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Caso em shopping: racismo causa mesmos sintomas de estresse pós-traumático

Colaboração para o VivaBem

12/07/2023 16h05

A Polícia Civil de São Paulo investiga um caso de racismo que aconteceu no sábado (8) em um restaurante dentro do shopping Open Mall The Square, na Granja Viana, bairro nobre de Cotia (Grande São Paulo). Uma mulher branca foi flagrada pelas câmeras de seguranças enquanto apontava para duas irmãs e uma amiga negras e imitava um macaco.

De acordo com Lucas Veiga, psicólogo e colunista do VivaBem, sofrer racismo causa nas vítimas o mesmo impacto do transtorno do estresse pós-traumático, o TEPT.

"Em termos de efeitos psíquicos, a violência racial se equipara ao estresse pós-traumático. Os sintomas são insônia, irritabilidade, dificuldade de concentração, oscilações de humor, tendência a um humor mais deprimido", diz.

Mas enquanto um TEPT causado por um acidente de carro, por exemplo, tem um único episódio engatilhador de sintomas psíquicos, o racismo é uma constante.

Quando a gente fala de racismo, a pessoa está com efeitos do TEPT, mas o episódio de racismo não para de acontecer, como é o caso do Vini Jr., que sofreu dezenas de situações de racismo em campo. Isso produz ansiedade. Lucas Veiga, psicólogo e colunista do VivaBem

'O racista tem fantasia de que é superior'

Segundo Veiga, o racismo no Brasil tem sua origem na colonização, no sistema escravocrata. "É uma história que durou quase 400 anos e que nós não vivemos no Brasil políticas de reparação econômica, social suficientes para lidar com esse problema. A memória, os resquícios do período da escravidão ainda são muito latentes. A gente vê isso nas estatísticas, nos índices sociais em que a população negra se encontra", diz.

O psicólogo afirma que comportamentos racistas ainda estão muito atrelados a pessoas brancas que repetem e tentam reiterar um lugar de inferioridade das pessoas negras, e fazem isso de maneira violenta. "Fazem isso numa tentativa de preservar o seu lugar de sujeito universal, o seu lugar como a referência do que é humano, e que portanto tudo que escapa a sua imagem e semelhança será alvo de violência. Esse mecanismo é próprio da imagem colonial. Ela tem uma fantasia de que ela é superior e tenta reafirmar essa superioridade através de atos criminosos, através da violência racial."

Esse ódio que as pessoas racistas projetam sobre as pessoas negras pode ser introjetado nas próprias vítimas, trazendo questões de saúde mental e um profundo impacto na autoestima.

A pessoa negra passa a desenvolver um auto-ódio, passa a odiar a pele que tem, os traços, porque ter a pele que tenho e os traços que tenho me coloca em situações de vulnerabilidade, da iminência de sofrer violência simplesmente por ser quem eu sou. Lucas Veiga, psicólogo e colunista do VivaBem