O filme "2 Corações" foi lançado nos cinemas em 2020, mas chegou a Netflix no último dia 23 de maio. A trama é inspirada em uma história real. Emocionante, a película tem feito bastante sucesso no catálogo da plataforma de streaming, figurando no top 10 nos últimos dias.
A sinopse diz "em histórias de amor paralelas, as vidas do universitário Chris e do rico empresário Jorge se cruzam em uma profunda reviravolta do destino", mas é muito mais do que isso.
Atenção: se você pretende assistir e não gosta de spoilers, é melhor parar por aqui (e preparar o lencinho).
A história do filme é contada no livro '"All My Tomorrows: A Story of Tragedy, Transplant, and Hope" ("Todos os Meus Amanhãs: Uma História de Tragédia, Transplante e Esperança", em tradução livre), que foi escrito pelo pai de Chris, um dos protagonistas.
E por que estamos falando sobre isso em VivaBem? Porque saúde é o tema transversal do filme todo.
O filme se passa nos EUA. O cubano Jorge Bolivar (Adan Canto), que na vida real é Jorge Bacardi —sim, ele mesmo, o das bebidas alcoólicas—, é mostrado desde o começo da trama tendo muita dificuldade de respirar. Os médicos chegaram a dizer que ele não passaria dos 12 anos. Mas passou.
Ainda criança, foi diagnosticado erroneamente com fibrose cística —doença grave, genética e crônica, que causa danos no sistema respiratório e digestivo, muitas vezes impedindo os pacientes de respirar. Já mais velho, descobre que na verdade a sua condição é a discinesia ciliar primária, uma desordem pulmonar não só rara, como também bastante perigosa.
Segundo o Jornal Brasileiro de Pneumologia, trata-se de uma doença genética que compromete a estrutura e/ou a função ciliar, causando retenção de muco e bactérias no trato respiratório e levando a infecções crônicas nas vias aéreas superiores e inferiores e até problemas de fertilidade —isso é retratado no filme, quando Jorge não consegue ter filhos com a esposa Leslie (Radha Mitchell).
Em certo momento, a única solução para Jorge é um transplante de pulmão.
Paralelamente, a trama mostra a vida de Christopher Gregory (Jacob Elordi), um jovem feliz, apaixonado por Sam Peters (Tiera Skovbye), e que leva uma vida bastante normal até desmaiar na faculdade por conta do rompimento de um aneurisma e morrer aos 19 anos.
Chris havia manifestado o desejo de ser doador de órgãos, e assim foi feito, pelo menos sete pessoas foram ajudadas pelo ato do jovem. E é aí que as histórias se conectam: uma delas foi Jorge, que recebeu os pulmões do universitário.
A agência que cuida dos transplantes nos EUA intermediou uma carta de Jorge à família de Chris em que ele conta sua história e diz que apelidou o "dono" dos seus pulmões de Gabriel, o arcanjo anunciador, por excelência, das revelações divinas. A família responde, e um encontro entre eles —bem emocionante— acontece.
Doação de órgãos é fundamental
Muitas vezes o transplante de órgãos pode ser a única esperança de vida ou a oportunidade de um recomeço para pessoas que precisam de doação. O SUS tem o maior programa público de transplante do mundo, no qual cerca de 87% dos transplantes de órgãos são feitos com recursos públicos. Para continuar assim, é preciso que a população se conscientize da importância do ato de doar um órgão.
O número de famílias que não autorizam a doação de órgãos dos seus familiares que estão em morte cerebral aumentou 18% em três anos e é a maior taxa de recusa dos últimos dez anos, aponta o relatório anual da ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos) referente ao ano de 2022.
Segundo o levantamento, a negativa familiar para doação de órgãos em 2019, antes da pandemia, era de 40% e, no ano passado, atingiu 47%..
O transplante é um procedimento cirúrgico que consiste na reposição de um órgão (coração, fígado, pâncreas, pulmão, rim) ou tecido (medula óssea, ossos, córneas) de uma pessoa doente (receptor) por outro órgão ou tecido normal de um doador, vivo ou morto.
O diagnóstico de morte encefálica é regulamentado pelo Conselho Federal de Medicina. Dois médicos diferentes examinam o paciente, sempre com a comprovação de um exame complementar, que é interpretado por um terceiro médico.
Para ser um doador, basta conversar com sua família sobre o seu desejo. No Brasil, a doação de órgãos só será feita após a autorização familiar.
Se a família autoriza a doação, é dada a largada para um processo que necessita da agilidade dos profissionais. Quando os órgãos são retirados, o relógio começa a contar. Fora do corpo, eles têm um "prazo de validade" e cada segundo é importante para que o órgão ou tecido chegue ao receptor.
"O que a gente sempre conversa com os parentes é que este momento da doação dos órgãos pode ser a última chance de realizar o desejo da pessoa", explica Bruna Araújo, enfermeira da OPO (Organização de Procura de Órgãos), da Unifesp, que tem essas conversas diariamente com as famílias. Ela acredita ser fundamental a conscientização da população sobre a importância do ato que é doar um órgão:
É um ato de amor e é pela vida de pessoas que não conhecemos. Doar órgãos é doar vida. Bruna Araújo, enfermeira
André Watanabe, cirurgião do aparelho digestivo e coordenador do Programa de Transplante de Fígado do Hospital Brasília, relembra que muitas pessoas não autorizam a doação por conta de mitos envolvendo o assunto.
"Manifeste seu desejo de ser doador, pois normalmente a família respeita. Um só doador pode salvar diversas vidas", afirma. "Você acompanha um paciente em estado muito grave e, com o transplante, é possível devolver a vida dele, em um curto espaço de tempo. Você muda a vida dessa pessoa."
Ainda em vida, é possível ajudar pessoas que precisam de transplante de medula óssea ao se cadastrar no site do Redome (Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea), do Ministério da Saúde. Não há nenhum outro cadastro para doar, voluntariamente, outros órgãos ou tecidos.
A história real
Jorge Bacardi fez o transplante de pulmão duplo no campus da Flórida da Clínica Mayo, em 2008, o que permitiu que tivesse sua primeira respiração de ar completa aos 64 anos de idade.
A familia Bacardi doou recursos para a construção da "Gabriel House of Care", no campus da Clínica Mayo em Jacksonville, na Flórida (EUA), para fornecer hospedagem acessível, por longo período e em um ambiente com facilidades, a pacientes visitantes de transplante e oncologia de radiação.
Jorge auxiliou na produção de "2 Corações" ao lado da esposa, mas faleceu pouco antes da estreia do filme, em setembro de 2020. O empresário tinha 76 anos.
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