Magic Paula sobre 28 anos no basquete: 'Joelho foi meu grande adversário'
A prática de exercícios físicos é altamente recomendada para uma vida saudável, funcional e longevidade ativa. Mas quem se envolve com esportes de alto rendimento, para competir, precisa tomar cuidado.
"Esporte é saúde até a página 4", destaca Moisés Cohen, professor titular do Departamento de Ortopedia, Traumatologia e Medicina Esportiva da Unifesp. É que os impactos repetitivos comuns ao futebol, basquete e corrida, por exemplo, tendem a desgastar mais rapidamente as articulações.
O alerta também vale para pessoas não atletas que têm algum problema articular e devem evitar alguns exercícios, conforme indicação médica, para não se prejudicar ainda mais.
No esporte de alto rendimento, os joelhos são os mais afetados, seguidos pelo quadril, e o que se vê são atletas perdendo a capacidade de movimento da região por causa da dor.
A história de Maria Paula Gonçalves da Silva, a Magic Paula, é exemplo disso. Ela chegou a se afastar por um tempo dos jogos devido a torção de tornozelo e luxação de dedo da mão, mas o joelho foi seu maior adversário ao longo dos 28 anos de carreira.
Troféus e lesões
Um dos maiores nomes do basquete feminino brasileiro, Magic Paula começou a jogar profissionalmente aos 10 anos. O período em quadra pela seleção brasileira rendeu títulos no Campeonato Mundial, nos Jogos Olímpicos e nos Jogos Pan-Americanos, além das conquistas pelos clubes.
Para chegar ali, havia muito empenho: dois períodos de treino por dia, de seis horas no total, em que parte dele era dedicado à prevenção de lesões. Fora das quadras, os cuidados com a saúde incluíam sono de qualidade, alimentação saudável e saúde mental.
Mas, inevitavelmente, havia o ônus do esforço físico. Aos 27 anos, ela sofreu uma lesão no ligamento cruzado anterior do joelho direito, que demandou cirurgia e oito meses sem jogar.
"Para mim, era algo de ter de deixar as quadras, mas não foi o que aconteceu", lembra, em conversa com VivaBem. Há cerca de 15 anos, o mesmo joelho voltou a dar sinais de alerta.
Comecei a sentir osso com osso, o joelho endurecido quando fazia atividade e dificuldade de dobrar o joelho. Senti limitando cada vez mais o dia a dia. Magic Paula, ex-jogadora de basquete
Com diagnóstico de artrose, foi preciso, então, entrar no centro cirúrgico novamente, mas, dessa vez, com a ajuda de um robô. A ex-jogadora passou por uma artroplastia de joelho em abril, em que substituiu a articulação prejudicada por uma prótese. Diferente da primeira intervenção, ela tem se recuperado mais rápido.
Moisés Cohen, também médico do Hospital Israelita Albert Einstein, fez o procedimento de Paula e explica. "A prótese, diferente do que se pensa, não é substituir todo o joelho. A gente tira a parte gasta da cartilagem e encaixa uma capa no fêmur e na tíbia, e entre essas estruturas, põe um polietileno de alta densidade."
Cirurgia robótica
Artroplastias de joelho são realizadas há muitos anos, mas o avanço da medicina robótica permite que os médicos operem com mais precisão.
No caso de Paula, foi usada a plataforma robótica ROSA® Knee System, desenvolvida pela Zimmer Biomet, que funciona como um assistente cirúrgico.
Para começar a usar o robô, o cirurgião precisa ser ortopedista e ter experiência com artroplastia total de joelho primária, além de fazer um treinamento com o aparelho.
"O robô não faz nenhum passo para o cirurgião, que continua tendo controle 100% do procedimento. O conhecimento do cirurgião é primordial", explica Gabriela Lima, coordenadora de desenvolvimento de produto da Zimmer Biomet.
Antes da operação, o sistema é alimentado com dados e informações da paciente para que o médico comece a planejar a operação. Por exemplo: exames de raio-X e tomografia são convertidos em imagens 3D para uma melhor visualização do quadro da pessoa.
Durante o procedimento, o robô segue captando informações e, numa tela, mostra tudo ao cirurgião. O especialista define, então, onde serão os cortes, a inclinação necessária, o tamanho da prótese a ser colocada. Se for preciso, ele muda os parâmetros iniciais no meio do caminho.
"O robô junta as informações, o cirurgião define", resume Lima. As vantagens, segundo ela, são a precisão submilimétrica do aparelho, a acurácia e a personalização. Por causa do planejamento prévio, o médico consegue prever como será e terminará a cirurgia, o que dá mais segurança para ele e o paciente.
A proposta da cirurgia robótica também é minimizar o mal-estar que muitas pessoas sentem no longo prazo no pós-operatório. Isso é importante, tendo em vista também que a prótese dura de 12 a 15 anos.
Artrose: quando a cirurgia é necessária
A artrose é resultado do desgaste da cartilagem da articulação. "A cartilagem é muito rica em água e, com o tempo, ela perde essa água, fica menos lisa, menos elástica, até chegar nos ossos", explica Cohen.
O problema é inevitável, pois se trata de um fenômeno natural do corpo humano, e surge por volta dos 60 anos. De modo raro, pessoas mais jovens podem desenvolver o quadro, em especial atletas de alto rendimento.
Cohen explica que o tratamento para artrose deve começar com medicamentos —analgésicos e anti-inflamatórios, por exemplo— e fisioterapia para fortalecimento muscular. O uso de ácido hialurônico dentro da articulação, para lubrificá-la e diminuir a dor, também é uma opção.
"Quando tudo isso é feito e não há resultado desejado, a gente pensa na cirurgia", diz. Nesse caso, avalia-se o grau da artrose.
- Se a pessoa é jovem e o desgaste da articulação é só do lado de dentro, não se indica a prótese, mas um alinhamento ósseo para distribuir melhor a carga e deixar o joelho reto.
- Se é uma pessoa de mais idade ou o desgaste articular é mais amplo, indica-se a prótese.
A indicação da terapia adequada ou da cirurgia leva também em consideração o impacto da artrose na qualidade de vida da pessoa, em atividades básicas como sentar e levantar.
"Chegou um momento que dificultou a minha atividade no dia a dia, de fazer caminhada e aula de ginástica. Achei que era a hora de partir para a prótese, porque não tinha outra solução", diz Magic Paula.
Após a cirurgia, ela conta que sofreu um pouco nos primeiros dias, porque passou um bom tempo da vida andando com o joelho flexionado e teve de se adaptar à nova forma. "Mas depois a evolução foi rápida." Com experiência e disciplina para cuidar do corpo, ela seguiu as recomendações e a recuperação tem sido boa.
Mexer o corpo ainda é importante
Conforme a recuperação avança, Magic Paula volta aos poucos a praticar atividades que buscou após o adeus às quadras. "Hoje eu faço funcional três vezes por semana e bicicleta nos outros dias. Gosto de jogar tênis, e só posso em quadra de saibro, então quero me recuperar para bater uma bolinha quando puder."
Depois de 28 anos de jogos profissionais, ela não queria pensar em esportes logo que parou de competir, mas tinha consciência da importância da atividade física na vida. "Já passei dos 60 e hoje eu busco atividades que me dão prazer."
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