Lekão tem paralisia cerebral e é fisiculturista: 'Ouvi que ia me machucar'
Diagnosticado com paralisia cerebral aos 2 anos, o influenciador digital Alex de Souza Luz, 26, mais conhecido como Lékão, ouviu que a musculação "não era para ele" quando começou a treinar. Determinado a alcançar seus objetivos, ele seguiu firme no treino, melhorou a saúde, se tornou fisiculturista e já ganhou 17 kg de músculos. Conheça a história dele:
"Enfrentei minha primeira adversidade no dia em que nasci. Minha mãe me deu à luz com oito meses de gestação e faltou oxigênio no meu cérebro durante o parto. Fiquei 14 dias na UTI.
Aos três meses de idade, minha mãe suspeitou que eu tivesse alguma deficiência, pois meu pescoço era mole e caído, não conseguia levantá-lo.
Com 1 aninho comecei a me rastejar no chão, não sentava, não engatinhava nem andava. Na época, não tive nenhum tipo de acompanhamento médico. Morávamos em um sítio no interior da Bahia e não havia hospitais perto de casa.
Quando eu estava com dois anos, uma tia foi nos visitar. Ela percebeu que eu tinha algum problema de saúde e disse que precisávamos nos mudar para São Paulo, para buscar um atendimento especializado. Meus pais não tinham condições financeiras, mas minha tia ofereceu a casa dela, onde ficamos temporariamente.
Minha mãe me levou a um posto de saúde e conseguiu um encaminhamento para o Hospital das Clínicas.
Após alguns exames, fui diagnosticado com paralisia cerebral. O médico explicou que, com o tratamento adequado, eu poderia ter qualidade de vida. Comecei a fazer terapia ocupacional, fisioterapia, fonoaudiologia e acompanhamento com neurologista.
Minha mãe nunca aceitou que eu usasse cadeiras de rodas, ela me levava para os lugares no colo ou nos ombros e dizia que eu ia conseguir andar
Aos 8, comecei a caminhar me apoiando em objetos ou segurando nas pessoas. Aos 10, passei a andar sozinho.
Vivia caindo e com as mãos e joelhos machucados, mas levantava e seguia em frente. Enfrentava as limitações e buscava evoluir a cada dia.
A paixão pelo esporte
Aos 12, um professor de capoeira vizinho de minha tia disse que a modalidade me ajudaria a ter mais força, equilíbrio, coordenação motora, foco e determinação.
A convite dele, fiz uma aula experimental, gostei tanto que pratiquei capoeira por cinco anos. Só parei porque passei a sentir dores no joelho esquerdo. A capoeira trouxe muitos benefícios físicos e mentais —os principais foram melhorar a minha autoestima e me ajudar a perder o medo de fazer as coisas e me machucar.
Depois, fiz natação por um tempo e, aos 19, comecei a praticar musculação, por influência do meu irmão mais novo.
Na época, eu era muito magro, pesava 60 kg, e fiquei animado com a possibilidade de ganhar massa magra e também por começar uma nova atividade física.
No começo, enfrentei dificuldades e preconceito. Passei por algumas situações que davam desânimo, mas segui em frente.
Eu chamava muito a atenção na academia, pois era um rapaz magrelo, só pele e osso, e com paralisia cerebral. Ia fazer os exercícios e me tremia inteiro. Tinha bastante dificuldade para executar os movimentos e todos ficavam me olhando. Uns ficavam quietos, outros falavam: 'Ele vai se machucar', 'O peso vai cair no pé dele', "Aqui não é lugar pra ele'. Eu ouvia e seguia treinando.
Em um ano de musculação, indo para a academia seis vezes por semana, diminuí os tremores e melhorei a coordenação motora e o equilíbrio. Passei a executar melhor não só os exercícios, como também atividades do dia a dia: comer sem derrubar a comida, escovar os dentes, arrumar o cabelo, lavar a louça, caminhar e subir e descer escadas
Nunca imaginei que a musculação ia me beneficiar tanto assim.
Em 2020, criei uma conta no Instagram (@lekaobodybuilder) e passei a compartilhar meus treinos e minha rotina. Um fisiculturista viu um vídeo sobre a minha história e me convidou para treinar com ele um dia.
Após o treino, ele disse que eu tinha potencial para me tornar um fisiculturista e me encorajou a competir. Neste mesmo dia, conheci um outro atleta e treinador, que também me incentivou. Fiquei motivado e decidi tentar.
Em janeiro de 2021, iniciei o treino e a dieta para competir pela primeira vez. Porém, devido ao aumento de casos e mortes provocadas pelo coronavírus, a competição foi cancelada 20 dias antes da data. As academias também fecharam, mas mantive o foco nos exercícios.
Como não tinha equipamentos para fazer musculação em casa, eu treinava em uma escada cerca de uma hora por dia.
Em novembro do mesmo ano fiz a minha estreia no fisiculturismo. Decidi competir na categoria geral de 70 kg —ou seja, junto de pessoas sem deficiência.
Fiquei em último lugar, na 8ª posição. Mas não tinha pretensão de ganhar nada, meu objetivo era conhecer o esporte e provar para mim e para os outros que era capaz.
Depois dessa primeira experiência, competi mais três vezes, em categorias gerais e para pessoas com deficiência.
De alguma forma, todas as competições me trouxeram aprendizados e me deram uma vontade ainda maior de vencer as adversidades dentro e fora do palco.
Atualmente, estou me preparando para um torneio que será realizado em outubro.
Tenho como meta ser campeão na categoria de 80 kg —estou com 77 kg. Também quero um dia disputar o Mr. Olympia (competição realizada nos EUA e considerada o principal evento de fisiculturismo do mundo).
O esporte virou um estilo de vida. Amo o que faço e tenho orgulho de ter chegado onde cheguei.
A paralisia cerebral seria uma ótima desculpa para eu me fazer de coitadinho ou ser acomodado, mas virou minha motivação. Deus me criou com o propósito de ser um vencedor e de mostrar que qualquer pessoa, independentemente de ter ou não deficiência, é capaz de atingir suas metas se tiver esforço, dedicação, disciplina e fé."
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