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Infarto no sexo: transar afeta o coração, mas quais os riscos, afinal?

Disfunção erétil frequente pode ser sinal de problemas cardíacos - iStock
Disfunção erétil frequente pode ser sinal de problemas cardíacos Imagem: iStock

Colunista do UOL

29/06/2023 11h02

A atriz Paula Burlamaqui afimou que Paulo Ubiratan, que foi diretor de novelas da Globo, pode ter morrido em decorrência de um infarto durante o sexo. "Fiquei tão triste quando ele faleceu. Mas dizem que ele morreu transando, não sei se isso é verdade, me falaram que ele morreu transando com uma gata. Teve uma morte boa", disse Paula em entrevista ao podcast Papagaio Falante.

No caso de Ubiratan, não há confirmação de que essa foi mesmo a causa da morte. Mas isso pode mesmo acontecer: o risco de sofrer um infarto do miocárdio durante a relação sexual chega a ser três vezes maior do que em outras situações com gasto energético similar. Visto como uma forma de esforço físico, o sexo se classifica na categoria de intensidade leve a moderada e geralmente de curta duração.

Sintomas cardiovasculares durante o sexo, porém, raramente ocorrem em pacientes que não apresentam sinais similares em exames, conforme explica o colunista de VivaBem Paulo Chaccur:

O que acontece no coração durante o sexo

Quando transamos, há um aumento temporário do trabalho do coração, com consequentes alterações na pressão arterial e na frequência cardíaca —e até uma possível sensação de taquicardia. A respiração tende a acelerar, a musculatura fica mais rígida e gastamos mais calorias.

Além disso, há liberação de hormônios pelo corpo. Após o orgasmo, o corpo solta, por exemplo, ocitocina e endorfina, que promovem este estado. As substâncias ajudam, ainda, a diminuir o nível de ansiedade, a reduzir e aliviar o estresse e até a melhorar a qualidade do sono, fatores de risco relevantes para a saúde cardiovascular.

Depois deste ápice, a pressão volta ao nível normal, a respiração acalma e o coração retorna ao ritmo dos batimentos regulares. Há um relaxamento das artérias, o que melhora o fluxo sanguíneo. Alguns trabalhos científicos apontam que, ao atingir o orgasmo, há resposta e até uma melhora na imunidade —nos deixando mais resistentes a infecções e inflamações.

Sexo x atividade física

O aumento dos batimentos durante o sexo funciona como um exercício cardiovascular, que protege o músculo cardíaco de problemas, como o AVC (acidente vascular cerebral) e o mal súbito, além de ajudar a preservar as artérias.

No entanto, para tal efeito, a recomendação é de 30 minutos de exercícios, pelo menos cinco vezes por semana. E precisamos considerar que grande parte das pessoas não faz sexo com essa duração e frequência. Então, podemos pensar em somar a prática sexual a uma atividade esportiva, como corrida, caminhada ou pedalada, por exemplo.

Disfunção erétil e problemas cardíacos

A ereção está intimamente relacionada ao sistema cardiovascular e ocorre quando o tecido erétil relaxa, aumentando o fluxo sanguíneo, um mecanismo controlado por nosso sistema nervoso. A ereção depende do fluxo de sangue no pênis —portanto, alterações que dificultem a circulação sanguínea na região podem causar disfunção erétil.

A circulação do sangue é a principal função do coração, ou seja, a ereção é um processo vascular e depende do bom funcionamento do órgão.

Por isso, a principal relação entre a impotência sexual e as doenças cardiovasculares está no fato de ambas compartilharem os mesmos fatores de risco, como diabetes, obesidade, hipertensão, níveis elevados de colesterol e triglicérides, tabagismo, sedentarismo, estresse e aterosclerose.

Diante desses fatores, a circulação do sangue pode ser comprometida, elevando a chance de disfunção erétil e de doenças do coração, com consequências que vão desde o surgimento da doença arterial coronariana até a ocorrência de um infarto.

A disfunção erétil, aliás, costuma dar seus sinais antes dos problemas cardíacos. Algumas pesquisas evidenciam que ela pode se manifestar até cinco anos antes de uma complicação no coração. Por isso, quando há a ocorrência de impotência sexual com frequência, a recomendação é investigar a saúde cardiológica, uma vez que este pode ser também um indicador de obstrução de outras artérias do corpo.

No caso das mulheres

Para as mulheres, além dos benefícios gerais já abordados aqui, o sexo tende a minimizar os sintomas da menopausa e da TPM, melhorando a qualidade de vida e a saúde de forma geral. Isso ocorre em decorrência de hormônios liberados durante o ato, entre eles a serotonina e a adrenalina.

Para elas, as alterações afetam o fluxo sanguíneo necessário para a excitação e lubrificação vaginal. Além disso, pressão alta, diabetes e depressão também podem interferir no desejo e na resposta sexual —assim como na saúde do coração.

O impacto das doenças cardiovasculares na vida sexual

O fato é que as doenças do coração interferem direta e indiretamente na atividade sexual e por diferentes razões. A primeira se dá logo após o diagnóstico de um problema: alguns pacientes passam a apresentar um quadro de ansiedade, medo da morte ou de complicações e até enfrentar certas restrições no que diz respeito ao esforço e atividade física.

A segunda está relacionada à incidência de sintomas cardíacos, como angina (dor no peito), fadiga, exaustão e falta de ar. Há ainda uma terceira por conta do uso de certos medicamentos capazes de produzir efeitos adversos e que prejudicam a performance sexual, causando disfunção erétil e perda da libido.

De forma geral, o sexo é seguro para a maioria das pessoas com fatores de risco e doenças cardiovasculares. No entanto, é fundamental a análise criteriosa de um especialista. O retorno das atividades após um diagnóstico ou evento cardíaco deve ser orientado e monitorado.