Qual a eficácia da pílula do dia seguinte? Saiba quando pode falhar
A "pílula do dia seguinte" foi introduzida no Brasil em 1999 com o objetivo de prevenir gestações não planejadas em mulheres que tiveram relações sexuais desprotegidas, quando há falha do método contraceptivo regular (como quando a camisinha rasga ou a mulher esquece de tomar a pílula) ou nos casos de violência sexual. Mas qual a eficácia de fato de tomar essa pílula?
Trata-se de um método bastante seguro (são raros os efeitos adversos severos), que usa uma dose alta de hormônios sintéticos com o objetivo de impedir ou atrasar a ovulação e ainda dificultar a locomoção dos espermatozoides no aparelho reprodutor feminino, evitando a fecundação e a consequente gravidez.
O medicamento é vendido em farmácias sem a necessidade de receita e está disponível gratuitamente no SUS em cartela de um ou dois comprimidos, para serem usados em dose única. No Brasil, o medicamento disponível como "pílula do dia seguinte" é o levonorgestrel de 1,5 mg.
De acordo com pesquisas, a pílula do dia seguinte apresenta boa eficácia principalmente quando administrada nas primeiras 24 horas depois da relação sexual.
Isso é o que mostra um dos grandes estudos sobre o fármaco, publicado pelo The Lancet, que contou com a participação de 1.955 mulheres.
Segundo a análise, a eficácia da pílula do dia seguinte em dose única é de:
- 99,5% de eficácia se usado nas primeiras 12 horas
- 95% entre 13 e 24 horas
- 85% quando consumido entre 25 e 48 horas
- 58%, entre 49 e 72 horas
Portanto, quanto mais perto da relação sexual for usada, maior será seu efeito na prevenção da gravidez, já que um intervalo maior dá mais chances para a ovulação acontecer e o espermatozoide fecundá-lo.
Dados divulgados pelo documento Anticoncepção de Emergência — Perguntas e Respostas para Profissionais de Saúde, do Ministério da Saúde, também colocam que o cálculo de sua efetividade usando o chamado índice de Pearl (ou índice de falha, que calcula o número de gestações por 100 mulheres que utilizam o método no período de um ano) é de cerca de 2%, em média.
E quando esse cálculo considera o número de gestações prevenidas por relação sexual seria entre 75% e 85%, portanto, o medicamento poderia prevenir três de cada quatro gestações decorrentes de uma relação sexual desprotegida.
Quando a pílula do dia seguinte pode falhar?
Ainda que as taxas de falha do uso do levonorgestrel nas primeiras 12 e 24 horas sejam relativamente baixas —de 0,5% e 5%, respectivamente— elas existem e estão relacionadas ao momento do ciclo menstrual. Portanto, podem acontecer quando a mulher teve a relação sexual desprotegida logo antes ou logo após a ovulação.
Outro fator que também parece interferir na eficácia do levonorgestrel, ainda que não haja um consenso no meio científico, é o peso da mulher, uma vez que análises sugerem que mulheres que sofrem com obesidade e apresentam um índice de massa corpórea (IMC) superior a 30 kg/m2 teriam mais chances de engravidar usando a "pílula do dia seguinte" em comparação com mulheres com um IMC considerado normal (18,5 a 24,9 kg/m2).
Uma das revisões de estudos que levanta essa hipótese foi publicada no periódico Contraception e envolveu um total de 6.873 mulheres em quatro ensaios randomizados realizados entre 1993 e 2010. Na análise, ainda que a taxa geral de gravidez tenha sido baixa (1,2%), quando as mulheres foram agrupadas de acordo com o IMC, o percentual subiu para 2% entre as mulheres que apresentavam obesidade.
Mas novos estudos precisariam ser realizados para confirmar essa teoria, uma vez que várias das pesquisas envolvidas tinham uma mostra muito pequena de participantes obesas, o que impossibilitou confirmar com clareza a hipótese de que a eficácia do levonorgestrel diminui nessas mulheres.
Afinal, essa é a pílula mais eficaz?
O levonorgestrel, medicamento amplamente usado em diversos países, demonstra ser mais seguro do que o antigo método Yuzpe, que usava pílulas anticoncepcionais combinadas (com diferentes hormônios, duas vezes ao dia) para agir como contracepção de emergência.
Segundo uma análise publicada pelo periódico Canadian Family Physician, enquanto o método Yuzpe apresentava uma taxa média de prevenção de gravidez de 57%, o levonorgestrel é de 85%. Não à toa, o método Yuzpe caiu em desuso.
Mas alguns países adotam o acetato de ulipristal, um modulador sintético seletivo que também age interferindo com a produção de progesterona.
O fármaco aprovado no Brasil, porém ainda não disponível nas farmácias, demonstra ser tão eficaz quanto o levonorgestrel, mas com a vantagem de atuar por até 5 dias da relação não protegida, principalmente quando tomado até 72 horas depois, segundo um estudo publicado no Journal of Obstetrics & Gynaecology Canada.
Enquanto essa opção não aparece por aqui, vale apostar no levonorgestrel, cuidando para usá-lo o mais próximo possível da relação sexual.
Fontes: Arlete Maria dos Santos Fernandes, professora associada do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp; Claudio Leal, coordenador da Área Assistencial de Ginecologia e Obstetrícia do HC-UFPE, ligado à rede Ebserh; Jefferson Drezett, professor do Departamento de Saúde, Ciclos de Vida e Sociedade da Faculdade de Saúde Pública da USP e professor da disciplina de saúde sexual e reprodutiva e genética populacional da Faculdade de Medicina do ABC; e Luis Bahamondes, professor titular do Departamento de Tocoginecologia da Unicamp. Revisão técnica: Luis Bahamondes.
Referências bibliográficas:
Manual de Anticoncepção - FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia)
Anticoncepção de Emergência — Perguntas e Respostas para Profissionais de Saúde (2014) - Ministério da Saúde
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