Os 4 tipos de obesidade e como seria o tratamento ideal para cada um deles
A obesidade é uma doença crônica que causa grande preocupação no mundo todo. No Brasil, a projeção para os próximos 12 anos é alarmante: de acordo com o Atlas Mundial da Obesidade 2023, 41% da população adulta terá a doença.
Especialistas explicam que um tratamento individualizado para cada paciente seria o ideal —mesmo ainda não sendo a realidade de muitos, principalmente devido ao preço de alguns medicamentos e à não disponibilidade na rede pública.
Os 4 tipos de obesidade
A classificação dos fenótipos (conjunto de características de uma pessoa) não é algo ainda utilizado formalmente na prática. A definição foi feita baseada em um estudo da Mayo Clinic (EUA), em 2021, com 450 pessoas dos Estados Unidos.
Em entrevista a VivaBem, Andres Acosta, autor principal do estudo e médico gastroenterologista, explica que os pesquisadores resolveram estudar "tudo sobre os pacientes com obesidade" para chegar à seguinte conclusão:
O que acontece, geralmente, é que, para perder peso, as pessoas tentam dietas, medicações, cirurgias. Algumas têm bons resultados com isso e, outras, não. Ao mesmo tempo, há uma tendência em pensar que todo mundo tem o mesmo tipo de obesidade. Na realidade, há vários tipos de obesidade. Andres Acosta, gastroenterologista da Mayo Clinic e autor do estudo
Com uso de machine learning, tecnologia que permite que algoritmos aprendam padrões e façam previsões, os autores encontraram 4 tipos de obesidade:
1. Cérebro faminto (32%): pessoas que não têm saciedade, que fazem mais refeições —geralmente mais calóricas— e demoram para ficar satisfeitas.
2. Intestino faminto (32%): não necessariamente fazem muitas refeições, mas sentem fome rapidamente após comer algo (dentro de 1 h e 2 h).
3. Fome emocional (21%): pacientes que comem de acordo com as emoções, ou seja, se estão tristes, felizes ou estressados, a pessoa procura sempre a comida como um "refúgio".
4. Metabolismo lento/combustão lenta (21%): o metabolismo não funciona da forma que deveria; o grupo não consegue queimar as calorias correspondentes ao seu peso, altura, idade e gênero.
Os pesquisadores não conseguiram identificar um fenótipo em 15% dos participantes; 25% dos pacientes foram classificados em dois ou mais fenótipos.
Como seria esse tratamento mais individualizado
Depois da definição dos tipos de obesidade, os pacientes foram acompanhados por um ano em um centro de controle de peso.
Os participantes passavam por um plano de dieta específico para o "tipo de obesidade" no qual foram classificados, assim como uma medicação que mais se encaixava no perfil e outras intervenções no estilo de vida.
Na fome emocional, por exemplo, o foco é controlar a alimentação vista como recompensa para o paciente, então a medicação mais indicada é o Contrave —e não um remédio que reduza o apetite.
O plano de dietas é fruto de outro de estudo realizado também pela Mayo Clinic e publicado no Lancet este ano.
Quando os pacientes tinham dois ou mais fenótipos, os pesquisadores selecionaram a medicação com base no tipo mais predominante.
Cérebro faminto
Medicação sugerida: fentermina com topiramato, que não está disponível no Brasil. Aqui, uma substituição seria a sibutramina.
Dieta pouco calórica e rica em fibras, com 1 a 2 refeições por dia.
Não há necessidade de fazer atividade física. É possível atingir 10 mil passos, pelo menos, por dia.
Intestino faminto
Medicação sugerida: liraglutida (Saxenda) ou semaglutida (Wegovy).
Dieta com pouco carboidrato (low carb) com shakes de proteína antes das refeições e lanchinhos saudáveis com proteína. De 3 a 5 refeições por dia.
Não há necessidade de fazer atividade física. É possível atingir 10 mil passos, pelo menos, por dia.
Fome emocional
Medicação sugerida: bupropiona + naltrexona (Contrave).
Dieta low carb, com escolhas alimentares de acordo com a preferência do paciente. Sugestão de 3 refeições ao dia.
Terapia comportamental com sessões semanais.
Metabolismo lento/combustão lenta
Medicação sugerida: os pesquisadores pensaram na fentermina, que não está disponível no Brasil, mas como só pode ser utilizada por três meses nos EUA, eles não consideraram seu uso —já que a obesidade é uma doença crônica.
Dieta low carb, com shake de proteína após o treino, com 3 refeições ao dia.
Plano de exercícios intensos (HIIT + treino de resistência + 10 mil passos por dia).
Sobre a questão da atividade física não estar presente em todas os tipos, Acosta explica que pode ser difícil incluir a prática logo de cara.
É fácil dizer: 'Faça dieta, exercícios e terapia'. Na realidade, às vezes, é difícil os pacientes fazerem tudo. A maioria das pessoas que pratica atividade física, no dia seguinte, sente muita fome. Se você segue dieta e faz exercícios, as duas coisas fazem você sentir fome. Com isso, pode ser difícil se manter nela. Por isso, talvez, a pessoa possa não fazer exercícios no começo do tratamento. Andres Acosta, gastroenterologista da Mayo Clinic e autor do estudo
Importante ressaltar que todo tratamento de obesidade exige acompanhamento de um profissional.
Principais resultados
A abordagem guiada pelo fenótipo foi associada a uma perda de peso 1,75 vez maior após 1 ano.
A perda de peso média no grupo dos fenótipos foi 15,9% em comparação ao grupo que seguiu as orientações "padrões", que teve 9%.
A proporção de pacientes que perderam mais que 10% em 12 meses foi de 79% em comparação com 34% no grupo de tratamento não guiado por fenótipo.
A obesidade é um problema mundial. Todos nós devemos estar juntos nessa. Precisamos de educação em obesidade e, principalmente, fazer com que os pacientes recebam o tratamento adequado para que eles não percam tempo. Andres Acosta, gastroenterologista da Mayo Clinic e autor do estudo
O que dizem os especialistas
Apesar de ter limitações, os médicos consultados explicam que a individualização no tratamento dos pacientes, com definições de fenótipos, é um caminho que realmente pode trazer melhores resultados.
Não é algo fácil de replicar, mas já estamos em treinamento. Desta forma, é possível delinear os tratamentos —e já dá para perceber que é o que mais funciona no consultório. Andressa Heimbecher, endocrinologista e metabologista, membro da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia)
O grande achado do estudo foi a questão de tentar medicamentos mais assertivos, com mais chance de dar certo com o paciente. Até um tempo atrás —e no SUS ainda é assim—, a gente sugeria o que o paciente poderia comprar. Respeitando as contraindicações, o estudo mostrou que terapias mais direcionadas aumentam a chance de o paciente perder peso. Fábio Moura, diretor da SBEM e endocrinologista do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, da Universidade de Pernambuco
Isso poderia ser aplicado na prática em outros países?
Sim, de acordo com Acosta. "O jeito que nós classificamos nossos pacientes com fenótipos é bem complicado, mas temos uma companhia dentro da Mayo Clinic, que possui testes genéticos que qualquer pessoa pode fazer [para descobrir o tipo de obesidade que tem]. Com base nisso, podemos replicar isso em outros lugares e oferecer esse tratamento específico para o fenótipo do paciente", explica.
Para além de questões estéticas, no geral, o tratamento da obesidade envolve:
- Mudanças do estilo de vida: adoção de dieta variada, saudável e hipocalórica, exercícios físicos.
- Medidas de higiene do sono.
- Tratamento de condições psiquiátricas (depressão, ansiedade) e terapia cognitivo comportamental.
- Medicamentos quando necessário e apenas com orientação médica.
- Em algumas situações, a cirurgia bariátrica e outros procedimentos podem ser uma opção.
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