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É verdade que as crianças crescem enquanto dormem?

Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Janaína Silva

Colaboração para VivaBem

31/05/2023 04h00

Pode-se dizer que sim, afinal, sono e crescimento estão relacionados, e a infância é o período em que o organismo mais se desenvolve.

"Em apenas um ano, o peso é triplicado e aumenta-se 50% do tamanho", afirma Bárbara Barros de Figueiredo, pediatra do HC-UFPE (Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco), ligado à rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares).

Enquanto a criança dorme, formulam-se as vivências diárias, há o processamento dos sentimentos e a liberação de diversos hormônios que permitem crescer e amadurecer.

Além disso, o período de descanso contribui para o desenvolvimento e maturação do sistema nervoso central e potencializa o aprendizado, de acordo com Caroline Peev, pediatra e coordenadora do pronto-socorro do Sabará Hospital Infantil (SP).

Como agem os hormônios enquanto as crianças dormem?

Muitos hormônios são liberados e muitos deles são responsáveis pelo crescimento somático, ou seja, corpóreo.

Entre eles, o chamado hormônio do crescimento (GH), um dos mais importantes no processo.

O GH é produzido pela glândula hipófise, que se localiza na base do cérebro.

Ele é liberado pelo sistema nervoso central, em pulsos, ou seja, em pequenas doses, ao longo do dia, mas, predominantemente, durante o sono profundo.

O GH atua em diversos locais do corpo —tecidos, ossos e cartilagens— e estimula outros hormônios a agirem nos órgãos promovendo o crescimento.

Rotina é importante

As crianças necessitam ter regularidade nos horários, principalmente para dormir. Liubiana Arantes de Araújo, presidente do Departamento de Desenvolvimento e Comportamento da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), explica que a criança deve dormir cedo e ter uma boa noite de sono, pois é das 21h às 4h que o hormônio GH é produzido. "Se ela dorme muito tarde, há um prejuízo na produção."

Cada idade exige uma certa quantidade de horas, contudo é importante seguir algumas orientações:

Criar um ritual diário para que a criança entenda que é momento de relaxar, como tomar banho, ler, contar história e fazer massagem.

O ambiente deve ter temperatura agradável, iluminação reduzida e tranquilo.

Sem a presença de fatores que podem afetar o adormecer, como insetos.

Roupa confortável.

Induzir o sono sempre no mesmo local para que não precise transportar a criança após o adormecimento.

É aconselhável não utilizar telas pelo menos 2 horas antes de dormir. O uso excessivo ao longo do dia, é danoso para o descanso.

Evitar alimentos que tenham cafeína e atividade extenuantes e agitadas.

A rotina escolar é importante também para o sono e o crescimento. "A criança que tem gasto de energia, dorme, se alimenta melhor e se desenvolve com mais facilidade", afirma a coordenadora do pronto-socorro do Sabará.

Manter os horários para alimentação e sono nas férias e fins de semana colabora para o descanso reparador.

Atividades ao ar livre, dentro e fora da escola, são essenciais para manter o potencial de crescimento infantil.

Organizar a rotina de forma saudável para que não haja excesso de hormônios de estresse, como cortisol e adrenalina, que interferem nos processos metabólicos.

Fatores do crescimento

A altura é determinada por fatores genéticos, ambientais e nutricionais.

A nutrição materna e da criança contribui de forma decisiva na evolução do crescimento e cognição.

Quando a alimentação é insuficiente ou carente de nutrientes essenciais, o organismo diminui a atividade metabólica, poupando energia e desacelerando o desenvolvimento.

A água é necessária para o bom funcionamento do organismo, melhorando as funções dos rins, bexiga e intestino.

"Nascimento prematuro, restrição de crescimento intraútero, genética, fatores ambientais e presença de doenças vão influenciar no desenvolvimento", esclarece Bianca Lopes Forthaus, coordenadora do ambulatório de endocrinologia pediátrica do Hospital Municipal Infantil Menino Jesus (SP) sob gestão do IRSSL (Instituto de Responsabilidade Social Sírio-Libanês).

Como saber se a criança está crescendo de forma saudável?

O comparativo com outras crianças pode gerar angústias, pois cada uma tem uma velocidade de crescimento bem particular.

"Desenvolvimento infantil não é linear, portanto, deve sempre ser individualizado", enfatiza a médica do Hospital Municipal Infantil Menino Jesus.

As famílias precisam fazer acompanhamento de forma periódica com pediatras para avaliar a estatura segundo as curvas de crescimento.

Na caderneta da criança, distribuída pelo Ministério da Saúde, explica a pediatra do HC-UFPE, é possível verificar se ela tem baixa estatura, a velocidade de crescimento e altura alvo por meio da dos pais. "Assim, as alterações e os distúrbios são detectados de maneira precoce e tratados de forma adequada."

Segundo Araújo, da SBP, as curvas de crescimento possuem um padrão amplo de normalidade, então pode ser normal uma criança crescer na curva inferior e outra, na superior, desde que sejam saudáveis, com bom aporte nutricional.

Um dado importante é saber quantos centímetros a criança está crescendo por ano. A média anual de crescimento de uma criança que não está na puberdade é em torno de 5-6 cm, então, caso esteja crescendo acima ou abaixo disso, é necessário investigar.

Para os pais prestarem atenção:

  • Crescimento menor de 4 cm ao ano após os 3 anos de idade
  • Crianças muito mais baixas ou altas comparadas aos colegas da mesma idade e gênero
  • Mais de 2 anos sem trocar roupas e sapatos ou perda acelerada

Doenças que podem afetar o crescimento:

Doenças crônicas: anemia, doenças gastrointestinais disabsortivas, que dificultam a absorção dos nutrientes, como a inflamatória intestinal, celíaca e fibrose cística.

Doenças endócrinas: hipotireoidismo, deficiência do hormônio de crescimento, Síndrome de Cushing, raquitismo e puberdade precoce.

Displasias esqueléticas: acondroplasia, osteogênese imperfeita, entre outras.

Síndromes genéticas: Turner, Noonan, Silver-Russel e Down.

Outros fatores de risco são: antecedentes de síndromes genéticas, histórico familiar de baixa estatura, diagnóstico de doenças crônicas, uso crônico de glicocorticoides, infecções de repetição, uso de quimioterápicos e exposição à radioterapia.