Topo

Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Por que é mais fácil fazer amigos quando criança do que adulto?

Imagem: DisobeyArt/ iStock

Marcelo Testoni

Colaboração para o VivaBem

17/07/2023 04h00

Quando menino, Maicon Jorge, 30, de Atibaia (SP), diz que fazia amigos com muita facilidade, numa velocidade bem diferente da de agora. "Tinha amigos na rua em que morava, na escola, na praia onde passava férias, e hoje, adulto, conto nos dedos quantos amigos de verdade tenho, sem contar na dificuldade para estabelecer vínculos, até pelas redes sociais", conta.

Outro que vive situação parecida é Tancredo Ribeiro, 36, de Londrina (PR). Suas amizades não aumentaram com o passar do tempo, pelo contrário, reduziram-se bastante, a ponto de manter contato e sair apenas com duas amigas de faculdade e três amigos do tempo do colégio. "Mesmo assim não nos vemos com tanta frequência, acho que uma vez a cada dois, três meses", revela.

Tancredo e Maicon não estão sozinhos. Segundo vários estudos científicos recentes, em geral, entre os 25 e 30 anos ocorre um declínio no número de amigos e uma preferência maior em manter contato com pouca gente, isto é, com os que realmente importam. E caso essas poucas relações não sejam mantidas, a tendência é que até o final da vida não sobre nenhum amigo.

O que acontece com os adultos?

São muitos os fatores que impedem as pessoas de fazerem novas amizades e manterem as de longa data à medida que amadurecem. Adultos costumam ter a rotina atarefada e focada em trabalho, cuidados com filhos, casa, parceiros, além de serem mais formais, cautelosos com quem não conhecem e seletivos, no sentido de compreenderem melhor suas preferências.

"As relações na vida adulta também tendem a ser mais rasas, sem tanto aprofundamento, por falta de disposição e paciência", afirma Eduardo Perin, psiquiatra pela Unifesp, acrescentando que o adulto também costuma ser mais desconfiado, por ter muitos acúmulos de experiências e decepções e sofrer maior competitividade no dia a dia.

Tancredo (à esquerda) com os amigos do colégio Imagem: Arquivo pessoal

Tancredo acredita que, com a idade, introversão e inseguranças pessoais, como medo de se arriscar, também aumentaram. Maicon responsabiliza a pandemia de covid-19 pelo afastamento ainda maior entre as pessoas. Sem deixar de mencionar o impacto das redes sociais, que contribuem para a falta de encontros presenciais, conversas sobre intimidades, novidades e até saudades.

Crianças sempre têm a ensinar

Apesar de muitas vezes ser adulto impliqcar vantagens, em se tratando de se aproximar dos outros e com eles construir elos fortes, as crianças saem na frente. Elas demonstram ter muita iniciativa, não estão preocupadas em serem julgadas, em fingir ser o que não são e carregam menos preconceitos. A isso, soma-se empatia, curiosidade e tempo de sobra para interagir.

"Crianças também são mais ingênuas e abertas para aprender, ouvir e trocar o que sabem", informa Leide Batista, psicóloga pela Faculdade Castro Alves, em Salvador (BA). Segundo ela, as amizades na infância tendem a surgir mais por espontaneidade do que por interesses afins, o que acaba tornando o envolvimento emocional mais sincero, íntimo, divertido e duradouro.

Porém, crianças que tenham sido rejeitadas, sofrido rupturas de confiança, principalmente em relação aos cuidadores, ou distanciadas do convívio infantil podem apresentar dificuldade em fazer amigos, sobretudo no futuro. "Não fui muito estimulado pelos meus pais a me relacionar fora da escola, não frequentava a casa de colegas, acho que isso faz diferença", opina Tancredo.

É possível fazer amigos quando adulto

A boa notícia é que, apesar das dificuldades em se aproximar e fazer novos amigos estando adulto, ainda dá tempo, com treino, perseverança e vontade. O suporte de profissionais em saúde mental pode auxiliar o processo e ajudar a superar limitações, traumas e carências, que acabam levando muitos solitários a enrascadas ou a acreditar em tudo o que veem na internet.

Maicon diz que conta nos dedos os amigos de verdade Imagem: Arquivo pessoal

Para Gabriela Luxo, psicóloga pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e da Clínica Diálogo Positivo, em São Paulo (SP), ter milhares de seguidores, comentários e fotos com pessoas nas redes sociais não é sinônimo de se ter amigos de verdade: "Igualmente, curtir publicações não é construir amizade, e acompanhar o que faz quem você segue não é sustentar laços fortes".

Quem almeja uma amizade real, ou retomar alguma antiga, deve entrar em contato, perguntar como o outro está, convidá-lo para sair e, em situações novas, como quando se matricula em um curso, por exemplo, puxar assunto, sorrir mais, agir com gentileza. "Tenho feito mais isso durante meus exercícios no parque, talvez minhas habilidades sociais retornem", comenta Maicon.

A seguir, veja algumas dicas comprovadas pela psicologia para fazer e manter amizades:

Reserve alguns minutos do seu dia para conversar com seus amigos, perguntar como estão.

Nos dias mais atarefados, envie um "bom dia", um meme, uma piada, para se fazer presente.

Se morarem próximo, na volta do trabalho, por exemplo, dê uma passada na casa do amigo.

Procure passatempos e atividades que possam ser realizados em grupos.

Quando estiver com pessoas, dê atenção, converse e evite se distrair com TV, celular, música.

Para fazer amizade com colegas de trabalho e faculdade, estenda a convivência para além desses locais, e opte por programas e assuntos descontraídos.

Não é necessário ter conversas íntimas para fortalecer amizades, você pode ser leve e educado.

Esteja aberto para conhecer, conversar e sair com amigos de amigos, de irmãos ou de namorados.

Está passando por uma fase difícil e se sente vulnerável? Não tenha medo de se abrir com amigos de longa data, pode ser a oportunidade para a relação de vocês se fortificar ainda mais.

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Por que é mais fácil fazer amigos quando criança do que adulto? - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade


Equilíbrio