'Dormi na cirurgia': ela conta como reduziu testa com transplante capilar
Élen Pontes Castilheiro, 37, passou quase três décadas da vida escondendo a testa em fotos e usando franja para disfarçar a fronte. O tamanho a incomodava desde a infância e ela chegou a considerar uma cirurgia que, com um corte, avança o couro cabeludo sobre a testa. Mas, por fim, encontrou no transplante capilar uma forma de melhorar a autoestima. A seguir, ela relata o procedimento.
"Minha família tem essa genética de testa grande e desde muito nova, com sete, oito anos, já comecei a ter essa percepção e me incomodar. Na adolescência, comecei primeiro a usar maquiagem mais escura numa parte para não aparecer tanto em fotos.
Depois comecei a usar franja até fazer o transplante, há um ano. Quando eu estava com cabelo preso, eu cortava metade da testa nas fotos para ela não aparecer inteira.
Com a entrada do Instagram na minha vida, comecei a acompanhar vários procedimentos. Pensei em fazer a cirurgia de redução de testa, mas deixava uma cicatriz que eu não queria.
Então, conheci o transplante capilar e comecei a acompanhar para entender como era, como ficava e fui procurar clínicas que faziam. Passei muitos anos procurando, porque o custo era muito alto.
Até que conheci um casal de amigos que já tinha feito e me indicou uma clínica onde deu certo. O procedimento que eles faziam era o que eu queria, e o custo foi bacana, eles ainda parcelavam.
'Dormi na cirurgia'
O procedimento não dói, durou 7 horas, e eu dormi na cirurgia. Como meu cabelo é muito fino, a área doadora foi bem maior do que o espaço que ia receber. Eles pensaram em transplantar 1.800 fios, mas fizeram mais de 2.300.
Eles rasparam a parte de trás da cabeça, tiraram bulbos alternados e implantaram na frente. O cabelo ficou por cima de onde raspou. No começo, o processo é bem feio, parece um monte de larva, depois os fios caem, e você morre de medo achando que não vai dar certo.
Depois, começa a nascer cabelo, ficando bem próximo do natural. Fica um fio mais duro, e a cor fica diferente. Durante o primeiro ano, não pude aplicar química no cabelo, então ficou um tom mais escuro, mas agora já estou clareando.
A primeira semana do pós é bem feio, fica inchado, parecendo larva, uma vermelhidão. Depois começa a descamar, o cabelo cai, fica normal e a partir dos três meses não dá mais para perceber. E como eu tenho franja, ficava por baixo dela.
Crescimento do cabelo
No pós-operatório, usei um xampu específico, minoxidil. Nos primeiros dias, a clínica deu esses produtos, e se eu quisesse continuar, teria uma receita para fazer manipulado, mas não era obrigatório, é só para acelerar o processo de crescimento.
A clínica também me deu três sessões de PRP (plasma rico em plaquetas), durante um ano, para crescer um pouco mais rápido (saiba mais sobre o PRP no fim da reportagem).
Tudo que não dói durante a cirurgia, dói no PRP. Eles tiram nosso sangue, que vai para uma centrífuga, separa o plasma do restante e aplica na região onde fez a cirurgia, com agulha mesmo.
Imagina fazer 300 furinhos. E o plasma é mais grosso, queima um pouquinho, então dói, mas o resultado é ótimo.
Fácil adaptação
Ainda estou num processo. Agora, consigo deixar o cabelo mais solto, mas como ainda está curto, uso franja. O que muda agora é que não tenho mais vergonha. Ainda que ele esteja preso, não tenho problema com isso. E se prendo a franja, não fica mais feio.
Voltei a trabalhar com dois dias. Nos primeiros dias, usava lenço e com uma semana que saiu a vermelhidão, usava franja para cobrir. Fiz a cirurgia no dia 11 de abril, e no dia 23 de abril estava festejando meu aniversário no bar."
Passo a passo do transplante capilar
Diferente do implante, que usa fios sintéticos, o transplante capilar é feito com o próprio cabelo da pessoa. Os folículos são retirados de uma parte mais densa para serem colocados onde há necessidade de preenchimento.
Com isso, o risco de rejeição e complicações é reduzido, uma vez que o material é biologicamente compatível. Além disso, tecnologias permitem recuperar os folículos retirados.
Mas o transplante capilar nem sempre é a primeira opção, comenta Violeta Tortelly, especialista do Departamento de Cabelos e Unhas da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia).
Ela afirma que, diante da alopecia androgenética, o primeiro passo é tratar clinicamente, com medicamentos como minoxidil e finasterida, por exemplo. Caso os fios não sejam recuperados e ainda existam áreas que incomodam, o procedimento pode ser indicado.
O bom é que o tratamento prévio dá densidade ao cabelo, o que faz a intervenção cirúrgica ser menor. A médica cita algumas indicações para o transplante capilar:
- Alopecia androgenética: mais conhecida como calvície, é o tipo mais comum de queda de cabelo e o motivo principal para fazer o transplante. A condição pode afetar tanto homens quanto mulheres, sendo mais prevalente em homens a partir dos 50 anos.
- Tamanho da testa: para mulheres que se incomodam com o tamanho da fronte, uma condição congênita.
- Mulheres com calvície semelhante à dos homens, com entradas frontais mais notórias.
Redução de testa
O transplante capilar é uma alternativa à frontoplastia, cirurgia que avança o couro cabeludo para a frente depois de um corte na margem do cabelo.
No caso de transplantar os fios, os folículos capilares são colocados em uma "área estranha", que naturalmente não tem cabelo.
Aqui, os cuidados prévios e na hora do procedimento devem ser redobrados, pois o risco de machucar e frustrar a expectativa da pessoa existe.
"Se a pessoa tem cabelo fino, ralo, talvez vale incentivar tratamento clínico para engrossar, mas não é obrigatório", diz Tortelly.
Antes da cirurgia
Nas consultas iniciais, o médico deve avaliar o quadro da pessoa e fazer um diagnóstico preciso para, então, recomendar ou não o transplante.
De modo geral, não há tratamento prévio específico, diz a especialista da SBD, porque os fios retirados da área doadora não são afetados pelos hormônios da alopecia. Assim, vão reproduzir o mesmo padrão saudável na nova região.
Mas há clínicas que realizam um preparatório, como a Kings Capilar, onde Élen realizou o procedimento. Por meio de MMP (microinfusão de medicamentos na pele), os pacientes são tratados antes e depois da cirurgia com fatores de crescimento e bloqueadores de DHT, hormônio envolvido na queda capilar.
Se necessário, os profissionais associam vitaminas e terapias a laser para ajudar no crescimento e cicatrização pós-cirúrgica.
O procedimento
- O transplante capilar é considerado um procedimento de baixas complicações clínicas, feito com anestesia local, com ou sem sedação.
- Há riscos como em qualquer cirurgia, mas, neste caso, o risco maior é de uma técnica mal feita, que pode gerar um resultado estético ruim.
- Pela técnica FUE, usada em Élen, os folículos capilares são extraídos um a um, analisados e preparados para serem implantados na nova região. Os que quebram são descartados.
- Cerca de 15 dias depois, os fios transplantados caem e começam a crescer definitivamente depois de dois meses, em média.
- Detalhado, o procedimento é longo, pode levar de cinco a 12 horas, dependendo da extensão da cirurgia.
Depois do procedimento
A técnica certa —ou errada— fará a diferença no pós-cirúrgico. Os principais riscos são de rejeição do próprio fio ou infecção, por isso é importante buscar uma clínica e um profissional médico capacitados para o procedimento.
Finalizado o transplante capilar, a pessoa fica em observação por cerca de uma hora.
Nos três primeiros dias, a indicação é dormir de barriga para cima, um pouco sentado, evitando encostar na parte onde o transplante foi feito e de onde os fios foram retirados.
Nos quatro primeiros dias, a higienização e possíveis curativos podem ser feitos na clínica, com produtos específicos.
A partir do quinto dia, o cabelo pode ser lavado em casa.
No décimo dia, uma nova avaliação é feita.
Caso a pessoa queira, pode aplicar produtos que aceleram o crescimento dos fios, como o minoxidil, mas isso vai acontecer naturalmente mesmo sem eles.
Outras recomendações para o primeiro mês são:
- Não entrar em piscina ou mar no primeiro mês;
- Não expor a região ao sol nos primeiros 30 dias, usar boné, touca ou lenço, por exemplo;
- Não pegar peso. Cada pontinho na cabeça ou testa é como um pequeno ponto cirúrgico que corre o risco de abrir sem os devidos cuidados;
- Não fazer esforço físico nos primeiros 15 dias;
- Não praticar exercício físico pesado;
- Não ficar muito tempo olhando para baixo nos primeiros cincos dias, posição comum ao mexer no celular. Isso evita inchaço;
- Evitar viajar de avião nos primeiros dez dias, pois a pressurização pode comprometer a região afetada.
Tratamento com PRP
No pós-cirúrgico, a pessoa pode escolher associar outras terapias e, além do minoxidil e vitaminas, Elén relatou ter feito tratamento com PRP. No entanto, a prática é considerada "como experimental no tratamento de doenças musculoesqueléticas e outras anunciadas", conforme a resolução 2.128/2015 do CFM (Conselho Federal de Medicina).
De acordo com o documento, o PRP só pode ser usado em testes clínicos, dentro dos protocolos da Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa).
Tortelly, da SBD, comenta que a prática é feita fora do Brasil, tem bons artigos falando que vale a pena associar o PRP a outras terapias, mas outros vão na contramão.
Como ainda não há evidências robustas o suficiente sobre o uso da terapia em diferentes condições de saúde, a aplicação de PRP é proibida no país fora de estudos experimentais.
Fontes: Alberto Magalhães, médico, e Marcelo Batista, consultor, ambos da Kings Capilar; e Violeta Tortelly, especialista do Departamento de Cabelos e Unhas da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia).
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