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'20 anos de sintomas': ela tem transtorno que parece TPM severa e depressão

Trinny Alarcon, de 30 anos, sofre de transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM). - Arquivo Pessoal
Trinny Alarcon, de 30 anos, sofre de transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM). Imagem: Arquivo Pessoal

Simone Machado

Colaboração para VivaBem, em São José do Rio Preto (SP)

03/08/2023 04h00Atualizada em 03/08/2023 13h25

O período pré-menstrual sempre foi visto como dias de desequilíbrio emocional pela comunicóloga Trinny Alarcon, de 30 anos. Isso porque os dias que antecediam à menstruação eram marcados por impulsividade, irritação e raiva extrema, segundo a jovem. Situação que mudou há quase três anos quando ela descobriu que sofre de transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM).

O processo foi extenso, após quase duas décadas de sintomas e muita autoanálise conseguimos fechar um diagnóstico. Passei anos pesquisando, mapeando o que acontecia comigo, e, principalmente, quando tudo acontecia."

Trinny conta que desde a primeira menstruação, aos 10 anos, percebeu que seu humor e seu comportamento mudavam nos dias que antecediam o ciclo. Ela relata que sentia falta de vontade de fazer as atividades habituais e sentia sua ansiedade em alta, com pensamentos e sentimentos incapacitantes, de medo e pânico. Além de alterações físicas, com muito inchaço, dores nas pernas e o aparecimento de espinhas.

Havia meses tão complicados que me sentia como se fosse outra pessoa, totalmente fora de mim. E, após o fim do período da menstrual, sentia muita culpa, dor e vergonha pelas atitudes que eu tomava. Eu não me entendia e via minhas relações interpessoais e até mesmo profissionais, sendo prejudicadas."

Foi após ter notado esse padrão de comportamento diferente que acontecia próximos aos dias da menstruação que Trinny passou a anotar em um caderno todos os seus ciclos menstruais e o que sentia em cada um deles. Com as informações em mãos, ela buscou ajuda médica para tentar entender melhor seu corpo e seu humor nesses dias.

personagem - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Trinny Alarcon tinha sintomas como irritação e raiva extrema durante o período menstrual
Imagem: Arquivo Pessoal

Compreender os meus ciclos e ter as informações organizadas foi fundamental para me ajudar na busca por ajuda com ginecologistas e psiquiatras, pois não existe um exame que comprove a TDPM, é de certo modo subjetivo e o médico precisa ser um bom diagnosticador, já que acaba sendo muito comum confundir a TDPM com bipolaridade ou borderline." Trinny Alarcon, 30 anos.

Com o diagnóstico, a comunicóloga passou a tratar o transtorno com antidepressivos da classe dos inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), em conjunto com atividade física e alimentação saudável.

" O diagnóstico me deu a oportunidade de buscar tratamento para ter mais qualidade de vida e melhorar as relações interpessoais, uma vez que agora tenho informação sobre o meu transtorno".

Hoje, Trinny fala sobre TDPM em suas redes sociais e conversa com mulheres que também compartilham os mesmo sintomas. "É importante falarmos sobre o assunto e as redes sociais dá essa abertura. Depois que comecei a falar a minha experiência, muita gente passou a enviar perguntas por terem sintomas semelhantes. Quanto mais falarmos, mais vai ajudar no diagnóstico."

Ter com quem contar, com quem conversar, se sentir parte, faz muita diferença. Por causa da TDPM ser ainda uma condição de difícil diagnóstico, é muito comum a sensação de solidão e isolamento diante dos sintomas."

O que é esse transtorno

O Transtorno Disfórico Pré-Menstrual, ou TDPM, é uma forma mais grave da TPM (tensão pré-menstrual) e como o próprio nome já diz, ele atinge mulheres de cinco a sete dias antes da menstruação e pode durar, no máximo, até sete dias depois. Desde o ano passado, o Código Internacional de Doenças (CID) passou a classificar o TDPM como uma enfermidade.

O transtorno atinge cerca de 2% das mulheres e traz prejuízos para a paciente como a diminuição na capacidade de se concentrar e trabalhar, falta de energia, alteração no apetite e falta de vontade de se relacionar com as pessoas, gerando alta irritabilidade e tristeza.

A diferença entre o TDPM e a TPM é que no primeiro os sintomas são mais graves, e é necessário ter pelo menos cinco sintomas, sendo um deles psíquico, como humor deprimido, ansiedade, sensação de forte tensão ou instabilidade afetiva.

Já na TPM, os sintomas são de leves a moderados e o diagnóstico é feito quando a paciente apresenta no máximo quatro sintomas.

"É importante que a mulher anote em um diário seus sintomas e o calendário menstrual, por pelo menos três ciclos, assim temos um bom panorama. Algumas outras condições podem ter sintomas parecidos, como a alteração hormonal do hipotireoidismo e os diagnósticos psiquiátricos de depressão e ansiedade. Mas aí não vão ter essa periodicidade bem demarcada. Nessas condições, os sintomas até podem oscilar com o ciclo menstrual, mas não se resolvem completamente durante o período esperado para a melhora da TPM e do TDPM", detalha Helga Marquesini, ginecologista do Hospital Sírio-Libanês.

Segundo os especialistas, as causas do TDPM ainda não são conclusivas, o que se sabe é que existe uma relação com a alteração hormonal natural que atua ao nível cerebral causando as mudanças emocionais e físicas. Por ter sintomas parecidos, o TDPM pode ser facilmente confundido com uma crise de ansiedade ou de depressão.

"Muitas vezes o diagnóstico é tardio porque os sintomas são semelhantes a outras doenças psiquiátricas, ou porque os sintomas femininos são subjugados pela sociedade. É comum, ao ver uma mulher em estado alterado de humor, dizerem que ela "está na TPM", como se fossemos destinadas a ter esses sintomas e a não procurar tratamento", acrescenta Juliana Schablatura Vera, ginecologista e obstetra da Clínica Parto com Amor.

O diagnóstico do TDPM é clínico e não há a necessidade de realizar exames. E o tratamento, geralmente, é com medicação, variando conforme a necessidade de cada paciente.

"O tratamento medicamentoso passa pelo uso de antidepressivos e tratamento hormonal, para evitar a oscilação natural hormonal do ciclo menstrual, que desencadeia os sintomas", acrescenta Marquesini.

Outras medidas, como psicoterapia, atividade física e mudanças na alimentação também podem ser aliadas no tratamento.

"É importante haver conscientização para que todos entendam que é uma condição que pode gerar grande prejuízo emocional e físico à mulher, e também nos relacionamentos pessoais e no trabalho. E sobretudo para que as mulheres que sofrem com esses sintomas saibam que podem e devem buscar ajuda, pois já têm tratamentos eficazes que vão melhorar muito a qualidade de vida delas", finaliza Marquesini.