Brasileiros usam antidepressivos sem acompanhamento contínuo, sugere estudo
Um a cada seis brasileiros diz que usa remédios para tratar problemas emocionais, comportamentais ou relacionados ao uso de substâncias, de acordo com o "Panorama da Saúde Mental", relatório divulgado ontem (4/8).
A pesquisa, realizada pelo Instituto Cactus, entidade filantrópica com foco em saúde mental, em parceria com a AtlasIntel, empresa de tecnologia especializada em inteligência de dados, mostra que 16,6% dos entrevistados relataram tomar medicações de uso contínuo, como antidepressivos, sendo que a maioria (77%) utiliza esses produtos há mais de um ano.
A primeira edição do levantamento foi realizada de 19 de janeiro a 20 de fevereiro deste ano e entrevistou 2.248 brasileiros de todas as regiões do país, a partir dos 16 anos.
De acordo com o relatório, estes são os grupos que mais relataram usar medicação de uso contínuo para questões de saúde mental:
Mulheres (19% versus 14% entre os homens);
Aqueles que possuem apenas ensino fundamental (24%) e aqueles com renda entre R$5-10 mil (21%);
Pessoas pansexuais (55%), transgênero (40,5%), viúvos (32,8%), não-binárias (30,4%) e os idosos (25%).
Também foi possível observar um aumento da associação entre o uso de medicamentos à medida em que a pessoa experienciou com mais frequência as seguintes situações:
- Bullying;
- Dor crônica;
- Consumo de cigarros;
- Briga com familiares.
Muitas vezes, porém, o uso de medicação parece não estar conectado com um acompanhamento terapêutico contínuo, aponta o levantamento.
A pesquisa não mapeou a automedicação, mas mostrou que, entre os cerca de 19% dos entrevistados que afirmaram terem se consultado com psiquiatra ou psicólogo nos últimos 12 meses, a maioria fez apenas uma ou duas consultas no período (64,4%).
Remédios para tratar problemas de saúde mental só devem ser usados após a prescrição de um psiquiatra, que também deve acompanhar a evolução de cada caso ao longo do tempo, para avaliar se é necessário continuar com a medicação, trocá-la por outra opção ou dar alta ao paciente.
Além disso, a maioria dos profissionais indica combinar o uso da medicação com consultas ao psicólogo. No entanto, segundo a pesquisa, apenas 5% das pessoas afirmaram atualmente fazer psicoterapia.
Os números apontam uma grande discrepância entre consultas isoladas e acompanhamento periódico de saúde mental. Isso poderia ser investigado em estudos futuros para analisar se há alguma explicação relacionada aos elevados custos de terapia no sistema privado, pela indisponibilidade de profissionais nos serviços públicos em todas as regiões ou pela falta de tempo/falta de priorização destes cuidados por parte das pessoas. Panorama da Saúde Mental do 1º semestre de 2023
Quais são as principais preocupações relacionadas à saúde mental?
A principal preocupação dos brasileiros é com a falta de dinheiro: 88% declaram ter ficado preocupados com a situação financeira durante as últimas duas semanas.
Além disso, para 6 em cada 10, essa preocupação tem ocorrido com frequência, o que está associado a resultados de saúde mental inferiores.
Os pesquisadores aplicaram um questionário usado a nível internacional em avaliações de saúde mental e criaram o Índice Instituto Cactus-Atlas de Saúde Mental (iCASM), que analisa aspectos, hábitos e situações que refletem a saúde mental dos brasileiros.
O índice é calculado em uma escala entre 0 e 1.000 pontos (de péssimo a excelente) e representa a média simples dos resultados.
No caso de pessoas que se preocuparam três vezes ou mais com a situação financeira nas últimas duas semanas, o iCASM, por exemplo, foi de 531. Já aqueles que não se preocuparam nenhuma vez com isso tiveram um índice de 805. A média populacional quando o assunto é preocupação com dinheiro é de 635.
"Tais resultados reforçam a importância de políticas públicas e ações que trabalhem questões de trabalho e renda intersetorialmente, como partes fundamentais e integrantes das políticas de saúde mental", diz o relatório.
Quais são os grupos que mais têm problemas de saúde mental no país?
As populações com pontuações mais baixas de saúde mental, segundo o estudo, são:
Mulheres, com iCASM de 600 pontos, 72 pontos abaixo do iCASM para homens e 35 pontos abaixo da média populacional;
Pessoas trans, cujo iCASM foi de 445, 193 pontos abaixo das pessoas cisgênero, e 190 pontos abaixo da média populacional.
Bissexuais e homossexuais apresentaram iCASM de 488 e 576, 147 pontos e 59 pontos, respectivamente, abaixo da média populacional.
Os mais jovens, que são aqueles com pontuações mais baixas de saúde mental, sendo que os jovens até 24 anos apresentaram um iCASM de 534 pontos, 105 pontos abaixo da média entre as faixas etárias, e 101 pontos abaixo da média populacional.
Para os pesquisadores, os dados apontam uma necessidade de priorização e olhar atento para estes públicos na condução de debates e políticas de saúde mental.
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