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Alergias em crianças: quais os efeitos para o aprendizado e como detectar?

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Imagem: Unsplash

Colaboração para VivaBem

06/07/2023 04h00

As alergias são um problema de saúde comum entre crianças, e seus impactos vão além do desconforto.

Os sintomas alérgicos, como coceira e manchas na pele, podem afetar negativamente o dia a dia dos pequenos —incluindo a forma como se comportam na sala de aula, e, por consequência, o desempenho escolar.

De acordo com Janaira Ferreira, alergologista do Hospital Infantil Albert Sabin, em Fortaleza, no Ceará, as alergias mais comuns em crianças são as alimentares, as de pele —principalmente a dermatite atópica— e as respiratórias, que incluem rinite alérgica e asma.

"Cada uma dessas doenças têm um impacto importante na qualidade de vida das crianças e pode secundariamente impactar o aprendizado."

Os pediatras Alexandre Nikolay e Thayse Borba, do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, apontam que os sintomas incômodos como espirros, lacrimejamento, tosse, congestão nasal, coceira ou desconforto gastrointestinal, dificultam a concentração em aula.

"Essas crises alérgicas levam muitas vezes a criança a faltar às aulas, podendo ocasionar ainda, quando não tratadas, sonolência, fadiga e irritabilidade", responderam, em conjunto, a VivaBem.

Alergias respiratórias

Criança, asma - iStock - iStock
Imagem: iStock

Entre os quadros que as vias aéreas e o sistema respiratório são afetados estão, principalmente, a rinite alérgica, a rinoconjuntivite alérgica e a asma.

"Quando esses pacientes estão com o quadro alérgico descompensado, eles têm um sono inadequado, são pacientes que têm sono agitado, acordam diversas vezes à noite, muitas vezes por conta da obstrução nasal ou crises de tosse —sinais comuns desses quadros", aponta a médica do Hospital Albert Sabin.

No dia seguinte, a qualidade do aprendizado muito provavelmente será afetada, complementa a especialista, já que é uma criança que vai estar sonolenta e que não vai conseguir prestar atenção nas aulas e participar do mesmo jeito.

"Algumas crianças também podem evitar brincadeiras de correr ou mais dinâmicas, porque tem falta de ar, ficando mais excluídas dos outros coleguinhas", indica Nikolay.

Dermatite atópica

Outra alergia que pode causar consequências semelhantes para o rendimento dos pequenos em sala de aula é a dermatite atópica.

Trata-se de uma condição crônica da pele comum em crianças que causa erupções vermelhas, coceira intensa e pele seca. Os sintomas podem ser agravados por alérgenos e fatores ambientais.

Pelo prurido intenso, a criança tem dificuldade de pegar no sono e pode despertar durante à noite. As manchas vermelhas também podem causar incompreensão de colegas na escola, por vezes levando a episódios de bullying.

Alergia alimentar

Entre as crianças, os principais alimentos que causam alergia são leite, ovo, trigo e soja. E aí o grande impacto em relação ao aprendizado é que, muitas vezes, elas se sentem diferentes das demais na sala. E isso pode deixá-las com um comportamento mais retraído.

"Às vezes, apresentam dificuldade em interagir e conversar com os outros colegas, de tirar dúvidas, principalmente na fase da adolescência, em que estão querendo imitar o grupo, seguir o mesmo comportamento dos demais. A depender de como lida com a alergia, pode causar um distanciamento social que vai deixando a escola menos interessante, e se tornando um ambiente de frustração", explica Janaina Ferreira.

Diagnóstico precoce é essencial para minimizar efeitos negativos

Criança espirrando, assoar o nariz, resfriado - PeopleImages/iStock - PeopleImages/iStock
Imagem: PeopleImages/iStock

O diagnóstico das alergias em crianças é principalmente clínico, o que significa que o médico escutará as queixas da família e o histórico de saúde do paciente, procurando por detalhes que indiquem um diagnóstico e por identificar quais fatores desencadeiam crises alérgicas.

Alguns exames complementares também podem ser pedidos pela equipe médica.

Entre eles:

O exame de detecção de IGE específica para o alérgeno (vai detectar ácaros da poeira, epitélios de animais, fungo, entre outros).

Teste cutâneo de leitura imediata, para avaliar a reação ao contato com determinados alimentos.

Espirometria, um teste de sopro para avaliar asma, geralmente feito em crianças a partir dos 7 anos de idade.

"O exame físico também é importante, examinar a pele, o nariz, o olho, a escuta do pulmão. Às vezes, observar as fotos que os pacientes trazem para ver os sintomas que eles manifestam logo após o contato com o alimento é importante", indica Ferreira.

Os pediatras do Hospital Santa Lúcia apontam que o diagnóstico precoce e preciso é a chave do sucesso para uma boa qualidade de vida e, por consequência, um melhor desempenho escolar das crianças.

"Com o diagnóstico certo, podemos evitar que a criança entre em contato com o alérgeno que desencadeia sua alergia. Hoje em dia, dispomos de terapias eficazes que vão desde o controle ambiental até o uso de imunoterapias. Nesse espectro de tratamento teremos ainda os anti-histamínicos, inibidores de leucotrienos e corticosteroides."

Alergias podem ser curadas?

Em geral, o que há disponível para amenizar alergias são tratamentos e controle ambiental.

Mas às vezes o sistema imunológico surpreende. "Alguns pacientes bem alérgicos quando eram menores podem, com o passar do tempo, curar a alergia espontaneamente, pois o sistema imunológico vai resolvendo suas dificuldades", diz Bruno Spadoni, clínico geral e professor da Escola de Medicina e Ciências da Vida da PUC-PR.

"A gente vê muito isso em alergia alimentar: crianças com 2 ou 3 anos de vida manifestam alergia a leite, ovo e trigo, mas resolve com o passar da idade. Nem sempre é tão rápido, às vezes entra na fase adolescente, mas a gente imagina que a maior parte das crianças resolve a alergia nos primeiros anos de vida", conclui o professor.

Abordagem multidisciplinar pode ajudar no manejo das alergias e melhorar desempenho escolar

A escola pode ajudar no diagnóstico e no manejo dos quadros alérgicos.

É indicado que professores fiquem atentos às crianças que cochilam durante a aula ou perdem atenção com muita facilidade. É interessante conversar com os pais para saber se eles estão dormindo bem em casa.

Durante a atividade física, alérgicos também dão sinais claros de quadros respiratórios, como tosse e cansaço excessivo.

O sinal de alerta também deve ser ligado para crianças que têm lesões de pele recorrentes e que coçam muito a pele durante a aula, às vezes dificultando realmente a concentração no conteúdo que está sendo aplicado.

A médica aponta que, em sua prática clínica, percebe a importância de um diálogo com a escola principalmente com os pacientes com dermatite atópica, que têm série de restrições.

"Às vezes, eles não conseguem usar aquela calça comprida da escola, que é um tecido muito grosso, áspero e que abafa muito a pele. Isso é uma parceria que a escola tem que ter, porque muitas vezes algumas regras vão precisar de adaptações para que esses pacientes com alergias, principalmente mais graves, consigam se inserir na rotina da escola", complementa.