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Contrave: remédio para tratar obesidade reduz fome física e emocional

Fausto Fagioli Fonseca

Colaboração para VivaBem

29/06/2023 04h00

O Contrave é um medicamento oral indicado para o tratamento de adultos com obesidade ou sobrepeso. Ele é relativamente novo. Foi aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em 2021, mas chegou às farmácias do Brasil no final de abril deste ano.

O diferencial do remédio, comparado a outros disponíveis até então, é que ele é capaz de agir tanto na fome fisiológica quanto na fome emocional. "Ou seja, pode ajudar pessoas que comem em excesso devido às emoções (estresse, ansiedade ou até alegria), como forma de recompensa", explica a médica endocrinologista e metabologista Giovanna Carpentieri, doutora em obesidade pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Fabricado pela Merck, o Contrave é composto por cloridrato de naltrexona (8 mg) e cloridrato de bupropiona (90 mg). A associação das substâncias age em duas áreas distintas do cérebro: o hipotálamo (onde fica o centro regulador do apetite) e o circuito mesolímbico (sistema de recompensa).

"É mais uma opção terapêutica para a obesidade, que possibilita um tratamento mais individualizado, baseado em como cada pessoa se relaciona com a comida e, principalmente, levando em conta respostas individuais e preferências do paciente", explica Fábio Trujilho, vice-presidente da Abeso (Associação Brasileira de Estudos para Obesidade).

Como funciona o Contrave?

O principal meio de ação do medicamento é favorecer a perda de peso atuando na redução do apetite. Assim, a pessoa ingere menos calorias do que normalmente consumiria sem o tratamento.

Há também uma diminuição da vontade de consumir alimentos ricos em gorduras e açúcares, o que geralmente temos vontade de comer para compensar as emoções.

Isso acontece porque a naltrexona é um antagonista opioide e a bupropiona um inibidor da recaptação neuronal da dopamina.

"Estudos mostram um mecanismo de ação relacionado aos níveis de dopamina e endorfina no cérebro, atuando na redução do número de episódios de 'craving' (ou fissura) por comida, que é o desejo incontrolável de comer um tipo específico de alimento na busca por um prazer imediato", aponta Trujilho.

A serotonina está relacionada ao bem-estar, e a dopamina, à recompensa. "Melhorando essas sensações, a gente consegue, por exemplo, em uma pessoa que tem a compulsão alimentar, com que o organismo entenda que o alimento (saudável) que ela consumiu já foi o suficiente para trazer uma recompensa", completa a nutróloga Liliane Oppermann.

O tratamento com o medicamento deve estar associado a mudanças no estilo de vida, como adoção de uma dieta saudável e, quando indicado, a prática de atividades físicas. "Isso garante no final do tratamento uma maior chance de estabilização do peso perdido e a não recuperação desses quilos", fala Carpentieri.

A médica indica que, dependendo de cada paciente, da sua saúde, da sua fome e da causa da obesidade, é possível associar outras medicações para o tratamento.

"O Contrave funciona muito bem em monoterapia, ou seja, de forma isolada, mas quando associamos outra medicação que age sinergicamente, podemos alcançar resultados ainda melhores", destaca.

Qual a eficácia do Contrave

Nos estudos clínicos para desenvolvimento e aprovação do Contrave, pacientes que seguiram o tratamento por 56 semanas tiveram perda de peso superior a aqueles submetidos à orientação padrão de dieta e exercícios físicos em todas as pesquisas, variando esse percentual de acordo com o trabalho científico.

"Em um dos estudos (chamado de COR-BMOD), em que o medicamento foi associado à mudança intensiva de estilo de vida, houve uma perda média de 11,5% do peso corporal", diz Trujilho, que também é diretor do Departamento de Obesidade da Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia).

Isso quer dizer, por exemplo, que uma pessoa de 100 kg pode chegar a 88,5 kg após um ano de uso da medicação.

"É importante lembrar que vários estudos mostram que pequenas reduções de peso já apresentam benefícios na prevenção e na melhora de muitas doenças associadas à obesidade", acrescenta o médico.

Trujilho também reforça que o tratamento da obesidade deve ser sempre multidisciplinar. Ou seja, contar com acompanhamento médico, nutricional, psiquiátrico e de um profissional de educação física.

Indicações e contraindicações do Contrave

Ele é prescrito em receita controlada branca em duas vias, sendo uma para o paciente e a outra para a farmácia, dificultando assim o uso indiscriminado e sem acompanhamento médico.

O medicamento é indicado para o controle de peso crônico em adultos obesos —com IMC (índice de massa corporal) de 30 kg/m² ou mais;

Também é recomendado para pessoas com excesso de peso (IMC maior que 27 e menor que 30) e com pelo menos uma comorbidade, como hipertensão, diabetes tipo 2 ou dislipidemia.

O Contrave é contraindicado em alguns casos:

Paciente está em estado terminal ou tem alguma condição grave, como hipertensão arterial não controlada, doenças graves no fígado ou no rim e convulsões.

Uso de outros medicamentos que contenham bupropiona ou naltrexona.

Uso contínuo de medicamentos para a dor à base de opioides ou uso de medicamentos para ajudar a parar de tomar opioides, como metadona ou buprenorfina.

Alta ingestão de álcool.

Uso de medicamentos sedativos, benzodiazepínicos ou medicamentos anticonvulsivantes.

Uso de medicamentos inibidores da monoaminoxidase (IMAOs).

Tem ou já teve um transtorno bipolar diagnosticado

Tem ou já teve um transtorno alimentar, como anorexia nervosa ou bulimia.

Tem alergia à naltrexona ou à bupropiona ou a qualquer um dos ingredientes do Contrave.

Mulheres grávidas ou que estão tentando engravidar.

Efeitos colaterais do Contrave

Como todo medicamento, o Contrave pode gerar efeitos colaterais, que tendem a ser mais comuns nos primeiros dias de uso. Os mais comuns são:

  • Dor de cabeça
  • Boca seca
  • Tontura
  • Alteração do hábito intestinal
  • Náusea
  • Insônia
  • Irritabilidade
  • Depressão
  • Ansiedade
  • Agitação
  • Dor muscular ou nas articulações

Fontes: Giovanna Carpentieri, médica endocrinologista e metabologista pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), especialista em clínica médica pela Sociedade Brasileira de Clínica Médica e em endocrinologia pela Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) e doutorada em obesidade e endocrinologia pela Unifesp; Fabio Trujilho, vice-presidente da Abeso e diretor do Departamento de Obesidade da Sbem; Liliane Oppermann, médica nutróloga com título de especialista pela Abran (Associação Brasileira de Nutrologia), pós-graduada em bioquímica médica e estética médica pela Fapes, pós-graduanda em gastronomia funcional pela Famesp, capacitada pela Abran em nutrologia esportiva, diabetes, obesidade infanto-juvenil, acompanhamento pré e pós-cirurgia bariátrica e dietoterapia computadorizada. Idealizadora do método de emagrecimento dieta DC.