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Como reação alérgica à pimenta pode causar danos neurológicos?

A trancista Thaís Medeiros de Oliveira, de 25 anos, foi internada no dia 17 de fevereiro após cheirar a pimenta - Reprodução/TV Globo
A trancista Thaís Medeiros de Oliveira, de 25 anos, foi internada no dia 17 de fevereiro após cheirar a pimenta Imagem: Reprodução/TV Globo

Colaboração para VivaBem*

02/08/2023 09h01

A trancista Thais Medeiros de Oliveira, jovem de 25 anos que teve uma parada cardiorrespiratória após cheirar pimenta, recebeu alta ontem (31). Ela estava internada desde o dia 17 de fevereiro com um quadro de broncoespasmo grave.

"Eu tive muito medo de trazer ela para casa, mas estava na hora", diz a mãe, Adriana Silva Medeiros. "Minha filha saiu de um jeito e voltou assim, como um neném."

Caso raro

Lesões neurológicas causadas por reações alérgicas são casos considerados raros. No entanto, isso pode acontecer quando a reação é grave e afeta a circulação de oxigênio no cérebro — como foi o caso de Thais.

As reações mais graves e agudas causam um quadro chamado anafilaxia, que pode afetar diferentes órgãos e acontece imediatamente ou algumas horas após o contato com o componente ao qual a pessoa é alérgica.

Em situações em que há uma dificuldade de respirar muito intensa ou até mesmo uma parada cardiorrespiratória, acontece um edema cerebral, ou seja, o cérebro fica sem receber oxigênio e vai inchando. Dependendo do tempo em que a pessoa ficou sem oxigênio, pode haver danos leves, como alteração do nível de consciência, até danos mais graves, como alterações motoras, sensitivas e, em casos mais graves, morte encefálica.

Portanto, a reação alérgica não pode, por si só, causar lesões neurológicas, mas isso pode surgir como um efeito secundário da falta de oxigenação cerebral, que acontece em episódios mais graves.

No caso de Thais, os médicos acham que o contato da jovem com a pimenta foi um gatilho para ela desencadear uma crise de asma grave, fazendo com que a trancista não conseguisse respirar normalmente. O quadro teria levado à baixa circulação de oxigênio para o cérebro e o coração, o que provocou uma parada cardiorrespiratória na jovem.

Porém, na maioria das vezes, as reações alérgicas são leves e se manifestam em locais específicos, como formigamentos na língua ou "bolinhas" avermelhadas na pele.

Crise asmática demanda atenção

A alergia a pimenta é considerada um evento raro, mas pessoas que têm asma, como é o caso de Thais, podem ter reações alérgicas mais graves caso a doença crônica não esteja sob controle.

Segundo os relatos, poucas horas antes de cheirar a pimenta, Thais já tinha tido uma crise asmática. Quando a asma está "descompensada", isto é, fora de controle, o risco de sofrer uma reação anafilática ou um broncoespasmo grave é maior.

Quando a pessoa tem asma e entra em contato com um produto muito forte, seja produto de limpeza, cigarro ou pimenta, como no caso da jovem, acontece um broncoespasmo, ou seja, um fechamento da via aérea, porque a irritação no local é muito grande. Os brônquios já estão inflamados por causa da asma e a situação é agravada.

Orientações

Nenhuma reação deve ser subestimada. Algumas pessoas podem ignorar reações alérgicas leves que já sofreram com algum alimento ou medicamento e voltar a consumi-lo ou cheirá-lo em outra ocasião —o que não é recomendável.

Se você tem histórico de reações anafiláticas, tenha sempre ao alcance das mãos uma dose de adrenalina autoinjetável, que é indicada para o tratamento de situações de emergência.

No caso de pessoas que têm asma, a orientação é manter a doença sob controle. No Brasil, de acordo com o último levantamento do DataSUS, banco de dados do SUS (Sistema Único de Saúde), existem cerca de 20 milhões de brasileiros com asma. A asma não tem cura, mas com o tratamento adequado os sintomas podem melhorar e até mesmo desaparecer ao longo do tempo.

Fontes: Felipe Franco da Graça, neurologista do Vera Cruz Hospital (SP). Alexandra Sayuri Watanabe, médica do Departamento Científico de Anafilaxia da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia).

*Com reportagem publicada em 13/03/2023