Vitamina D: suplementação pode ajudar no tratamento da depressão?
A vitamina D tem um papel fundamental para o funcionamento do nosso corpo. O micronutriente atua na imunidade, no metabolismo e principalmente no fortalecimento dos ossos. Há ainda outra área que vem sendo estudada por cientistas e médicos: o impacto no tratamento da depressão.
Médicos e pesquisadores ainda tentam entender qual a relação entre a falta da vitamina D e a doença. Em relação ao papel da suplementação em pacientes com depressão, não há consenso definitivo e absoluto nos estudos nem entre os especialistas.
O que já se sabe é que existe um papel importante da vitamina D em áreas do cérebro responsáveis pelas emoções e comportamentos, como o sistema límbico. Essas regiões atuam como receptores de vitamina D.
De acordo com estudo feito em animais, a vitamina D também seria responsável por ajudar a regular substâncias como a serotonina, neurotransmissor relacionado ao humor e bem-estar. Ela auxiliaria ainda na modulação do cortisol, hormônio que ajuda a controlar o estresse no corpo.
Outro ponto já bem claro é que a deficiência ou insuficiência de vitamina D não causa depressão —a doença é multifatorial, tem várias causas envolvidas. Uma pessoa com depressão pode ou não ter níveis insuficientes de vitamina D no corpo.
Quais são os índices adequados de vitamina D?
Alguns médicos e estudos falam que a partir de 20 ng/ml já seria adequado. Mas de acordo com Narriane de Holanda, diretora do Departamento de Metabolismo Ósseo e Mineral da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), os valores são:
Valor adequado: a partir de 30 ng/ml
Insuficiência: entre 20 e 30 ng/ml
Deficiência: abaixo de 20 ng/ml
Suplementar vitamina D ajuda no tratamento da depressão?
Qualquer pessoa que tem índices de vitamina D considerados insuficientes tem indicação médica para fazer essa reposição —a pessoa tendo depressão ou não.
A questão é que os estudos que demonstram uma melhora do quadro depressivo após a suplementação foram feitos em pessoas com índices de 20 ng/ml ou abaixo disso, situação na qual a reposição já é mesmo indicada.
"Alguns mostram que a suplementação da vitamina D em pacientes com níveis baixos do nutriente pode causar melhorias adicionais no tratamento da depressão. Mas a grande maioria deles, inclusive metanalises, mostra que não há evidência de que isso traga alguma melhora", diz a endocrinologista.
Além disso, segundo os especialistas, um ponto de observação dos estudos é que cada um utiliza uma forma de medir os níveis de depressão, o que explicaria os resultados diferentes.
Veja o resultado de estudos que não encontraram benefícios na suplementação:
Um deles, publicado no Jama em 2020, acompanhou mais de 18 mil adultos de 50 anos sem sintomas de depressão ao longo de 5 anos. Neste período, não houve diferença entre quem tomou ou não vitamina D em relação ao placebo, ou seja, a suplementação não teve importância significativa na incidência ou na recorrência de quadros depressivos.
Outro estudo do Journal of Psychiatric Research, de 2017, com uma amostra pequena de participantes (33) com bipolaridade, concluiu que as pessoas que suplementaram o nutriente ao longo de 12 semanas também não apresentaram melhoras no humor ou em sintomas de ansiedade.
Veja o resultado de estudos que encontraram benefícios na suplementação:
Um artigo de 2018, publicado no periódico American Journal of Clinical Nutrition, acompanhou 78 idosos com depressão moderada e grave de três clínicas psiquiátricas. Os participantes fizeram reposição da vitamina D por oito semanas. Os níveis do micronutriente no corpo aumentaram (cerca de 20 ng/ml para 40 ng/ml) e, no final, houve melhoras significativas nos sintomas depressivos de quem fez reposição.
Uma revisão de 41 estudos, realizada em 2022 e publicada no periódico Critical Reviews in Food Science and Nutrition, investigou a eficácia da vitamina D na redução dos sintomas depressivos entre adultos. Os resultados revelaram um efeito positivo da vitamina D nos sintomas depressivos.
Quando a gente fala de saúde mental, existem estudos apontando que as pessoas que têm vitamina D baixa apresentam, de fato, quadro depressivos. Com outros transtornos, como a ansiedade, os estudo são mais limitados. Igor Emanuel, psiquiatra da Psi Clinic e ex-coordenador da Universidade Federal do Ceará
No periódico Plos One, um estudo deste ano mostrou que a suplementação de vitamina D foi associada a um risco reduzido de tentativa de suicídio e autoagressão em 6 mil veteranos dos Estados Unidos —especialmente entre os participantes negros.
Já uma revisão sistemática —que analisa diversos estudos—, feita pela Universidade de Cambridge e com mais de 30 mil participantes, concluiu que é consistente a hipótese de que a baixa concentração de vitamina D está associada à depressão. No entanto, os pesquisadores destacam a necessidade de ensaios clínicos randomizados sobre tratamento e prevenção da doença para entender se essa associação é causal.
Temos que lembrar que esses estudos são de observação, ou seja, há toda uma plausibilidade biológica da vitamina D com a depressão, mas isso não comprova uma causa e efeito. A doença envolve diversos fatores como genética e exposição ambiental. Narriane de Holanda, diretora da SBEM e endocrinologista do Hospital Universitário Lauro Wanderley, da Universidade Federal da Paraíba
Há necessidade de níveis mais elevados de vitamina D no tratamento da depressão?
Não. Caso o paciente, com ou sem depressão, tenha níveis de 30 ng/ml ou mais, não há orientação de que essa pessoa aumente os níveis para ter redução nos sintomas. Não há evidências de que níveis acima disso possam trazer benefícios em quadros depressivos.
Em relação à prevenção da doença, a suplementação também não tem respaldo científico. Na revista Scientific American, um artigo deste ano mostrou que os suplementos de vitamina D "provavelmente não vão prevenir doenças mentais". De acordo com o texto, a baixa de vitamina D funcionaria mais como um marcador de doença do que a causa dela, que, como dito anteriormente, é multifatorial.
Em termos de depressão, valores baixos de vitamina D estão associados com maior vulnerabilidade para a depressão. Mas não há nenhuma evidência científica de que valores mais altos do que 30 ng/ml, como 50 ng/ml, garantirão uma 'proteção' maior contra depressão ou que isso repercuta no tratamento. Carlos Cais, psiquiatra e fundador da clínica Elibrê, e ex-professor da Unicamp
Os especialistas reforçam ainda que a vitamina D pode ser tóxica para o corpo quando as doses chegam ou passam de 100 ng/ml. Então, para fazer suplementação de vitamina D, só com orientação médica —além, é claro, de tentar incluir exposição ao sol (que ativa a produção da vitamina D em nosso organismo) e ter um dieta rica no nutriente.
Importância da vitamina D
Permite que o cálcio dos alimentos seja absorvido no intestino em quantidades capazes de manter o regular funcionamento celular, neuromuscular, assim como a saúde dos ossos;
Equilíbrio das defesas do corpo (sistema imunológico);
Controle da pressão arterial;
Proteção contra a formação de tumores;
Inibição de processos inflamatórios;
Metabolismo dos carboidratos (diminuindo o risco de diabetes e doenças metabólicas).
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