Como superar o medo de avião e o que fazer para não sofrer durante o voo
Pegar um avião pode ser um problema para quem morre de medo de voar. O medo está relacionado à percepção de um potencial perigo ou risco a nossa existência. Mas com estratégias e dicas certas, há quem consiga superar esse desconforto e fazer viagens mais agradáveis.
Foi o caso da carioca e criadora de conteúdo Elizabeth Werneck, 40, que por muitos anos sofria muito quando tinha que voar, mas depois que procurou tratamento conseguiu amenizar o incômodo. "Antes eu ficava tonta, passava muito nervoso, meu coração acelerava", diz.
Ela conta que desde criança sempre gostou de viajar e não tinha problema nenhum em entrar em um avião. Porém, depois do acidente fatal no voo da Air France que ia do Rio a Paris em 2009, a situação mudou. Elizabeth ficou com medo e acredita que essa queda foi a causadora das crises.
"Eu era assistente social da aeronáutica. Toda vez que eu ia voar, achava que o avião ia cair e entrava em pânico. Achava que o avião ia cair daquele jeito [da Air France], porque eu conhecia pessoas daquele voo. Não eram amigos diretamente, mas eram primos ou irmãos de um conhecido. Foi muito traumatizante para mim", diz.
Mesmo com o problema, ela não deixou de realizar as viagens, mas sempre com muita apreensão. Era comum olhar para o rosto das comissárias, querer chamar atenção e tentar mostrar que estava em pânico. Durante todo o trajeto, ela conta que rezava, ficava aflita e suava muito.
Mesmo lendo sobre segurança de voo, o medo a acompanhava e não era possível controlá-lo. Por causa disso, ela decidiu procurar ajuda.
Tratamento e 72 países
Uma das primeiras iniciativas feitas por Elizabeth foi continuar lendo sobre segurança de voo e também procurar ajuda de um profissional de psicoterapia. Aos poucos, ela foi ganhando mais confiança.
Outro motivo que também a ajudou foi o nascimento de sua filha. Ela decidiu que faria uma viagem em família para Croácia, com a bebê que tinha apenas quatro meses.
Como a criança ainda não era batizada, ela pensou que seria um bom momento para fazer isso, principalmente antes de entrar em uma aeronave. Ela acredita que, a partir dali, também começou o processo de melhora. "Eu falei assim: 'Já pensou se Deus me livre esse avião cai e ela não está batizada?'. Eu sou católica, então acho que isso contou para mim", diz.
A carioca também destaca que não queria passar o medo para filha. E mesmo não querendo falar a palavra cura, ela acredita que não sofre mais com o problema.
"Não sei se a palavra é curada, porque ainda acho desagradável voar, ainda não gosto. Se eu tiver carro, prefiro ir de carro. Mas agora tenho uma filhinha e eu viajo com ela desde os três meses. Não queria que ela soubesse dessa vergonha, porque acho uma vergonha ter medo de voar. Porque não é racional e o voo é algo muito seguro", diz.
Elizabeth também opta por fazer voos noturnos, para que ela e a filha viajem dormindo e não sofram tanto com turbulências e outros imprevistos. Ela percebeu que estava melhor ao se manter calma quando o avião arremeteu em uma de suas viagens, ou passou por fortes turbulências.
Durante um trajeto de Dubai para Singapura, ela notou que a ansiedade no voo estava quase que controlada. "Teve muita turbulência. Eu nem achei que foi muita, mas tinha uma portuguesa do meu lado que estava em pânico gritando e tive que consolar ela, porque meu marido não estava conseguindo. Eu vi que ali estava curada", diz. Até hoje, ela já viajou para 72 países e pretende buscar mais carimbos no passaporte.
'Show do Kiss e terapia me ajudaram a superar o medo de avião'
A publicitária Lizandra de Almeida, 48, acredita que nunca teve um trauma relacionado a avião. No entanto, o medo e pânico diante de diversas viagens que envolviam uma aeronave eram frequentes.
Desde nova, ela se recusava a fazer viagens longas que precisassem desse meio de transporte. Quando completou 15 anos, ganhou dos seus pais uma viagem para Disney e desistiu do presente. "Eu abortei várias vezes a viagem da família com sucesso. Eu não sei o que desencadeou isso, mas o barulho [do avião] me deixava doida", diz.
Depois de diversas viagens canceladas, foi em busca de diversos tipos de tratamentos. "Fiz terapia radiônica e regressão terapêutica. Me ajudou muito", diz.
Mas foi ao ir no show da banda Kiss, que é um dos seus grupos preferidos, que ela viu que seria possível voar de avião e sem medo. Em 2009, quando o grupo veio para o Brasil, ela já fazia tratamento e recebeu a proposta de uma amiga para que elas fossem assistir ao show no Rio de Janeiro —ela mora em São Paulo.
"Foi uma enorme tensão quando levantou voo, mas fiquei bem. Depois, eles voltaram e eu voei por nove estados para ver eles. Nem acreditei. Também pulei de paraquedas em 2012. Foi uma das melhores coisas da minha vida poder voar", relembra.
Como superar o medo de voar?
Como é algo irracional, é necessário que a pessoa faça exercícios diários que permitam uma melhora do quadro de forma constante.
Leia sobre aviões: pode parecer algo simples, mas ler informações de sites confiáveis, assistir a vídeos de especialistas que entendem sobre o assunto fazem com que o medo diminua um pouco. Pesquise sobre o funcionamento dos aviões, como são feitas as manutenções e os protocolos de segurança. Compreender os processos pode eliminar mitos e inseguranças infundadas.Vale lembrar que é mais comum acidentes de carros e motos do que com aeronaves.
Faça visualização positiva: antes mesmo de viajar, meses e semanas antes, coloque imagens na sua cabeça que remetam a aviões, aeroportos e o deslocamento até o local. Feche os olhos e visualize o embarque, a decolagem e o pouso com tranquilidade. Imagine cada detalhe e encha sua mente de pensamentos positivos. Essa prática ajuda a reprogramar o cérebro e reduzir o medo.
Acostume-se aos sons: os ruídos das turbinas podem assustar, mas, na verdade, são normais. Assista a vídeos ou áudios de voos, familiarize-se com os sons e perceba como são corriqueiros.
Respiração e relaxamento: aprenda técnicas de respiração profunda e relaxamento muscular progressivo. Essas práticas simples são ótimas para reduzir a ansiedade e ajudam a manter a calma durante o voo.
Procure um profissional de saúde mental: em casos mais graves, quando a pessoa não consegue obter melhora sozinha, o recomendado é buscar ajuda de um profissional especializado para auxiliar nesses exercícios e seguir com um acompanhamento constante. Em alguns casos, também é recomendado medicação.
Busque terapias complementares: técnicas como acupuntura, meditação e hipnose podem ser úteis para controlar a ansiedade. Considere procurar um profissional que trabalhe com essas terapias para auxiliar.
E durante a viagem, o que fazer?
Depois das dicas para o dia a dia, é importante que a pessoa se sinta confortável e faça algumas medidas dentro do avião. Dessa forma, será mais fácil voar de forma relaxada e não sofrer com sintomas de pânico ou crises de ansiedade.
Escolha os assentos corretamente: prefira sentar próximo às asas, pois são os locais onde você sentirá menos as turbulências. Além disso, sentar-se na janela pode dar uma sensação de controle, ao poder acompanhar a paisagem.
Use roupas confortáveis: esqueça saltos, roupas apertadas, cintos e até ternos. O ideal é embarcar com o máximo de conforto, principalmente se o voo for longo. Uma roupa mais larga e que o deixe mais leve é o ideal nesses tipos de viagens.
Evite cafeína e refeições pesadas: a cafeína e os alimentos muito gordurosos podem aumentar a ansiedade. Opte por comidas leves antes do voo e beba água para se manter hidratado.
Faça uso de distrativos: leve livros e baixe filmes, músicas ou jogos no seu dispositivo eletrônico para se distrair durante o voo. Manter a mente ocupada ajudará a relaxar. Se for possível, viaje com alguém conhecido do seu lado para conversar e se distrair.
Converse com a tripulação: os comissários de bordo estão acostumados a lidar com passageiros ansiosos. Se sentir necessidade, converse com eles e peça suporte durante o voo. Eles estão lá para ajudar.
Respeite os sinais da tripulação: em caso de turbulência, mantenha-se sentado e com os cintos presos, para evitar acidentes e machucados desnecessários. Lembre-se que é comum passar por essas intercorrências e que toda a equipe a bordo está preparada para eventuais emergências.
Fontes: Janete Knapik, psicóloga e professora do curso de psicologia da Universidade Positivo; Aline Oliveira, psicóloga do Hospital Universitário Cajuru (PR); Rafaela Roman de Faria, psicóloga e professora do curso de psicologia da PUCPR.
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