Plasma do sangue faz mesmo bem à pele, como diz Anitta? Saiba os riscos
Anitta compartilhou com os seguidores os detalhes de um procedimento estético em que aplica o próprio sangue no rosto. No Brasil, a técnica, chamada de PRP (Plasma Rico em Plaquetas), não é regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina ou pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
A cantora contou que viajou para Aventura, cidade ao lado de Miami, nos Estados Unidos, para realizar o tratamento, com o objetivo de "ficar com o rosto de milhões". Especialistas ouvidos pelo VivaBem, contudo, alertam para a falta de estudos que comprovem a eficácia do procedimento, popularmente conhecido como "lifting de vampiro".
O que é PRP?
O procedimento utiliza o sangue da própria pessoa em uma espécie de "autotransfusão". Primeiro, o sangue é retirado e armazenado em um tubete, que apresenta componentes para "ativar as plaquetas".
Em seguida, o conteúdo é levado para uma máquina específica, que separa os glóbulos vermelhos dos brancos, além do plasma rico em plaquetas do que é pobre no componente. Por último, o plasma rico em plaquetas é injetado de volta no paciente.
O PRP é considerado rico em fatores de crescimento fibrinogênio, uma glicoproteína que participa da cicatrização da pele. "Na prática, o procedimento simula o processo de estimulação de colágeno e reparação tecidual feito no próprio organismo", resume Leonardo Caetano, cirurgião plástico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
O uso do plasma em formulações tem sido estudado principalmente para tratamentos contra calvície e rejuvenescimento da pele.
No entanto, as evidências científicas produzidas até o momento são consideradas insuficientes para a sua utilização na prática dermatológica.
Em relação ao estímulo de colágeno e melhora de linhas finas, não existe evidência científica contundente e robusta que suporte o uso do PRP. Inclusive, os trabalhos já feitos são conflitantes e não mostraram nenhuma melhora quando a gente aplicou ou não aplicou o tratamento para a melhora das rugas ou lifting facial. Então, a gente considera que o PRP é um procedimento pobre pra fazer estímulo de colágeno. Gabriel Lazzeri Cortez, dermatologista pesquisador da Unifesp e membro da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia)
Tratamento é considerado experimental no Brasil. O PRP somente pode ser utilizado dentro de protocolos de pesquisas aprovados, que são feitos em universidades, e não para fins estéticos, como no caso de Anitta. Por aqui, o paciente é voluntário de um teste e, portanto, não pode arcar com nenhum custo, como explica nota no site da SBD.
Por que uso do procedimento é controverso?
Embora as doses de plasma administradas sejam processadas para detectar a presença de agentes infecciosos, o risco de transmissão bacteriana ainda existe. Esse é um dos motivos que justifica a proibição da prática no Brasil, segundo o dermatologista e pesquisador da Unifesp Gabriel Cortez.
"Do ponto de vista de legislação de hemoderivados, o Brasil possui uma legislação muito competente para fazer todo o processamento de sangue, e existe uma preocupação de que se começar a fazer o uso indevido desses derivados do sangue, a gente possa ter um aumento do número de infecções tanto de pele quanto sistêmicas", diz o médico, que também é membro da SBD.
Segundo a dermatologista Natália Venturelli, também existem controvérsias sobre o armazenamento e manipulação do plasma. "Alguns estudos falam que o plasma dura apenas minutos, outros que o plasma dura mais tempo, porém, quando armazenado em temperaturas bem baixas, com 4ºC", explica. "Como ainda temos muita falta de padronização nesses estudos, a eficácia ainda não é comprovada e não sabemos o que é realmente eficaz e seguro."
Chefe do serviço de Dermatologia do Hospital São Vicente de Paulo (RJ), Eduardo Mastrangelo Falcão reforça que, apesar de existirem evidências científicas sobre o uso da formulação, os dados são, na maioria das vezes, de baixa ou moderada qualidade.
A maioria dos artigos sobre o assunto foi publicada em periódicos não consagrados no meio científico e a produção de pesquisas sobre o assunto também não é estimulada, diz Leonardo Caetano, cirurgião plástico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
"Um dos motivos pode ser que o procedimento traz muito pouco ou nenhum benefício para a indústria farmacêutica, porque todo o material é retirado do paciente e aplicado no paciente, então o custo mercadológico é muito baixo", analisa o médico, acrescentando que analisar a eficácia da técnica também é mais difícil porque o resultado depende da resposta imunológica de cada paciente e da qualidade do sangue coletado.
Em nota publicada em março deste ano, a SBD afirmou que "é de suma importância que apenas tratamentos reconhecidos pelas entidades oficiais de especialidade sejam aplicados em pacientes, garantindo a ética, segurança e qualidade aos pacientes no Brasil". Os especialistas consultados pela reportagem reforçam que existem tecnologias aprovadas e em uso no país cuja eficácia no rejuvenescimento da pele já foi comprovada, incluindo bioestimuladores de colágeno e lasers.
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