Mara Gabrilli sobre exoesqueleto: '1ª vez que ando com tanta autonomia'
A senadora Mara Gabrilli (PSD-SP), 55, passou três dias nos EUA para testar uma nova tecnologia para pessoas com algum tipo de deficiência que afeta a mobilidade.
Tetraplégica há 30 anos, a senadora utilizou o Atalante, um exoesqueleto que dá suporte para o paciente conseguir andar —funciona como uma "roupa" que a pessoa veste e é controlado a partir de uma programação feita previamente.
Quem criou? O Atalante é da empresa francesa Wandercraft e faz com que a pessoa consiga se inclinar, sentar e levantar, andar de frente, de costas e de lado.
Quem pode se beneficiar? O exoesqueleto pode ser usado por pessoas com diferentes tipos de comprometimento de mobilidade, como sequelas de AVC (acidente vascular cerebral), lesão medular e Parkinson.
Nos EUA, o exoesqueleto recebeu aprovação da FDA, a agência de alimentos e medicamentos, em dezembro de 2022, para treinamento de marcha em pacientes que fazem reabilitação pós-AVC.
Mara relata experiência com exoesqueleto
A senadora já estava acostumada a utilizar um aparelho semelhante no Brasil. Durante três vezes na semana, Mara usa o Lokomat, um exoesqueleto que deixa o paciente erguido em cima de uma esteira. Mas o Atalante é diferente.
O Lokomat tem até marcha, mas você não sai do lugar, você fica presa ali. É a primeira vez que ando com tanta autonomia. (...) Com a força no corpo e os sensores, você consegue sair 'dando rolê'. Não fica parada no mesmo local. Mara Gabrilli em entrevista a VivaBem
Além disso, a senadora disse que o Atalante é leve, diferente dos outros que está acostumada a usar. Em um dia, Mara conseguiu andar por cerca de 1 hora. No dia seguinte, foram aproximadamente 10 minutos a mais.
"A equipe ficou impressionada. Eles já treinaram mais de cem pessoas e isso nunca aconteceu com pessoas com tetraplegia. Me reabilito pelo SUS e eles me consideraram 'muito fora da curva'", conta.
Tradicionalmente, a ideia de um exoesqueleto é ter uma roupa que o paciente veste, como uma armadura, e, a partir desta conexão, é possível desenvolver uma condição funcional mais abrangente. Linamara Rizzo Battistella, professora titular de fisiatria da FMUSP e idealizadora da Rede Lucy Montoro
Benefícios do exoesqueleto Atalante
Linamara Rizzo Battistella, especialista em medicina física e reabilitação, professora titular de fisiatria da FMUSP e idealizadora da Rede Lucy Montoro, conheceu a tecnologia no mesmo dia que Mara Gabrilli e listou os benefícios do exoesqueleto:
É mais leve do que outros modelos de exoesqueleto.
Utiliza estimulação elétrica no corpo com auxílio de sensores.
Tem sistema inteligente que permite monitorização do paciente, trazendo mais segurança.
É um modelo que consegue se ajustar de acordo com as medidas do paciente, tornando-se mais acessível.
Para "ativar" o exoesqueleto, a pessoa levanta o tronco para andar. Com isso, o sensor manda um estímulo para o corpo. Quando a pessoa para de "forçar" o tronco, o sensor identifica a "parada" e estabiliza o exoesqueleto.
"Se a pessoa parar bruscamente, o exoesqueleto consegue segurar a pessoa. É um bom mecanismo de segurança. Se ela andar com pouca força, o sensor percebe e a estimulação é mais intensa", explica Battistella.
No momento, o Atalante só pode ser usado em ambientes clínicos, com o acompanhamento de especialistas.
Uso do aparelho exige preparo físico
Segundo Mara, a tecnologia identificou 30% de força do exoesqueleto e 70% de seu próprio corpo. Mas é importante ressaltar que a senadora tem um treino intenso semanal desde que ficou tetraplégica —o que é fundamental para usar esse tipo de aparelho.
A senadora contou que não imaginava que ainda tinha tanta força, mas depois que utilizou o exoesqueleto, viu que todo o corpo dela tinha trabalhado, conforme mostrou a tecnologia.
Continuo dizendo que a memória da paralisia é maior que a paralisia em si. O Atalante mexeu em partes do meu corpo que, com certeza, meu cérebro registrou, relembrou e ativou. Mara Gabrilli
Se Mara, por exemplo, não tivesse mais nenhum movimento na perna, o aparelho faria tudo sozinho, explica a professora da FMUSP.
"Mara tem um controle do corpo que é adequado ao uso do robô. Com uma lesão incompleta e, com o movimento que restou no corpo dela, ela treinou muito bem desde o primeiro dia."
Battistella conta ainda que a Rede Lucy Montoro já realizou a compra do exoesqueleto para testar entre os pacientes que fazem reabilitação no local. "Entre todos que conheci, esse produto, além de outro feito na China, atende a nossa a ideia de ser algo universal, para todos os pacientes."
Criada pelo governo do estado de São Paulo, a Rede de Reabilitação Lucy Montoro realiza programas de reabilitação desenhados para cada paciente, orquestrados por equipes multidisciplinares especializadas, com suporte de altas tecnologias.
Existem mais modelos de exoesqueleto
Um deles é controlado pelo cérebro e, desde 2012, o cientista brasileiro Miguel Nicolelis trabalha com esse tipo de tecnologia.
"Este tipo de exoesqueleto que criei permite que o usuário use o próprio cérebro para controlar os movimentos das pernas e ainda recebe feedback dos movimentos. Tudo isso usando apenas um Iphone", explica o também professor do Departamento de Neurobiologia da Duke University (EUA).
De acordo com o cientista, desta forma, os pacientes que usaram a tecnologia conseguiram uma recuperação parcial de movimentos das pernas, além do controle da bexiga e intestino. Para Nicolelis, o tipo de modelo comprado pela Lucy Montoro é "ultrapassado".
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