Xixi escapou? Incontinência urinária na gravidez é comum, mas tem solução
Glau Gasparetto e Thaís Lopes Aidar
Colaboração para VivaBem
15/08/2023 04h00
A incontinência urinária atinge 40% das gestantes, segundo a Sociedade Brasileira de Urologia. O problema é caracterizado pela perda involuntária da urina, que ocorre quando a musculatura do assoalho pélvico não consegue se contrair para fechar a uretra.
Por que grávidas têm incontinência urinária
Na gravidez, o quadro está associado à alteração no ângulo entre a uretra e a bexiga —conhecido por ângulo uretrovesical. "O crescimento uterino comprime a bexiga e, em alguns casos, reflete nesse ângulo, levando à incontinência urinária", diz o ginecologista e obstetra Geraldo Caldeira, do Hospital e Maternidade Santa Joana.
Duas horas já podem ser o bastante para querer fazer xixi durante a gravidez — antes da gestação, a mulher conseguia ficar de quatro a cinco horas sem urinar. "E, se ela não eliminar, vai começar a ter um processo de contração e pode ter perda urinária", aponta a uroginecologista Lilian Fiorelli, especialista em sexualidade feminina.
Fisioterapia pélvica é aliada
Durante a gestação, há poucas opções de tratamento. A fisioterapia pélvica é a principal delas. "Iniciamos com fortalecimento muscular e ensinamos a mulher onde é que está essa musculatura, pois a maioria delas não tem noção", afirma a fisioterapeuta Malu Freitas, da Clínica Soie Pilates e Fisioterapia.
A maneira correta de contrair e relaxar o assoalho pélvico é outro foco do tratamento. Já na reta final da gravidez, é hora de preparar o períneo para o parto.
Grávidas que estão fazendo repouso não podem fazer a fisioterapia pélvica, principalmente por causa do deslocamento até o consultório. Nesse caso, uma opção é o uso do pessário, um dispositivo com formato de donut e feito de silicone. Ele é colocado na vagina e aperta a uretra, evitando a perda do xixi.
Mudanças no estilo de vida também podem ser úteis. Evite alimentos que são irritativos para a bexiga, como apimentados, refrigerantes, derivados de cafeína, bebidas alcoólicas, embutidos, enlatados e frutas cítricas.
E o pós-parto?
Geralmente, os sintomas desaparecem depois do parto. "O útero volta ao tamanho normal, deixa de comprimir a bexiga e distorcer o ângulo uretrovesical", diz Geraldo Caldeira.
Algumas pacientes que tiveram parto normal ou por fórceps podem ter uma distopia do assoalho pélvico, conhecida por "bexiga caída". Com isso, também há alteração no ângulo uretrovesical, e a mulher pode ter incontinência urinária no pós-parto.
Após o nascimento do bebê há mais alternativas para tratar a condição. Uma delas é a associação de uma técnica chamada eletroestimulação à fisioterapia. "Essa estimulação pode ser feita na perna, na área sacral ou na própria região do assoalho pélvico, melhorando a condução nervosa e fazendo com que a bexiga pare de contrair nos casos da urgência", explica Lilian Fiorelli.
Há outras possibilidades, como medicamentos via oral, laser vaginal e injeções de botox na bexiga. Alguns casos podem exigir a realização da cirurgia de bexiga hiperativa, em que se coloca um marca-passo.
Nem sempre há solução
É incomum, mas o quadro pode se prolongar mesmo após a gestação.
A mulher que sofreu incontinência na gravidez é mais propensa a desenvolvê-la novamente em outra fase na comparação com a paciente que não apresentou a condição. "A predisposição genética ou a ocorrência de alguma lesão dessas estruturas na gestação aumentam as chances do desenvolvimento da incontinência urinária posteriormente", diz Lilian Fiorelli.