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Ela teve trigêmeos após ter gêmeos duas vezes e ainda tratou câncer grávida

Jaqueline Monteiro Alves, 30, descobriu que estava grávida durante um tratamento contra o câncer - Arquivo pessoal
Jaqueline Monteiro Alves, 30, descobriu que estava grávida durante um tratamento contra o câncer Imagem: Arquivo pessoal

De VivaBem, em São Paulo

12/07/2023 04h00Atualizada em 12/07/2023 14h57

Jaqueline Monteiro Alves, 30, foi surpreendida durante um tratamento de câncer ao descobrir que estava grávida. Moradora de Castilho (SP), ela se deslocava quase diariamente a Araçatuba, a 126 km da cidade natal, para as intervenções médicas. Em uma dessas consultas, ela, que já era mãe de dois casais de gêmeos, descobriu que daria à luz trigêmeos.

Derriane, Miguel, e Benício nasceram prematuros e passaram os primeiros dias de vida na UTI da Santa Casa de Araçatuba. Hoje, já estão em casa com a família, e Jaqueline aguarda para retomar aos tratamentos contra o câncer. Ao VivaBem, ela conta que viu a vida mudar de repente e que, após dar à luz, enxergou um novo propósito para a vida.

"Minha primeira gravidez foi a das duas meninas, que hoje têm 10 anos. Foi tudo tranquilo, levei a gestação até o final e o parto não teve problemas. Depois, vieram dois meninos, que hoje têm 5 anos. Também foi uma gestação normal e pari quando eles já tinham 9 meses.

Não planejava ter mais filhos, até que descobri no ano passado que estava gestando trigêmeos havia cinco meses — enquanto fazia um tratamento contra o câncer.

Descobri o câncer em novembro de 2021. Na época, trabalhava no serviço público da cidade e percebi que tinha surgido um pequeno caroço no meu seio. Ele era bem visível e começou a me incomodar. Sentia muita dor e percebi que estava inflamando e aumentando de tamanho. Por isso, procurei um médico.

Quando cheguei à clínica, o médico disse: 'Vou fazer um exame em você, mas eu já sei o que é'. Tinha outros planos tanto para mim quanto para a minha família. Queria começar o processo para ter a habilitação para dirigir, mas nada deu certo. Depois dos exames, o médico disse que eu estava com câncer de mama.

Comecei a fazer o tratamento e foi um período bem intenso. Tive de parar de trabalhar e não fazia mais nada. Fiquei muito desanimada, muito mesmo. Meu marido sempre me apoiou.

Chegava em casa e, muitas vezes, não tinha ânimo para nada. Estava bem para baixo mesmo. Ele me incentivava a não desistir. Tinha hora que eu falava o quão cansada estava, que o tratamento me fazia sofrer, e ele vinha e dava um ânimo para prosseguir.

Meus filhos também foram muito importantes nesse período. Eles viam que eu estava sofrendo e diziam: 'Mamãe, estou do seu lado. Eu te amo, vou te ajudar, não fica triste'. Eles sempre conversavam comigo, perguntando se eu precisava de alguma coisa.

Terminei as quimioterapias em setembro do ano passado e já estava pronta para dar início às radioterapias e depois tirar a mama. Comecei a tomar um remédio de uso contínuo e era uma medicação muito forte.

O médico me explicou que em cada paciente dava um efeito diferente. Tive náuseas, muitas dores no estômago. Mas era tão forte que decidi falar com o médico sobre isso. Achava que era por causa da medicação. Aí ele passou outro remédio e melhorou.

Passaram-se quatro meses e, quando chegou fevereiro, eu notei que minha barriga estava muito grande. Ela tinha crescido do nada. Comecei a ficar com medo. Eu estava sem menstruar há um tempo, já que o remédio interfere no ciclo da mulher. Então senti de fazer um teste de gravidez — que deu positivo.

No outro dia, o pessoal de onde eu me tratava me telefonou para eu marcar a cirurgia [para o câncer de mama]. Então tive de dar a notícia [da gravidez]. Eles não acreditaram e disseram para fazer um novo teste, porque poderia ter interferência do medicamento.

Fiz um ultrassom e, na mesma semana, ao pegar os resultados, vimos que eu estava gestando dois bebês. Um era menino, e o outro não dava para saber ainda.

Mostrei os exames para o médico e ele disse que era impossível isso ter acontecido. Ele disse que era para eu refazer as sessões de quimioterapia senão não aguentaria a gestação. Foi aí que desabei. Pensei: 'Meu Deus! De novo não!' E ele disse que não tinha jeito, senão estaria arriscando a minha vida.

Voltei e comecei a fazer as sessões. Ele disse que eu poderia ficar tranquila que aquilo não faria mal para os bebês. Mas eram viagens cansativas, ainda mais com a barriga enorme. Eu já estava cansada. Quando terminei, estava com 29 semanas.

Fiz outro ultrassom e a médica disse: 'Estou vendo três cabecinhas'. Falei para ela que não, eram dois, e que eu só queria saber o sexo do outro bebê.

Mas não: tinha três crianças. Eram duas meninas e um menino. Fiquei surpresa e me questionando se aguentaria. Já não estava com saúde. Fiquei com medo.

filhos - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Benício, Miguel e Derriane nasceram prematuros, mas já estão em casa e com boa saúde
Imagem: Arquivo pessoal

Fui encaminhada para a Santa Casa de Araçatuba e fiquei internada para avaliação médica por três dias. Graças a Deus deu tudo certo. Falaram que eu daria à luz na 33ª semana. Foi difícil para mim porque eu estava realmente cansada, não conseguia ficar de pé. Só deitava. Minha barriga estava muito grande, pesada. Tinha noites que não dormia direito. Era um cansaço que eu não sabia de onde vinha.

'Ouvi o choro e desabei'

Quando completei as 33 semanas, os bebês nasceram. Foi um parto tranquilo e muito emocionante. Estava com medo de alguma coisa acontecer, mas deu tudo certo. Na hora em que ouvi o choro das crianças, desabei. Não teve jeito. Fiquei muito emocionada, comecei a chorar também. Veio um alívio muito grande porque o meu maior medo era a hora do parto.

Fiquei internada durante três dias, e os bebês, cinco, na UTI. Quando eles saíram de lá, vieram para casa e, desde então, tenho sentido que é como um presente que ganhei de Deus. Estava numa fase muito desanimada, para baixo, não sabia o que aconteceria comigo e estava sofrendo, mas essas crianças estão dando muita alegria e estou me sentindo muito bem.

Agora, meu plano é me cuidar mais. Tenho mais responsabilidade. Quero ter saúde para cuidar deles. Tenho bastante coisa para realizar nessa vida ainda. E vou retomar meu desejo de tirar a habilitação, até porque agora tem mais gente em casa."

Gestação incomum

Fabio Alexandrino Veloso, oncologista clínico e coordenador do centro de tratamento oncológico da Santa Casa de Araçatuba, explica que desenvolver uma gestação em meio a um tratamento de câncer é algo incomum.

Segundo ele, que atendeu o caso de Jaqueline, a quimioterapia interfere na produção das células sexuais e também há uma diminuição na produção hormonal, o que reduziria a chance de gravidez.

O tratamento do câncer diminui os níveis hormonais na mulher e pode causar também uma baixa produção dos óvulos. Então isso interfere muito para que a paciente permaneça fértil.
Fabio Alexandrino Veloso

Apesar de incomum, ainda é possível que as mulheres em tratamento contra o câncer engravidem. Nesses casos, o tratamento continua, com alguns cuidados adicionais.

O médico afirma que, no primeiro trimestre da gestação, é preciso evitar alguns tipos de tratamentos, pois eles podem causar má formação fetal. Além disso, é contraindicada a amamentação durante o tratamento.

Há também de analisar as drogas que vão ser usadas porque algumas delas são seguras apenas após o primeiro trimestre da gestação
Fabio Alexandrino Veloso

Já a gestação trigemelar — na qual três embriões são desenvolvidos simultaneamente — é mais comum em pessoas que já tiveram gestações gemelares antes, como foi o caso de Jaqueline.

Todos os casais aptos a ter filhos estão sujeitos a ter uma gestação gemelar. Seja isso naturalmente ou por meio de fertilização in vitro. Existem alguns fatores de risco que aumentam a chance, como uma história de gestação gemelar na família da mulher, uma gestante com idade avançada, com mais de 40 anos, ações no ovário, como tratamentos hormonais, indução de ovulação e técnica de reprodução assistida
Henrique Abrão, médico assistente do Departamento de Ginecologia da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo