Topo

Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Cremes podem ser a solução para varizes? Entenda como eles agem

iStock
Imagem: iStock

Janaína Silva

Colaboração para VivaBem

30/06/2023 04h00

Os cremes são a solução divulgada em anúncios na TV e nas redes sociais para o fim das varizes. Porém, será que é possível desaparecer com veias alongadas, dilatadas e tortuosas sob a pele, principalmente, nos membros inferiores, como prometem?

"Tais propagandas são criminosas, fabricam resultados falsos e depoimentos fraudulentos para ludibriar a população", opina Aline Lamaita, cirurgiã vascular, membro do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e do Hospital São Luiz, todos em São Paulo, membro da SBACV (Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular) e da SBLMC (Sociedade Brasileira de Laser em Medicina e Cirurgia).

Isso porque esses produtos divulgam casos de antes e depois enganosos, já que o que é apresentado como antes teria indicação cirúrgica.

Não caia em falsas promessas

As varizes e vasinhos são estruturas que ficam na camada da pele ou logo abaixo, na camada de gordura, e nenhuma substância aplicada em formato de creme tem a capacidade de chegar até onde os vasos estão e causar sua destruição. Aline Lamaita, cirurgiã vascular

Varizes - iStock - iStock
Imagem: iStock

De acordo com Ana Paula Meski, dermatologista, membro da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) e SBCD (Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatologica), diretora do Master Injector Academy e médica colaboradora do ambulatório de cosmiatria do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), a solução tópica pode ser usada para aliviar os sintomas, mas não a doença em si.

"É importante que as pessoas tenham essa informação para não criar expectativas impossíveis de serem alcançadas. O creme faz?parte do tratamento, mas não o substitui", explica Meski.

Essas versões destinadas aos cuidados das pernas de pessoas com varizes auxiliam na hidratação, no alívio dos sintomas, como sensação de peso, cansaço e inchaço quando associados a massagens, por exemplo.

Agem na microcirculação e no controle de sintomas e algumas complicações. "São indicados também após as intervenções cirúrgicas ou não", esclarece Cristino.

"As substâncias contidas nesses cremes apresentam efeito protetor do endotélio capilar [revestimento interno dos vasos] melhorando a capacidade do fluxo sanguíneo. Obtêm-se, assim, melhora do fluxo capilar. No caso de insuficiência venosa crônica, ocorre diminuição da adesão de leucócitos [células que protegem o organismo], que danifica as paredes capilares e causa inflamações. Há também remissão dos edemas [inchaços] e do processo inflamatório, reduzindo a retenção de água", detalha Meski.

"Eventualmente, alguns têm substâncias de causam uma vasoconstrição temporária de vasos —melhorando o aspecto por determinado período—, mas consiste em um 'efeito cinderela' [passageiro] e não é configurado como real tratamento", afirma a cirurgiã vascular.

O que são varizes?

As varizes atingem 38% da população geral brasileira —30% dos homens e 45% das mulheres—, segundo a SBACV. Elas fazem parte de uma doença venosa crônica e progressiva que causa dores e cansaço nas pernas, além de questões estéticas. Embora a doença não tenha cura tem controle e tratamento. A condição exige especialistas e avaliação detalhada de cada caso.

Características das varizes

Varizes são vasos venosos - iStock - iStock
Imagem: iStock

As varizes podem ser primárias, quando não há uma doença de base associada, ou secundárias, quando são oriundas de outro problema, como uma trombose prévia.

Elas são classificadas também conforme o tamanho das veias:

  • Acima de 3 mm de diâmetro são as varizes propriamente ditas.
  • Entre 1 mm e 3 mm são denominadas reticulares.
  • Menores que 1 mm, de coloração azulada, arroxeada ou avermelhada, são as telangiectasias, popularmente conhecidas como vasinhos e que causam grande desconforto estético.

Os estágios mais iniciais são representados pelas telangiectasias e, nos mais avançados, há alterações da pele com escurecimento e até o surgimento de úlceras, que são feridas vasculares.

Entre as complicações, estão a varicorragia, que consiste no sangramento de uma veia varicosa, e a tromboflebite, que é a formação de um coágulo no interior das veias.

"As primárias são um problema com forte componente hereditário", informa Mateus A. Borges Cristino, cirurgião vascular, membro titular e diretor de publicações da SBACV.

A prevalência ocorre em mulheres, a partir dos 40 anos, devido a fatores hormonais. "As manifestações começam após a primeira menstruação, se agravam a cada gestação e durante o período de climatério e menopausa. A idade também influencia e a doença tende a piorar na terceira idade por fragilidade da parede dos vasos associada a perda de bomba muscular", lista Lamaita.

Já os homens, em uma proporção menor, apresentam varizes mais calibrosas, associadas a veias safenas doentes. Apesar de serem manifestações mais robustas, segundo a cirurgiã vascular, devido à falta da complicação hormonal e da musculatura ser mais desenvolvida, há menos queixas de inchaços e dor.

Fatores de risco gerais

  • Obesidade
  • Sedentarismo
  • Número de gestações
  • Uso de medicamentos hormonais como contraceptivos
  • Posição ao trabalhar: longos períodos de pé ou sentado, sem se movimentar

Tratamento com técnicas menos invasivas

Se antes as cirurgias eram mais comuns, hoje é possível tratá-las por meio de técnicas menos invasivas, como o laser, escleroterapia com espuma (injeção de uma substância com a consistência de uma espuma para secá-las) e a escleroterapia líquida.

Além disso, os recursos dependem do tipo de veia, localização e calibre.

"As varizes são tratadas de dentro para fora, ou seja, das veias mais complexas para as superficiais. Cuidar dos vasinhos sem lidar com as veias mais internas é como tentar secar gelo, não resolve; é preciso contemplar a veia nutridora de onde surgiu", enfatiza Lamaita.

Medidas preventivas e para redução dos sintomas

  • Mudanças de hábitos de vida;
  • Evitar tabagismo;
  • Alimentação saudável;
  • Controle do peso;
  • Atividade física;
  • Fortalecimento da musculatura das panturrilhas;
  • Uso de meias de compressão elástica.