líquidos quando os sintomas de desidratação se tornarem mais intensos e a criança estiver "mole", prostrada, irritada e sonolenta.

Criança lavando as mãos, lavar as mãos - iStock - iStock
Higienizar bem as mãos antes de comer é um dos principais cuidados para prevenir a diarreia infantil
Imagem: iStock

Como evitar e tratar o problema

88% das mortes por diarreia no mundo estão relacionadas a falta de higiene, má qualidade da água e ausência de saneamento básico, de acordo com o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância).

Para evitar o problema, as indicações dos especialistas consultados por VivaBem são:

De preferência, ofereça apenas água tratada e filtrada às crianças. Em sua ausência, opte pela fervida.

A alimentação de bebês até os seis meses de idade deve ser feita exclusivamente pelo aleitamento materno. Isso ajuda a prevenir diarreias e outras doenças porque, além de anticorpos, o leite materno contém bactérias boas que mantêm a flora intestinal saudável e impedem o desenvolvimento dos vírus.

Mantenha a carteira de vacinação das crianças em dia: a imunização contra o rotavírus deve ser feita em duas doses: a primeira, obrigatoriamente até 3 meses e 15 dias, e a última dose, até 7 meses e 29 dias. Apesar de não evitar a diarreia, a vacina previne internações e mortes.

Pais e crianças devem lavar as mãos antes e depois das refeições e depois de ir ao banheiro. É importante orientar as mais velhas sobre a importância da higiene pessoal adequada.

Conserve alimentos perecíveis na geladeira e faça sua correta higienização antes do consumo: lave vegetais consumidos crus com água e sabão e pingue algumas gotinhas de hipoclorito de sódio.

Acondicione bem o lixo para que ele não contamine o solo e, consequentemente, as fontes de água. Coloque-o na frente de sua residência apenas no dia da coleta. Redobre os cuidados em casos de enchentes e inundações, durante as épocas de chuvas intensas.

Realize a limpeza correta e frequente de caixas d'água.

Estimule a alimentação natural. Evite alimentos processados e industrializados para manter a microbiota intestinal saudável. Crianças desnutridas correm mais risco de ter piora da diarreia.

Evite o consumo de ovos crus, já que cerca de 1% deles pode estar contaminado por bactérias do gênero Salmonella, causadoras da infecção alimentar salmonelose.

Quando a criança está com diarreia, o principal tratamento é a hidratação:

Aumente a ingestão de líquidos, especialmente de água filtrada ou fervida;

Água de coco e soros de reidratação oral, distribuídos pelo SUS e vendidos em farmácias, também são boas opções, mas evite sucos de caixinha e chás, já que o excesso de açúcar piora a diarreia;

A oferta de leite materno para bebês e crianças é essencial neste momento e deve ser intensificada;

Evite alimentos irritantes para o trato gastrointestinal, como os ricos em açúcar e gorduras (chocolate, sorvete etc.) e frituras. Dê preferência a uma alimentação mais leve, à base de sopas, para prevenir a subnutrição.

FONTES: Kelly Aguiar, enfermeira sanitarista e pesquisadora da Fiocruz, no Rio de Janeiro; Marcos Jiro Osaki,pediatra do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo; e Rossiclei Pinheiro, professora da disciplina saúde da criança da FM-Ufam (Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Amazonas).