Com nanismo, ela faz CrossFit e levanta 100 kg, o dobro do próprio peso
A influenciadora Vithória Papel, 30, descobriu que tinha nanismo aos 15 anos. Quando era mais nova, como forma de proteção, a mãe dizia apenas que ela "seria a menor da turma", mas Vithória sabia que tinha algo diferente em relação às amigas.
O tempo foi passando e só na adolescência ela entendeu que tinha uma condição rara chamada de acondroplasia, um tipo de nanismo que impede o crescimento normal dos ossos longos, principalmente do fêmur (osso da coxa) e úmero (osso do braço).
Quando descobri o nome, acondroplasia, joguei no Google e vi tudo. Gerou um baque muito forte na questão da aceitação. Imaginava que tinha algo, mas não isso. Vithória Papel
De Bebedouro, interior de São Paulo, Vithória é a primeira na família com o diagnóstico, que foi realizado ainda durante a gravidez da mãe —algo que Vithória só compreendeu quando ficou mais velha. "Para minha família era algo novo e desconhecido, mas não tive problema nenhum", conta.
Quando ficou mais velha, na época da faculdade, as coisas foram ficando mais complicadas. Para ela, qualquer olhar estava relacionado com o seu tamanho.
"Tudo isso foi me fazendo muito mal e, logo depois, vivi uma decepção amorosa", lembra.
A fuga até a aceitação
Nesta época, Vithória começou a "descontar" os problemas em exercícios físicos. A influenciadora tem uma irmã que é personal trainer e, por isso, sempre teve hábito de praticar atividade física. Antes, era mais focada na musculação e, depois, começou a correr mais —principalmente maratonas.
Entre 2013 e 2014, o empenho com as dietas e nas corridas fizeram com que a influenciadora perdesse 20 kg —sendo que tem 1,33 metro e pesa 49 kg hoje em dia.
Foi quando desenvolveu a anorexia, transtorno caracterizado por longos períodos de jejum e uma obsessão pela magreza.
Não comia quase nada e cheguei a pesar 29 kg. Quis desfocar no problema do meu tamanho e foquei na corrida e atividade física. Foi como uma fuga da minha aceitação. Vithória Papel
Com isso, ela buscou ajuda de nutricionista, psicóloga e psiquiatra. Precisou tomar medicações para lidar com o transtorno e, após mais de 1 ano, conseguiu voltar a comer "normalmente".
O peso também foi voltando ao que era antes, mas Vithória só podia fazer musculação e não correr, por exemplo. Foi neste momento que a influenciadora descobriu o seu atual amor: o CrossFit.
Isso já faz 6 anos e, desde então, nunca mais parou com a prática. O que mais a agrada é a alma competitiva e desafiadora da prática, além da dinâmica: cada dia é um treino diferente.
Fui considerada a primeira mulher com nanismo a fazer CrossFit no Brasil. Hoje vejo muitas pessoas com nanismo que chegam e contam que se viram em mim. Esse é meu 'rolê'. Mostrar que dá para fazer tudo mesmo com as diferenças. Vithória Papel
Ela levanta 100 kg, o dobro do próprio peso
Antes de iniciar a prática, Vithória passou por uma consulta médica para saber se poderia fazer CrossFit —em alguns casos de nanismo, a pessoa pode ter problemas na coluna, por exemplo, e em outras partes do corpo
Aliás, o personal trainer dela precisou fazer algumas adaptações no treino, principalmente por ter uma amplitude menor nos braços e nas pernas —mas nada que altere tanto assim.
Acho importante falar isso porque as pessoas podem me ver fazendo agachamento com 100 kg [nas costas] e achar que podem fazer o mesmo. Mas não é bem assim. Vithória Papel
Quando está em Bebedouro, a influenciadora treina todos os dias, incluindo aulas de dança e musculação sempre que possível. Domingo é o único dia de descanso na rotina de Vithória.
"Me destaco por onde passo"
Assim que descobriu a doença, a influenciadora procurou tratamentos para "curar" a acondroplasia que, na verdade, não existem. Mas hoje em dia, a coisa mudou. Vithória não quer mais mudar quem é.
Se alguém me perguntar se eu queria ser diferente, falaria que não. Sei que é meu diferencial e foi assim que me destaquei na internet, aliado ao CrossFit. Pelo tamanho, me destaco por onde eu passo. Vithória Papel
Vithória faz tanto sucesso com os vídeos no CrossFit que, hoje em dia, acumula 2 milhões de seguidores no Instagram. Recentemente, a influenciadora começou a fazer conteúdo para a plataforma adulta OnlyFans.
CrossFit exige cuidados
O ideal é que qualquer pessoa procure orientação de um profissional antes de iniciar atividade física, principalmente se for uma mais intensa, como é o caso do CrossFit.
A própria modalidade, por ser uma que gera competição, necessita de um certo cuidado, independentemente se a pessoa tem nanismo ou não. Rodrigo Albuquerque, professor de educação física pela Ufal (Universidade Federal de Alagoas)
Portanto, é fundamental buscar um médico para fazer uma avaliação geral e sempre seguir as orientações dos profissionais da academia.
"Levando em consideração as características, os cuidados serão muito individualizados. Sem ter um problema de saúde associado ao nanismo, a pessoa pode até ter mais vantagens em alguns exercícios do CrossFit", diz o professor de educação física.
Algumas pessoas com nanismo podem ter compressão da coluna espinhal, que pode causar dor, além de limitações físicas, que podem alterar a forma de andar.
Mesmo com poucos estudos sobre o tema, Albuquerque explica que, por conta dessas complicações [de quem tem acondroplasia], algumas pessoas chegam a evitar a atividade física, o que aumenta o risco de obesidade.
O exercício físico é extremamente importante para a manutenção da saúde de quem tem nanismo. Além de associar os exercícios aos hormônios de bem-estar, que ajudam a dormir bem também, há um gasto calórico importante. Rodrigo Albuquerque, professor de educação física pela Ufal (Universidade Federal de Alagoas).
Essenciais para o treino
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