Por causa de pizza, ela descobriu tumor no pâncreas e síndrome rara
Maria Regina Chaves, 33, influencer e mineira, levou um susto após sentir fortes dores abdominais. Depois de comer uma pizza, ela sofreu com muitas dores na região do abdome e foi ao médico.
De início, os especialistas acreditaram que o problema seria uma pedra na vesícula. No entanto, ao fazer exames, descobriu que estava com um tumor no pâncreas. Em poucos dias, passou por uma cirurgia de alto risco e não tinha um bom prognóstico.
O tumor era maligno e, devido a complexidade do câncer, recomendaram fazer um exame genético mais aprofundado, descobrindo uma síndrome rara, que fez com que ela e sua família mudassem drasticamente de vida. Abaixo, ela conta sua história:
"Sentia uma sensação de empanzinamento, falta de apetite e como eu tinha acabado de ter um bebê, não levei os sintomas a sério.
Uma noite comi pizza e tive muita, mas muita dor abdominal. Fui ao hospital e os médicos suspeitaram que era pedra na vesícula.
Fiz o ultrassom abdominal e o médico viu que eu estava com um tumor de sete centímetros no pâncreas. Em 28 dias já havia aumentado três centímetros de tamanho. Cresceu rápido.
Depois desse exame, fui para Belo Horizonte, fiz uma biópsia e o resultado mostrou que era tumor leiomiossarcoma. Era considerado raro e pelo tamanho também não ser tão comum, além de eu ser jovem, o médico já indicou a cirurgia. Isso tudo foi há seis meses.
A chance de sobreviver era baixa, principalmente por ser um tumor muito grande e que tinha se alojado no pâncreas. O médico me falou que seria necessário fazer a cirurgia e eu fui tranquila, só pensava no meu filho.
Durante o procedimento cirúrgico, foram retirados pâncreas, baço, vesícula, duodeno e fiz a reconstrução da veia mesentérica. Após o procedimento, automaticamente virei diabética.
Na época, o médico falou que a cirurgia era de alta complexidade e, ao final, que o nível de risco de 0 a 10 foi 14. O prognóstico não era bom.
Descoberta da síndrome
Por causa da raridade e da complexidade do tumor, os médicos me aconselharam fazer um exame de painel genético. Mas não havia muitas pessoas na minha família que haviam tido câncer. Somente uma tia que faleceu faz muitos anos.
Foi constatado uma alteração no gene TP 53 e fui diagnosticada com síndrome de Li-Fraumeni. Acredito que herdei da minha mãe, mas ela não desenvolveu nenhum tipo de câncer.
Sou a mais nova dos meus irmãos, e nem eles nem minha mãe tiveram algo. A tia que faleceu de câncer era irmã da minha mãe. O que os médicos me falaram é que a pessoa pode ter a síndrome, mas nunca desenvolver um câncer.
Mesmo tendo um tumor bem agressivo, não precisei fazer radioterapia. Os médicos disseram que eu faria uma quimioterapia preventiva, mas que nesse caso só teria 30% de eficácia. Os especialistas avaliaram os riscos, constataram que seria difícil e traria mais efeitos colaterais do que benefícios.
Agora, faço controle periódico, exames preventivos, mudei toda minha alimentação, não me exponho a agentes cancerígenos, raio-X e também faço atividade física.
Teste no filho e familiares
Minha rotina mudou repentinamente. Amamentava e tive que fazer um desmame muito precoce e meu filho sentiu também. Vivia fazendo exames, indo para cidade e tive que colocá-lo na creche.
Também pretendia ter outros filhos e, diante do risco, mudei de ideia, já que existe 50% de probabilidade de passar o gene para eles. Também preciso testar meu filho, mas não sei quando vou fazer isso.
Minha família vai fazer todos os testes e avaliar os resultados. Vou precisar ter um acompanhamento profundo também. Mas ainda não estou preparada psicologicamente para testar meu filho, pois sei que será um choque bem grande.
Como trabalho como digital influencer e a minha cidade é pequena, muita gente ficou comovida e orou por mim.
Nunca sei se ao dormir e acordar com uma dor de cabeça, por exemplo, pode ser algo natural ou um novo câncer.
Eu tenho até medo de planejar o futuro e, por enquanto, só quero ver meu filho crescer.
O que é a síndrome de Li-Fraumeni?
Causado pelo gene TP 53, é uma síndrome de câncer hereditária autossômica dominante. Ela pode se manifestar entre 1 em cada 10 mil pessoas e pode passar para aproximadamente 50% dos filhos, de geração para geração.
É muito importante o diagnóstico precoce, pois a partir de um caso, já é possível descobrir se uma família tem risco aumentado, podendo chegar a 70% de chance de câncer durante a vida.
Existem alguns tumores que são mais frequentes na infância, outros na adolescência e idade adulta.
Nas crianças, o tumor adrenal, cerebral, leucemia e sarcomas (câncer em ossos e tecidos) são mais comuns.
Em adolescentes, é muito comum o tumor na tireoide, além de câncer de mama em mulheres adultas. Porém, também podem aparecer em outras regiões do organismo.
Diferentemente de algumas síndromes, esses tumores podem acontecer por repetição e de forma múltipla, chamado de recidiva.
Existe uma recomendação para mulheres fazerem a mastectomia profilática como forma de reduzir risco, já que 70% podem ter câncer de mama aos 25 anos de idade. Contudo, muitas vezes, a pessoa pode ter a síndrome e nunca manifestar nenhum sintoma.
No caso de Maria Regina, ela sofreu com um tumor no retroperitônio, que é justamente onde está localizado o pâncreas. Esses tumores podem invadir veias, nervos e são muito agressivos, dificultando o acesso e tratamento quando não são diagnosticados de forma precoce. Por isso é importante a aderência a exames de prevenção e diagnóstico de tumores ainda pequenos.
Na síndrome, o TP 53 causa resistência a quimioterapia e radioterapia e é um gene no qual a radiação pode, inclusive, ocasionar outros tumores. Por isso, no caso de Maria Regina, também não foi indicado esse tipo de tratamento.
A síndrome de Li-Fraumeni tem uma relevância muito grande no país por causa de uma variante que possivelmente veio da Europa anos atrás.
Ela tem uma alta taxa de prevalência na população brasileira por causa da TP53 P.R337H, encontrada em 1 a cada 300 pessoas das regiões Sul e Sudeste. Dessa forma, são necessárias políticas públicas de saúde para detectar precocemente a doença.
Por último, é necessário ter um acompanhamento multidisciplinar com médicos oncogeneticistas, psicólogos, nutricionistas e sempre exames periódicos, além de aconselhamento genético para todos familiares.
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