Jovens contam em vídeo experiência ruim com Ozempic: 'Ficamos internadas'

O relato de duas amigas sobre uso do Ozempic viralizou nas últimas semanas. Com mais de meio milhão de views, o vídeo, publicado no dia 24 de maio, conta como as duas ficaram internadas no período em que estavam usando o medicamento.

A influenciadora digital Lara Akel, 23, decidiu experimentar o Ozempic em 2022, após ver o sucesso que ele estava fazendo nas redes sociais. Mesmo com 53 kg, ela queria emagrecer de forma rápida, e acreditava que o medicamento poderia ser a solução. Ela procurou um endocrinologista, que, para sua surpresa, também estava tomando o medicamento.

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Todo mundo estava descobrindo o Ozempic e eu falei: 'Tá, vou tomar também, porque quero ficar magra também, final de ano chegando'. Lara Akel, em vídeo publicado no TikTok

O problema é que Lara estava tomando antibiótico e continuou bebendo álcool no mesmo período em que tomou Ozempic. O uso só foi interrompido após um susto: "Fui para o hospital com muita dor e descobri que a parede do meu estômago estava queimada. Foi gravíssimo, eu não conseguia ficar em pé, então tive que ficar internada", conta ela no vídeo.

Além dela, a estudante Maria Eduarda Fonseca, 20, também experimentou o medicamento. Durante um mês, ela perdeu 8 kg em seu peso corporal —com 1,72 m de altura, ela chegou a pesar 46 kg. No entanto, ao interromper o uso, acabava recuperando o peso perdido e entrando em um ciclo recorrente de perda e ganho de peso. "Eu tomava e parava. Devo ter tomado umas três vezes por um mês. O problema do Ozempic é que você passa muito mal. Atrapalha sua semana", disse.

Além dos efeitos colaterais, neste ano, ela sentiu uma dor muito forte no estômago e foi ao hospital. "Não conseguia parar em pé. Eu estava com pancreatite. Obviamente o Ozempic teve uma parte nisso, com bebida alcoólica junto, um outro remédio que eu tomei. Eu tomava três latinhas de Coca zero por dia."

É que não é para a gente, entendeu? É para quem tem diabetes. Eu sofri, tive que ficar internada. Não compensa. Você tem uma amiguinha que toma, ela só não te conta. É um assunto meio tabu, as meninas têm vergonha de falar. Lara Akel, em vídeo publicado no TikTok

O que é o Ozempic?

Remédio que tem como princípio ativo a semaglutida. É produzido pela farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk.

Faz parte de um grupo de medicações consideradas revolucionárias para tratar o diabetes tipo 2 e a obesidade —apesar de o uso para esta última ainda não estar liberado no Brasil.

Ele é uma caneta, de aplicação semanal na pele, disponível em três doses: 0,25 mg, 0,50 mg e 1 mg.

Como o Ozempic funciona?

A semaglutida simula a ação do GLP-1, hormônio produzido no intestino que regula a glicemia (nível de açúcar no sangue) e as respostas da saciedade.

O que acontece no corpo? A substância liberada na corrente sanguínea é metabolizada por enzimas (peptidases) capazes de quebrar proteínas ou peptídeos e, depois, eliminada por via renal, principalmente pela urina.

Ozempic tem relação com pancreatite?

O endocrinologista Daniel Bratan diz que a inflamação acusada no pâncreas, a principal causa de pancreatite, ocorre quando há a obstrução do ducto pancreático por presença de cálculos, pedras, que podem migrar da vesícula. Segundo ele, já foi mostrado que os medicamentos análogos do GLP-1 (Ozempic e Saxenda) podem induzir a formação de cálculos na vesícula, contribuindo para o aumento da incidência de pancreatite. "Mas são eventos muito raros", diz.

Em relação a ter a parede do estômago queimada, Bratan explica que o Ozempic não apresenta esse tipo de reação, mas que devido à falta de apetite e às horas em jejum, pode ocorrer um aumento da produção do ácido do estômago, causando uma irritação.

Ozempic pode ser prescrito para emagrecimento estético?

Por mais que não exista restrição em prescrever o Ozempic para fins estéticos, associações médicas e o próprio laboratório desencorajam esse uso:

A Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica) e a SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) divulgaram um comunicado conjunto no final de março.

O documento das associações diz que o uso indiscriminado aumenta o estigma do tratamento entre quem tem indicação médica ao remédio, além de "expor pessoas sem necessidade de uso aos riscos".

A Novo Nordisk afirma que o Ozempic precisa de prescrição médica e deve ser usado apenas para o diabetes tipo 2 (a sua indicação de bula).

É visível que algumas pessoas que não possuem obesidade fazem uso para perder alguns 'quilinhos' indesejados para fins estéticos, e esse é o grande perigo. Rejane Belchior, endocrinologista

Quais os efeitos colaterais do Ozempic?

As principais queixas são gastrointestinais:

• Náuseas acompanhadas ou não por vômitos;
• Diarreia ou constipação;
• Dor abdominal e gases;
• Como a pessoa come menos, é normal ter fadiga e tonturas.

Reações incomuns são:

• Pulso acelerado;
• Alergias (erupções cutâneas);
• Cálculo biliar;
• Depressão;
• Hematomas pela injeção;
• Lesão nos vasos sanguíneos da retina (retinopatia diabética);
• Problemas nos rins.

Conforme emagrece, a pessoa pode ter sinais clássicos da perda de peso, como a flacidez (é o caso do rosto de Ozempic, relatado por algumas pessoas que usaram o remédio).

Tem riscos de tomar semaglutida sem orientação médica?

Sim. O rótulo da medicação indica a necessidade de prescrição médica. Sem orientação, a pessoa pode errar as doses, além de sofrer com mais efeitos colaterais.

Quem faz o uso estético sem indicação também pode perder massa magra e mascarar transtornos de imagem e/ou alimentares.

O uso concomitante do Ozempic com bebidas alcoólicas ou com medicações pode levar a problemas mais graves, então é necessário seguir orientações médicas.

Infelizmente, esse tipo de medicamento pode ser comprado sem receita médica no Brasil. Ainda assim, mesmo quando recomendado, é fundamental que haja acompanhamento médico. Depositar no Ozempic essa ansiedade por emagrecimento sem seguir orientações médicas é uma decisão passível de riscos. José Marcelo Natividade, endocrinologista

Fontes: Rejane Belchior, endocrinologista da Rede OTO, Hub Kora no Ceará; José Marcelo Natividade, formado pela Faculdade Bahiana de Medicina e Saúde Pública, com especialização e pós-graduação em endocrinologia e metabologia pelo HCFMUSP, pós-graduação em nutrologia pela Abran; Daniel Bratan, endocrinologista com especialização em terapia intensiva pela AMIB, especialização em nutrologia pela Abran, pós-graduação em fisiologia e metabolismo e em medicina do esporte e exercício pelo Instituto Pacileo de ensino.