Anti-inflamatórios: veja os tipos, para que serve e efeitos colaterais
É provável que você já tenha usado algum tipo de anti-inflamatório para combater a dor. Mas, além disso, o medicamento é eficaz para tratar a inflamação decorrente de doenças que comprometem órgãos e podem causar mortes, sem o tratamento adequado.
Vale destacar que a inflamação é um processo em que o sistema de defesa do corpo tenta proteger o organismo contra infecções, elementos estranhos ou uma agressão externa. Mas também ocorre quando há um problema no sistema imunológico, que passa a atuar contra os próprios tecidos e órgãos.
Existem três grupos principais de medicamentos anti-inflamatórios disponíveis, que incluem:
- AINEs (anti-inflamatórios não esteroides)
- Corticosteroides
- Inibidores da COX-2 (cicloxigenase)
Estes medicamentos podem ser prescritos por médicos de diversas especialidades. Geralmente, são encontrados facilmente em farmácias em várias apresentações: comprimidos, cápsulas, suspensão oral, injetável, gel tópico e efervescentes.
A seguir, veja detalhes de como funcionam no organismo e em quais casos são indicados.
Os anti-inflamatórios não esteroides
Os anti-inflamatórios não esteroides ou não esteroidais, conhecidos como AINEs ou anti-inflamatórios não hormonais, são medicamentos que ajudam a reduzir a inflamação e dores leves e moderadas, além da febre.
Funcionam inibindo a produção de uma substância chamada prostaglandina, que é responsável por causar inflamação no corpo. Os AINEs bloqueiam a ação de uma enzima chamada COX (cicloxigenase), que produz a prostaglandina. Isso ajuda a aliviar os sintomas da inflamação, como dores e inchaços. Fernanda Ostrovski, farmacêutica e coordenadora do curso de farmácia da PUC-PR
Sendo assim, os AINEs são indicados para o tratamento para alívio sintomático ou controle de doenças crônicas.
Entre as condições indicadas estão:
- Artrite
- Lesões musculares
- Dores de cabeça e enxaquecas
- Cólicas menstruais
- Contusões, distensão muscular ou entorses
- Estomatite e gengivite
- Dor de dente
Entre os AINEs mais conhecidos e usados podemos citar:
- Ibuprofeno (Advil e Motrin);
- Naproxeno (Naprosyn e Aleve);
- Diclofenaco (Voltaren e Cataflam);
- Aspirina ou ácido acetilsalicílico (AAS);
- Celecoxibe (Celebra)
Há ainda os inibidores da COX-2, que agem inibindo seletivamente a COX-2 —uma enzima que produz substâncias que causam inflamação. Porém, ao mesmo tempo, protege a mucosa do estômago e minimiza os efeitos colaterais que costumam ocorrer com outros tipos de AINEs.
Entre os inibidores da COX-2 mais usados estão:
- Celecoxibe (Celebra)
- Etoricoxibe (Arcoxia)
Os corticosteroides
Conhecidos também como corticoides ou cortisona, são medicamentos sintéticos usados para reduzir a inflamação. Eles são feitos em laboratório e se assemelham a hormônios produzidos pelas glândulas supra-renais, que possuem ação anti-inflamatória.
"Os corticosteroides sintéticos, usados como medicamentos, imitam a ação dos hormônios corticosteroides naturais. Portanto, bloqueiam a produção de substâncias químicas inflamatórias, como as citocinas. Isso reduz os sintomas da inflamação, como a vermelhidão, a dor e o inchaço", explica Ostrovski.
De forma geral, os corticosteroides são indicados para tratar inflamações mais graves e sistêmicas, como as associadas às doenças autoimunes. É o caso da artrite reumatoide, lúpus e doença inflamatória intestinal. Além disso, aliviam sintomas de alergias, asma e outras condições inflamatórias.
Entre os corticosteroides mais conhecidos e usados podemos citar:
- Prednisona (Predsim, Meticorten)
- Dexametasona (Decadron)
- Hidrocortisona (Solu-Cortef e Hidrocortisona Sódica)
- Metilprednisolona (Depo-Medrol)
De acordo com Maria Fernanda Barros Brandão, farmacêutica do CRF-BA (Conselho Regional de Farmácia da Bahia), os corticosteroides produzem seu efeito por meio de múltiplas vias.
"Em geral, apresentam efeitos anti-inflamatórios e imunossupressores. Também metabolizam proteínas e carboidratos. Além de atuar no sistema nervoso central e nas células sanguíneas", destaca.
Efeitos colaterais dos anti-inflamatórios
Os efeitos colaterais dos anti-inflamatórios variam de acordo com o tipo, tempo de uso e quantidade.
Os especialistas reforçam que os anti-inflamatórios corticoides devem ser usados por curtos períodos, pois podem interagir com outros medicamentos e também devido aos seus efeitos colaterais.
"É comum que ocorra aumento de peso, náusea e insônia. Os efeitos adversos dos corticosteroides parecem estar relacionados tanto com a dose média quanto com a duração cumulativa", complementa Brandão.
Veja abaixo detalhes dos efeitos adversos dos anti-inflamatórios.
AINEs:
- Problemas de estômago, como úlceras e sangramento gástrico
- Problemas renais, como insuficiência renal aguda ou crônica
- Problemas cardiovasculares, como ataques cardíacos e AVCs
Corticosteroides:
- Retenção de líquidos e inchaços
- Infecções
- Osteoporose e fraturas ósseas
- Diabetes e hipertensão arterial
- Distúrbios gastrointestinais e dermatológicos
- Catarata e glaucoma
Cuidado com a automedicação
Quem opta por usar um anti-inflamatório sem consultar um médico aumenta o risco de ter efeitos colaterais e complicações graves. Isso porque as doses inadequadas ou uso prolongado além do recomendado comprometem o organismo de forma geral.
Entre os riscos da automedicação de anti-inflamatórios destacam-se:
Interferência com outros medicamentos.
Agravamento de doenças, pois a automedicação tende a mascarar sintomas de problemas de saúde. Essa atitude leva a um atraso no diagnóstico e impede tratamento adequado.
Aumento do risco de sangramentos em pessoas com problemas de coagulação.
Problemas renais e cardiovasculares —principalmente em pessoas com histórico médico de doenças que afetam os órgãos.
Contraindicações
Seguem abaixo as principais contraindicações de uso, de acordo com o tipo de anti-inflamatório:
Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs)
- Histórico de reações alérgicas a AINEs
- Úlcera péptica ou sangramento gastrointestinal
- Insuficiência renal ou hepática grave
- Asma brônquica
- Gravidez e lactação
- Crianças menores de 12 anos
Corticosteroides
- Infecções sistêmicas (como tuberculose, herpes-zóster ou infecções fúngicas)
- Imunossupressão
- Gravidez e lactação
- Diabetes mellitus descompensado
- Glaucoma
- Hipertensão arterial grave
- Úlcera péptica ou sangramento gastrointestinal
Idosos, grávidas, crianças e o uso de anti-inflamatórios
É muito importante que as crianças, idosos e gestantes se consultem com um especialista para saber sobre os riscos e formas de uso dos anti-inflamatórios.
Veja abaixo detalhes sobre os riscos para cada grupo específico.
Crianças
A segurança e eficácia desses medicamentos em crianças ainda não foram totalmente estabelecidas.
Elas podem ter um risco aumentado de efeitos colaterais, como danos renais e gastrointestinais.
O uso em crianças deve ser monitorado de perto pelo médico, em doses baixas e pelo menor tempo possível.
Idosos
Esta faixa etária é mais suscetível a efeitos colaterais, como sangramento gastrointestinal, insuficiência renal e cardíaca e hipertensão arterial.
Já no caso do uso de corticosteroides, há o risco aumentado de osteoporose, hipertensão arterial, diabetes mellitus e imunossupressão.
Portanto, o uso de corticosteroides em idosos deve ser feito com cautela, em doses mais baixas e sob acompanhamento médico adequado.
Gestantes e lactantes
De forma geral, o uso de anti-inflamatórios durante a gravidez e no período de amamentação deve ser evitado e usados apenas com recomendação médica.
Isso porque há o risco de causar complicações para a mãe e o feto, que está se desenvolvendo ou passar para o bebê por meio do leite materno.
No entanto, em algumas situações, como em casos de artrite reumatoide, pode ser necessário o uso do medicamento.
Álcool corta o efeito dos anti-inflamatórios?
Não. No entanto, não devemos ingerir álcool durante o tratamento com anti-inflamatórios, pois essa atitude aumenta o risco de efeitos colaterais gastrointestinais, como úlceras e hemorragias.
Além disso, o uso excessivo de álcool prejudica a função hepática e provoca problemas no órgão.
O uso prolongado de anti-inflamatórios é prejudicial?
Sim. O risco de uso prolongado destes medicamentos aumenta o risco dos efeitos adversos anteriormente citados. Principalmente os AINEs e corticosteroides.
É preciso avaliar o risco e o benefício do uso contínuo. Nesses casos, é recomendado acompanhamento médico com exames laboratoriais periódicos para monitorar hemograma, função renal e hepática. Além disso, é necessário mensurar a pressão arterial regularmente. Caso ela aumente, deve ser descontinuado o uso do medicamento. Levi Jales Neto, reumatologista do Hospital São Camilo (SP)
No entanto, a diminuição rápida ou a retirada abrupta dos corticosteroides pode causar problemas.
"A redução deve ser gradual, com objetivo de prevenir o risco de recorrência da atividade da doença de base ou aparecimento dos sintomas da deficiência de cortisol. Inicialmente, é indicado a redução gradativa de 10% a 20% da dose", explica Brandão.
Interação com outros medicamentos
É fundamental falar para o médico quais são os medicamentos usados para evitar interações entre os fármacos e aumentar os riscos à saúde.
O uso de AINEs e inibidores seletivos da COX-2 com anticoagulantes aumenta o risco de sangramentos, já que afetam a coagulação sanguínea.
Além disso, quando ingerido com diuréticos, aumentam o risco de toxicidade renal.
Também podem interferir na eficácia dos medicamentos para pressão arterial.
Já os corticosteroides costumam afetar a eficácia dos medicamentos para diabetes, aumentando os níveis de açúcar no sangue.
E também há o risco de toxicidade hepática quando usados simultaneamente com alguns medicamentos para epilepsia.
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